100 anos de muita alegria
Os especialistas afirmam: para chegar aos cem anos o segredo é manter uma vida saudável, através de exercícios físicos e uma alimentação balanceada. Mas para dona Clementina Ziane Facchi, que comemora um século de vida neste sábado, dia 1°, a fórmula da longevidade está estampada em forma de um largo sorriso: “o importante é ser feliz”, garante a centenária.
E é sempre com um lindo sorriso, que chama atenção pelos dois dentes de ouro, que Clementina recebe seus sete filhos, 11 netos e seis bisnetos, além de amigos e vizinhas frequentemente em sua casa, localizada no bairro Imigrante. Embora tenha dificuldade de ouvir claramente as palavras, ela gosta de conversar, contar histórias e rezar. Aliás, este último é um hábito que ela mantém desde muito jovem. “Eu oro para todos meus familiares, para os médicos que me cuidam, para as enfermeiras, para os mortos, enfim, rezo pelo menos dois terços inteiros”, garante ela.
Histórias não faltam nestes cem anos de vida. Dona Clementina presenciou a época da ditadura e ainda recorda dos momentos angustiantes daquela época. “Graças a Deus nunca aconteceu nada com minha família. Mas várias vezes os militares passavam por nossa propriedade e pediam comida. Eles chegaram a matar um dos nossos novilhos para fazer um churrasco”, relata Clementina. Natural de Boa Vista do Sul, foi em uma pequena propriedade que ela viveu pelo menos sete décadas de sua vida.
Dona Clementina recorda que muito jovem se apaixonou por um rapaz e que esperou até os “vinte e poucos anos” para casar com ele. No entanto, o pretendente foi embora para Santa Catarina, onde formou família com outra mulher. Por causa desta longa espera, ela “casou tarde”, para os padrões da época. “Conheci meu marido, Justino, com 28 anos e logo casamos”, conta. Desta relação, nasceram Luis, Nair, Maria, Jurema, João, Edi e Iraci. Humildes, o sustento da família era proveniente da venda de leite, milho, feijão, mandioca, galinha, peixe, entre outros, que também eram produzidos para o consumo de toda a família.
Quando o filho mais velho de dona Clementina comemorou 13 anos uma tragédia abalou a família. O marido de Clementina morreu, deixando sob sua responsabilidade a criação e o sustento de sete crianças. “Foram momentos difíceis. Mas deu tudo certo. Nunca faltou nada para eles e todos são muito honestos”, garante. Viúva e relativamente jovem, Clementina optou por nunca mais casar. “Não queria ver meus filhos se misturando com os filhos dos outros”, diz aos risos.
Os olhos que brilham de alegria também se enchem de lágrimas ao lembrar com saudade de pessoas queridas. A vida tão longa a fez se despedir de muitas pessoas. “Todos meus sete irmãos, além de todos os cunhados e cunhadas, e quase todos meus amigos morreram. É muito doloroso ver todos partirem”, relata ela, afirmando que seus irmãos morreram novos, com “80 e poucos anos”.
Vida ativa
Atualmente, dona Clementina conta com uma cuidadora, que ela considera “um amor de pessoa”. Mas a companhia da ajudante só foi necessária no ano passado, quando a idosa sofreu um AVC, que acarretou em algumas limitações físicas no braço direito. “Até os 98 anos ela morava sozinha, fazia comida e até limpava a casa. Mas por causa do derrame ela não conseguiu mais fazer tudo”, conta a filha Edi. Embora enfrente algumas dificuldades na realização de algumas atividades, dona Clementina faz praticamente tudo sozinha: toma banho, se veste, caminha e até tenta ajudar em tarefas domésticas. Nos finais de semana, ela vai visitar os filhos e amigos.
Clementina também conta que não tem restrições na alimentação. “Eu como de tudo um pouco”, conta ela. Embora tomasse “apenas um copo de caipirinha todo o domingo”, dona Clementina não ingere mais nenhum tipo de bebida alcoólica, por causa dos três comprimidos de remédios que toma por dia para controlar a pressão.
Satisfeita com sua trajetória e com a tranquilidade que vive atualmente, é ao lado de pessoas queridas que dona Clementina irá comemorar o seu centenário, na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Na ocasião, os familiares querem agradecer pela alegria de poder contar diariamente com a companhia de quem tem a idade avançada, mas o sorriso e o entusiasmo de uma criança.
Reportagem: Raquel Konrad
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