11 mil endividados em Bento

Prestes a intensificar campanhas para as vendas natalinas, o comércio de Bento Gonçalves ainda enfrenta um grande obstáculo. Ou melhor, 11,3 mil: este é o número de Cadastros de Pessoa Física (CPFs) que estão negativados na cidade em função de dívidas em estabelecimentos locais, de acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). No total, o prejuízo do setor supera R$ 6,9 milhões.

O número total de pendências chega a 22 mil, o que representa uma média de praticamente dois débitos para cada comprador inadimplente. Mas, segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), em 36% dos casos há pelo menos cinco registros em nome de uma mesma pessoa, com atrasos que superam até três anos. As estatísticas consideram apenas as empresas associadas à entidade, o que significa que o cenário global no município pode ser ainda mais grave.

De janeiro a setembro, na comparação com igual período de 2012, houve alta de mais de 10% na lista de maus pagadores da cidade. Em reais, entretanto, o montante mais do que dobrou nesse intervalo. A forma de venda que mais tem gerado inadimplentes é o crediário, sem a correta pesquisa de crédito. “Com certeza, a situação é preocupante, pois nossa cidade, por ser pujante, está indo no mesmo cenário nacional. É necessário utilizar cada vez mais as ferramentas de concessão de crédito para minimizar estes índices”, afirma Marcos Carbone, presidente da CDL. Um dos principais recursos oferecidos como proteção é o próprio banco de dados do SPC, que atinge 95% das informações do país.

Cai a regularização

Na outra ponta, o número de consumidores que visam regularizar sua situação caiu 12% nos nove primeiros meses deste ano, quando comparados com os do ano passado. “Temos um setor que orienta e presta o serviço de cobrança, como forma de agilizar e proporcionar ao cliente uma oportunidade de manter seu crédito validado. A forma de negociação depende basicamente das políticas aplicadas em cada loja”, explica Carbone.

Consultas ao SPC

Em Bento, as consultas sobre a situação cadastral podem ser feitas na sede do SPC, com apresentação de CPF e RG e, caso o cidadão deseje a impressão do extrato, o pagamento de uma taxa de R$ 4. Se optar por não retirar o comprovante, ele recebe todas as informações que constam no sistema, como datas, valores e locais das pendências. O telefone do órgão é (54) 3455 0550.

Entrevista

O economista Nicanor Matiello, professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que, se o consumidor for obrigado a escolher entre manter o nome limpo e ter dinheiro na mão, a prioridade deve ser pela primeira opção. “Se quisermos ter credibilidade temos que cumprir com nossas obrigações, seja no aspecto financeiro, seja nas demais circunstâncias da vida”, orienta. Confira a entrevista com algumas dicas.

Jornal SERRANOSSA – Como evitar que, daqui a alguns meses, possam ser sentidos os excessos de compras realizadas no final de ano?

Nicanor Matiello – As compras de fim de ano normalmente são realizadas de maneira mais emocional. As pessoas tendem a ser mais sentimentais, pensar mais com o coração. Muitos buscam compensar as dificuldades do ano através de agrados às pessoas que as cercam e até como autopresente. Outro aspecto é o acréscimo de ganhos pelo 13° salário e pelas férias. Seria importante fazer uma lista, para que não seja no impulso, e programar as compras, com previsão de gastos e reservando parte para o que vem depois, como férias com maior despesa, retorno às aulas, demora para receber integralmente o salário de novo.

SERRANOSSA – Cidadãos com pendências no comércio devem aproveitar oportunidades como o 13º salário e o abono de férias para agilizar a quitação de dívidas? 

Matiello – Sempre há possibilidade de negociação, parcelamento ou diminuição de juros para acertar as pendências. Então tem que aproveitar as oportunidades, sim. Até porque o chapéu não é para uma chuva só.

SERRANOSSA – O que é melhor para o consumidor: dinheiro na mão ou crédito garantido? 

Matiello – Dinheiro na mão e crédito garantido seria o ideal. O problema é que é muito difícil ter os dois. Entendo que o crédito é mais importante, inclui tanto a credibilidade pessoal para comprar bens e serviços com pagamento posterior, quanto o respeito e distinção por se sentir acreditado. O dinheiro pode acabar, mas o crédito deve ser preservado ao máximo. Há muitas pessoas ricas sem crédito e muitas pessoas pobres com crédito. Fico com estes.  

SERRANOSSA – Para quem precisa comprar, mas não pode pagar à vista, qual é a orientação?

Matiello – Nas compras com dinheiro na mão, sempre há chance de obter descontos. Não se pode ter vergonha de negociar, pechinchar. Seria a melhor maneira. A segunda opção seria comprar a prazo sem acréscimo, desde que se compare preços dentre diversos fornecedores. Caso, em emergências, se precise comprar a prazo com acréscimo, verificar diversas propostas, pois, na maioria das lojas, os juros ultrapassam 3% para compras a prazos de até 10 ou 12 vezes e são maiores de 4% para prazos superiores a 18 meses. 

Devedores

Gênero

43% do sexo masculino
57% do sexo feminino

Estado civil

81% solteiro
19% casado

Idade

3% até 20 anos
38% entre 21 e 30 anos
43% entre 31 e 50 anos
16% acima de 50 anos

CPFs negativados: 11.368

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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