200km em cerca de sete horas: Ciclistas mostram a força do esporte na Serra
O ciclismo tem conquistado cada vez mais adeptos na Serra Gaúcha, seja simplesmente por lazer, prática esportiva ou por competição. Mas apesar do aumento de atletas e amadores nos últimos anos, há quem pratique o esporte há décadas e continua evidenciando a força da prática na região. No último sábado, 23/01, 11 ciclistas de Bento, da ABC Concresul, e 14 ciclistas de Garibaldi e Carlos Barbosa, da AGACI, percorreram mais um trajeto de alto desempenho. Foram cerca de 200km até Tramandaí, no Litoral Norte, em uma média de sete horas.
Grupo de ciclistas de Bento, Garibaldi e Barbosa. Foto: Arquivo pessoal
O grupo foi dividido em pelotões, alguns saindo de Bento Gonçalves, outros de Carlos Barbosa e, outros, de São Vendelino. Além disso, a equipe se dividiu em ritmos diferentes. O primeiro pelotão completou o trajeto em menos de seis horas. Outro, formado por quatro ciclistas veteranos e a única mulher, Sheila Romanini, em cerca de sete horas. “O grupo é formado por ciclistas amadores que vão por diversão e outros vários que competem a nível estadual. Havia também o Cristian Lazzari, único atleta profissional de Mountain Bike do Estado do RS”, conta Sheila.
Pelotão da ciclista Sheila Romanini. Foto: Arquivo pessoal
Mas para percorrer um percurso tão longo em pouco tempo, não é necessário apenas força de vontade. Geralmente, os treinos acontecem de três até seis vezes por semana. Em um desses treinos, o trajeto normalmente ultrapassa os 100 km. “Para pedalar trajetos mais longos é necessário ter um bom condicionamento físico. Para isso é preciso treinar progressivamente e com rotina. Aumentar a distância aos poucos. Eu acho bem importante também praticar alguma atividade de força, para reforçar a musculatura com o treinamento adjunto ao pedal”, comenta a ciclista Sheila.
Mais que um esporte
O calor extremo, o cansaço e o perigo das estradas não intimidam quem pedala por amor. Na opinião de Sheila, o ciclismo é muito mais que esporte, e sim um estilo de vida. “No meu pelotão tinham quatro veteranos, que pedalam há mais de 30 anos. O Paulo Magnani e o Luciano Pauletto pedalam e participam de competições há anos”, conta. “Esses atletas veteranos da ABC Concresul incentivam quem está iniciando pra seguirem o exemplo deles. A história do ciclismo da ABC em Bento iniciou com eles”, afirma a ciclista.
Mesmo sendo um esporte individual, quem inicia no ciclismo aprende uma verdadeira lição de coletividade. “Apesar de ser um esporte individual, a coletividade conta muito. Andando em pelotão, o atleta que está à frente fica com o vento contra ele, e os ciclistas atrás, andam no vácuo, diminuindo o desgaste físico em 20 a 30%”, explica. Durante o trajeto até Tramandaí, a ciclista afirma que ninguém foi deixado para trás. “Tivemos carros de apoio com água e comida e materiais para concertar os pneus, se acontecesse algo durante todo o percurso”, conta.
Ciclista Sheila Romanini. Foto: Arquivo pessoal
O perigo do asfalto
Mesmo que o Código de Trânsito Brasileiro deixe claro a necessidade “do maior cuidar do menor”, pedalar em ruas e rodovias ainda traz insegurança mesmo para os ciclistas mais experientes. “Somos muito frágeis, nossas estradas não são estruturadas para a prática desse esporte”, analisa Sheila. “Mas também não podemos deixar de fazer o que gostamos”, afirma.
Dessa forma, além dos treinos periódicos, os ciclistas têm o desafio de lutar pela sensibilização no trânsito, “fazendo com que todos se coloquem no lugar do outro, com que todos possam ter espaço, sem abusos, com muito bom senso e, principalmente, com humanidade”, pontua. Atualmente, Sheila afirma que há motoristas que passam muito próximo dos ciclistas sem necessidade, a fim de causar algum desconforto aos praticantes. “Mas sou otimista e acredito que estamos nos transformando em pessoas melhores, e atos como os promovidos nos últimos dias nos dão mais visibilidade e bom senso para todos os usuários de estradas e rodovias”, comenta Sheila, em relação ao atropelamento de três ciclistas no início do mês em Garibaldi.
A ciclista finaliza refletindo sobre a questão do respeito e empatia no trânsito. “Na bicicleta, vai um atleta treinar, vai um médico espairecer, que acabou de atender e cuidar de outra pessoa. Vai o adolescente, o pai de família. Enfim, são pessoas comuns que querem ser respeitadas e terem seu espaço sem disputa, sem brigas. Precisamos mais do que nunca, de bom senso”, declara.