267 picadinhas de amor para se tornar mãe
Quais são os limites físicos e emocionais para a realização de um sonho? Quantos sacrifícios você seria capaz de fazer para dar a vida a alguém? Para Michele Lazzari, de 32 anos, nem mesmo o desafio de aplicar uma injeção diária na própria barriga, ao longo de 267 dias, foi capaz de fazê-la desistir de seu maior objetivo: se tornar mãe!
O resultado de toda sua dedicação e empenho nasceu há exatamente 23 dias: Gabriel veio ao mundo cheio de saúde, para receber todo o amor de Michele e do papai Leandro, de 34 anos. O momento de felicidade também é de reflexão. Michele teve duas tentativas frustradas de manter uma gestação antes de ter Gabriel nos braços. “Em maio de 2014, engravidei pela primeira vez e, logo no primeiro ultrassom, foi constatado que eu tinha o embrião, mas não havia batimentos cardíacos. Eu tinha perdido meu bebê. Na época, o médico falou que era normal perder na primeira vez que engravida”, relata.
Depois de todo o procedimento de curetagem, Michele estava apta para novas tentativas. “Logo em seguida, engravidei novamente, e, mais uma vez, tivemos o mesmo problema. Confesso que me desesperei”, lembra Michele.
Havia algo de errado. Os médicos já a alertaram que poderia ser trombofilia, doença em que, basicamente, o sangue hipercoagula e não deixa o alimento chegar até o bebê. “Fiz todos os exames necessários, que confirmaram a trombofilia. Imediatamente, comecei a fazer inúmeras pesquisas, entrei em grupos de discussão da doença e conversei com outras mulheres que estavam passando pela mesma situação e outras que tiveram sucesso e fracassos em suas tentativas. Foi motivador e esclarecedor”, afirma.
Sabendo que, entre outros procedimentos, o tratamento consistia, especialmente, em aplicar injeções diárias de heparina – um anticoagulante – na barriga, em agosto do ano passado, Michele estava preparada para sua terceira tentativa. “Assim que recebi a confirmação da gravidez, no mesmo dia, já apliquei a primeira dose. Aliás, meu marido aplicou, pois fiquei com medo. No dia seguinte, já injetei sozinha, e assim fiz em todos os 267 dias de gestação”, conta ela, que aplicava as doses vagarosamente, a uma distância de quatro dedos do umbigo.
Questionada se sentia muita dor ao aplicar as injeções, Michele se emociona. “A dor maior não foi a física. Eu tinha medo. Só medo de perder o Gabriel, de o tratamento não funcionar e eu não conseguir ser mãe. As injeções eram insignificantes diante deste sonho maior. Eu procurei fazer o tratamento correto e, por causa disso, tive uma gestação tranquila, trabalhei até o último dia, e estou muito, muito feliz que tudo deu certo”.
Gabriel nasceu no dia 13 de abril, lindo e saudável. “Ele é o fruto do sonho de ser mãe e quero que minha história motive todas as mulheres que passam por este mesmo problema e que acabam desistindo. Continuem! Lutem! Com dedicação e amor, nada é impossível”, completa a mamãe Michele. Ela guarda carinhosamente todas as seringas que utilizou para que, no futuro, possa mostrar ao pequeno Gabriel como ele foi tão desejado, e que foram essas 267 picadinhas de amor que o ajudaram a nascer.
(fotos: Andreia D. Fotografia)