68% das empresas que tiveram atividades suspensas em Bento não conseguirão pagar todas as contas de março 

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Caxias do Sul – Campus Universitário da Região dos Vinhedos (UCS/Carvi), em parceria com a Associação dos Profissionais e Empresas de Serviços Contábeis de Bento Gonçalves (APESCONT/BG), mostrou os impactos econômicos da pandemia do novo Coronavírus em Bento Gonçalves. O levantamento, feito de forma on-line entre os dias 31 de março e 1º de abril, contou com a participação de 1.056 empresas: 24% da indústria, 24% do segmento do comércio e 52% de serviços. Dessas, 68% possuem até nove funcionários e 14% de 10 a 19 funcionários; 48% faturam até R$ 360 mil anuais e, 40% faturam de R$ 360,1 mil a R$ 4,8 milhões por ano. Os questionamentos foram repassados às empresas por meio dos escritórios contábeis do município e, o resultado, foi apresentado à prefeitura no dia 2 de abril. 


 

No final da última semana, uma síntese dos resultados alcançados foi encaminhada pela UCS ao SERRANOSSA. De acordo com a pesquisa, 90% das empresas entrevistadas estavam com suas atividades suspensas durante a realização dos questionamentos. Dessas, 40% afirmaram que teriam a possibilidade de manter o negócio, com recursos próprios, por até 15 dias de portas fechadas (sem prejuízo operacional); 21% poderiam manter de 16 dias a um mês e 22% informaram que não dispunham de recursos próprios para manter o funcionamento do negócio. 

Para as empresas que tiveram suas atividades suspensas, 13% apresentaram perdas de receita em duas semanas, na ordem de até 20% de um mês; 16% tiveram perdas de 21% a 30%; 25% contabilizaram perdas de receita de 31% a 40% e 46% das empresas teve mais de 40% de perdas de receita. 

Outro dado diz respeito às contas do mês de março: 68% das empresas com atividades suspensas reportaram que não conseguiriam quitar todas as dívidas referentes ao último mês. Para tanto, as principais estratégias que seriam utilizadas para minimizar os impactos seriam: atrasar pagamento de impostos (67%); atrasar pagamento dos fornecedores de insumos e produtos (62%); atrasar o pagamento dos outros fornecedores (51%); buscar recursos de terceiros para capital de giro (51%); atrasar pagamento dos pró-labores (50%); renegociar empréstimos (41%) e atrasar pagamento de salários (28%).

Período pós-pandemia

As empresas ainda indicaram as principais dificuldades que deverão ser enfrentadas após a pandemia: queda das vendas em função da redução do poder aquisitivo (56%), aumento do endividamento (50%), queda das vendas em função do desemprego (46%), reestruturação das operações em função da nova realidade do mercado (37%), dificuldade no cumprimento de obrigações tributárias (35%), redução das vendas devido às famílias estabelecerem reservas financeiras (28%) e dificuldade no cumprimento das obrigações trabalhistas (17%). Além disso, 30% das empresas informaram outras razões, como falta de suprimento de matérias-primas e dificuldades nas atividades dos negócios devido a demissões ou licenças médicas de funcionários. Mais da metade dos entrevistados também informou que já havia elaborado, ou está elaborando, um plano de recuperação financeira. 

As justificativas para aqueles que afirmaram não estarem elaborando um plano de retomada foram: aguardo de novas informações referentes ao período de quarentena (61%); novas informações sobre o mercado pós-pandemia (56%); novas informações de auxílio dos governos estadual e municipal (34%) e novas informações de auxílio do governo federal (34%). Além desses, 20% dos entrevistados afirmaram não saber como elaborar um plano de recuperação e, 5%, não viam necessidade de um plano. 

Busca de informações

Em relação às fontes utilizadas para se buscar informações referentes à pandemia, 60% das 1.056 empresas estavam se informando através de sites/aplicativos de notícia; 26% por meio de TV por assinatura; 25% contato por seu contador; 24% na TV aberta; 21% nas redes sociais (Facebook, Instragram, Twitter); 19% pelo WhatsApp; 14% rádio em rádio e 6% em jornais impressos.

Quanto ao acesso às notícias de apoio do governo federal às empresas, 26% delas ficaram sabendo de algo superficialmente, mas não buscaram mais informações; 25% trocaram ideias com outros empresários; 23% buscaram informações com o contador; 8% entraram em contato com bancos públicos e 5% não estavam acompanhando. 

“Em linhas gerais, verifica-se um impacto considerável na economia, tendo em vista a queda de receitas e a dificuldade em pagar as contas durante o período de contágio e após o contágio. Identifica-se, ainda, a diversidade de fontes de informação consideradas para a tomada de decisões, mesmo com a preponderância da imprensa. Importante ressaltar o número de empresas que ainda não consideraram a elaboração de um plano para recuperação, principalmente devido ao nível de incertezas associado à situação atual. No entanto, é relevante o percentual de empresas que não sabem como elaborá-lo”, concluem os idealizadores da pesquisa.

Foto: Fabiano Mazzotti