“A bicicleta foi o remédio da minha vida”

Aos 64 anos, Danilo Spader é um dos maiores esportistas de Garibaldi e, quiçá, da região. Acumula nada menos que 20 títulos brasileiros no ciclismo, a maior parte na sua especialidade, o downhill. Além disso, foi terceiro colocado no Pan-Americano e chegou a alcançar a quarta posição em um Campeonato Mundial. No Campeonato Gaúcho, o piloto que corre pela Associação Downhill do Vinho (ADHV) perdeu as contas de quantos troféus de campeão já acumulou. “Acho que uns 20”, estima. A trajetória vitoriosa de Spader no esporte, no entanto, torna-se ainda maior com a história de como tudo começou.

Spader levava uma vida pouco saudável, completamente oposta a de um esportista, até o início dos anos 90, quando limitava o lazer à pesca e à caça nos sítios da família. Nos finais de semana, também precisava conduzir o filho Filipe às competições de ciclismo. Com a intenção de aproveitar mais o sítio, entretanto, decidiu contratar um motorista para levar o filho, até que um acaso, há 23 anos, mudou a direção da sua vida. “Eu era apaixonado por sítio, caça, pesca, e certo dia, levando o meu filho para pedalar, eu pensei: tenho que tomar uma decisão na vida; ou acompanho o filho ou deixo ele ao deus-dará. Até que, em um domingo desses, ao levar o Filipe, decidi que pagaria um motorista para isso. Já estava decidido, mas então eu vi um carro com a seguinte frase: ‘adote o seu filho antes que um drogado o adote’. Essa frase marcou muito. Fiquei um, dois, três dias refletindo, e então perguntei para ele se continuaria mesmo pedalando ou era apenas ‘fogo de palha’. Se aquilo era mesmo o que ele queria na vida, o esporte dele. Ele falou que sim, que continuaria, e então eu disse para providenciar duas bicicletas novas, uma para ele e outra para mim, porque eu iria começar a pedalar. Eu bebia, fumava, sabe como é a vida de caçador, pescador, né? Quando eu disse para a minha mulher que iria vender os dois sítios, não iria mais caçar, nem pescar, pararia de fumar e passaria a pedalar com o Filipe, ela perguntou se eu estava louco, se havia batido a cabeça. E, a partir daquele dia, eu fiz tudo isso. Vendi o sítio, não cacei mais, não pesquei e comecei a pedalar”, relata.

A bicicleta aproximou ainda mais a família, mas este não foi o único benefício que aquela decisão trouxe à vida de Spader. O ciclismo, segundo ele, foi o mais eficaz remédio da sua vida. “Se não fosse a bicicleta eu já estaria morto há mais de 10 anos, por conta do cigarro, do estresse. Eu deveria ter feito o que fiz muitos anos antes, mas precisou que Deus aparecesse para me iluminar. A bicicleta foi uma loteria que eu ganhei na minha vida. É um esporte, um prazer, um remédio. Eu não sei encontrar adjetivos que sejam tão bons para o ciclismo. Se você perguntar o que eu prefiro: dez dias de pedal ou passear dez dias em Paris? Eu prefiro pedalar”, salienta.

Mais de duas décadas já se passaram e Spader continua pedalando regularmente ao lado do filho. Juntos, percorrem em média 100 quilômetros por semana. A bicicleta virou uma companheira inseparável do empresário, que chegou a visitar o irmão, em Porto Alegre, a bordo do saudável meio de transporte. “É uma cachaça. O bêbado sem cachaça não vai, eu sem bicicleta estou morto”, brinca.

O incansável ciclista garibaldense, que venceu pela 17ª vez o Brasileiro de Downhill, no final de julho, em Ipatinga (MG), também planejava disputar o Mundial deste ano, em Andorra, na Europa, mas desistiu quando soube da chegada do terceiro neto. Se depender da vontade de Spader, no entanto, a galeria de troféus será complementada em breve com outras competições. Mesmo com uma trajetória já consagrada no esporte, ele indica que a sua relação com o ciclismo está muito longe de chegar ao final. “Não há idade para pedalar, acho que é questão de querer, de vontade, de paixão. Eu me apaixonei por bicicleta, troquei tudo por uma bicicleta, e ela foi o remédio da minha vida, mudou a relação com o meu filho, com a família, com a esposa, tudo melhorou. O que eu posso dizer para as pessoas é que, se querem ter uma coisa boa na vida, comecem a pedalar. Observarão melhor as paisagens, a saúde vai melhorar, é um remédio para a depressão e um instrumento para ter um bom relacionamento com a comunidade. A gente pedala nos finais de semana e na segunda-feira chega na firma sorrindo, contente. Quando não consegue pedalar, por outro lado, é uma semana de depressão, de tristeza”, conclui.  

 

Reportagem: João Paulo Mileski

 

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