A cada 10 presos em julho, dois seguem detidos
A velha expressão “enxugar gelo” é muito ilustrativa para o trabalho diário da Brigada Militar (BM) em Bento Gonçalves, que acaba prendendo um autor ou suspeito de crime e, em seguida, muitas vezes, ele acaba novamente na rua. Esta também foi a realidade verificada no mês de julho na cidade, quando 85 pessoas foram detidas pela BM – uma média de 2,7 prisões por dia – e, até dia 6 de agosto, apenas 22% permaneciam recolhidas no presídio local.
O que chamou a atenção também foi o grande número de menores de idade apreendidos. Dos 85 detidos, 15 eram adolescentes que cometeram crimes como roubo a estabelecimento comercial, posse de entorpecentes, furto qualificado, latrocínio, roubo a residência, tráfico de drogas e receptação de veículos. Oito foram internados em Centros de Atendimento Socioeducativos (Case) do Estado.
De acordo com o major Álvaro Martinelli, comandante do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º Bpat), o maior fardo da corporação é justamente lidar com a reincidência. Exemplo disso é o caso de um homem acusado de furto de veículo preso três vezes em menos de 15 dias no mês passado – hoje, ele permanece na casa prisional. “A reincidência é frustrante, mas o pior é ter que, todo dia, motivar o meu efetivo a prender suspeitos e autores de crime que, muitas vezes, são os mesmos. Não raramente, isso ocorre mais de uma vez no mesmo dia. Tudo entra na flexibilidade da legislação”, lamenta o major.
Dos presos, 19 eram foragidos da Justiça, nove praticaram furto qualificado, quatro foram detidos por furto simples, dois por porte ilegal de arma de fogo, quatro por receptação de veículo, doze por roubo, sete por tráfico de drogas e o restante por outros crimes. Além dos 22% que permanecem recolhidos, 51% estão em liberdade condicional, 13% no regime semiaberto e 3% no regime aberto. “Enquanto não mudarem o sistema penal e a legislação, nada vai acontecer. As pessoas estão encarando o crime como algo cotidiano. Elas presenciam os fatos e não os estranham. Não se deve reagir, mas, se possível, deve-se registrar o crime com o seu celular, sua câmera, e acionar as autoridades policiais. Estas são provas importantes que podem auxiliar para que o criminoso fique recolhido”, enfatiza o comandante. “Não é um problema só da polícia, é de todos. Devemos agir como menos individualismo”, complementa.
Martinelli ainda salienta que a população deve ficar atenta, principalmente quando está andando pela rua ou mesmo dentro do seu veículo estacionado, para evitar se tornar mais uma vítima dos criminosos. “A característica desses ladrões é a ocasião. Eles saem à rua para assaltar e aproveitam a oportunidade, um descuido da pessoa, para agir. Devemos sempre ficar atentos ao que está acontecendo ao nosso redor, principalmente na rua”, recomenda.
Cobranças
A Brigada Militar costuma ser muito cobrada pela população, especialmente nas mídias sociais, quando algum caso de roubo ou homicídio acontece. “É normal o cidadão cobrar de quem eles enxergam, a polícia. Nós fazemos o que está escrito na lei. O nosso trabalho termina no balcão da Delegacia de Polícia. Daí para frente, há outros órgãos que tem que agir. Quantos questionam, com o mesmo entusiasmo, o seu vereador, seu deputado, seu senador, enfim, o político em que votou para mudar a legislação? Não vai ter juiz que segure preso se a legislação diz o contrário”, argumenta Martinelli. “Quantos acompanham o processo? Quantos comparecem no Fórum para cobrar o porquê de o delinquente ter sido solto? O juiz faz o que está na lei, a culpa também não é deles. Eles ficam de mãos tão atadas quanto a Brigada Militar”, desabafa.
O comandante ainda questiona quantas vítimas de roubo ou furto já acionaram o Governo do Estado para recuperar o prejuízo sofrido, uma vez que isso é um direito do cidadão, muitas vezes não utilizado. Martinelli afirma, por fim, que está com as portas do batalhão abertas para quem quiser conversar ou esclarecer alguma situação específica.
Medo
Loja fechada após dois assaltos em uma semana
Uma comerciante do bairro São Roque, que preferiu não ter sua identidade revelada, fechou seu estabelecimento após ter sido assaltada duas vezes em uma semana. A loja funcionava no local há cerca de um ano e meio. De acordo com a vítima, o primeiro assalto aconteceu por volta das 16h30 de uma sexta-feira, quando um rapaz, com aparência de menor de idade, entrou no local com uma faca e anunciou o assalto. Ela foi obrigada a entregar todo o dinheiro que havia no caixa.
Na sexta-feira seguinte, novamente, ela foi assaltada. Na segunda vez, eram dois criminosos. “Eles entraram na loja e anunciaram o assalto. Entreguei todo o dinheiro que tinha no caixa e eles disseram que era pouco, pediam mais e mais. Disseram que se eu desse mais dinheiro ninguém iria se machucar. Estava atendendo sozinha na loja, com o meu filho pequeno, e fiquei com medo que pudessem fazer alguma coisa”, conta a comerciante. “Eles não estão nem aí. Até podem ser presos, mas logo são soltos. Ficamos com mais medo ainda, porque eles sabem que não vai acontecer nada”, desabafa. Por temores de novos assaltos, a comerciante preferiu fechar a estabelecimento e irá trabalhar apenas com tele-entrega de produtos de limpeza.
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