A crise tem nome e milhares de rostos
Vocês conhecem a história do vendedor de cachorro-quente e a crise? Vou resumir: o pai, seu Alaor, ganha a vida vendendo cachorro-quente e consegue dar uma boa educação ao filho que se torna economista. Um belo dia, o filho faz uma visita ao pai e, ao perceber os gastos dele, presenteia-o com uma dica: “pai, seus gastos estão muito altos, vem uma crise por aí, tenta dar uma maneirada e baixar o custo desses produtos.” O pai, sem estudo e grande admirador do filho, decide seguir o conselho e muda todos seus fornecedores e produtos. Não tarda e a crise chega mesmo, a clientela diminui drasticamente e ele percebe que seu filho estava certo. Um dia seu Alaor está fazendo compras e encontra um cliente fiel que nunca mais o visitou: “Essa crise chegou forte, nem os amigos aparecem mais” – o amigo entende a indireta e responde sem medo: “Desculpa Alaor, mas a qualidade do seu produto caiu muito.”
Não foi a crise que pegou seu Alaor, mas o fato de acreditar mais em uma crise do que em seu sucesso de décadas.
Agora uma história minha. Para lançar meu último livro solicitei TRINTA orçamentos com gráficas diferentes de todo o Rio Grande do Sul – incluindo duas de Bento Gonçalves. Passar orçamento é coisa simples, não leva mais que vinte minutos. Pois bem, eu recebi somente CINCO respostas.
Mais tarde fui orçar caixas personalizadas, novamente procurei uma empresa da cidade para tentar manter o trabalho por aqui, fui até eles, descrevi com exatidão do que eu precisava e até recebi um primeiro e-mail de contato. Após isso? Nada. Sumiram. Total descaso e uma boa amostra do por que quando os visitei só vi pessoas coçando o saco e deprimidas.
Em 2015, quando estava lançando o livro “Eu vi a Rua Envelhecer”, aconteceu a mesma coisa, uma pessoa da cidade me ligou: ‘Felipe, por que você está imprimindo fora de Bento?’ Minha resposta: porque vocês nem se quer um e-mail respondem. Ele não acreditou, enviei uma cópia da mensagem e o que ele descobriu? A secretária estava simplesmente deletando e-mails sem nem lê-los.
Ok, ok, muita gente deve achar péssimo ter de trabalhar para alguém, mas posso dizer sem medo que hoje prefiro ser empregado a ser patrão.
Trabalhar virou nada mais que obrigação, quase ninguém mais veste camiseta alguma. Empregados veem patrões como milionários exploradores e muitos patrões simplesmente veem seus subordinados como gente passageira que está aí para ser sugada.
De fato há uma crise econômica, mas a pior crise que enfrentamos é a da moral. Eu espero ao menos que essa tempestade afunde os navios fantasmas os quais muitas empresas se tornaram.
Eu acredito no potencial do seu Alaor, seu Alaor trabalha duro, ele percebeu que a crise está nas pessoas.