“A educação não pode estar parada, precisamos de muita atualização”, afirma secretária de Educação Adriane Zorzi
A secretária de Educação de Bento Gonçalves, Adriane Zorzi, conversou com o SERRANOSSA sobre os investimentos e desafios desta área do município
O ano letivo de 2023 em Bento Gonçalves começou com mais de 13 mil alunos matriculados na rede municipal de ensino. A chegada de inúmeras novas famílias no município, que vem em busca de oportunidade de trabalho, reflete e impacta diretamente no setor da educação.
De acordo com a Secretária Municipal de Educação, Adriane Zorzi, está sendo um início de ano parecido com o de 2022, devido ao grande número de novos alunos que estão inscritos, em busca de vaga na rede municipal.
“Em 2022 a gente levou um susto com o número de alunos, tivemos, praticamente, aumento de mil alunos em 2022, que vieram de outras cidades e não estavam matriculados em nenhuma escola nossa, porque estavam estudando online, a distância, nas escolas dos municípios de origem”, explica.
O cenário neste ano, de acordo com Adriane, não está sendo diferente, já que os números continuam altos. A título de comparação, em todo ano de 2022 foram registradas 5.700 inscrições. Em 2023, apenas nos dois primeiros meses deste ano, já foram registradas 4.654 inscrições.
A diferença é que neste ano há uma novidade: a Central Única de Vagas de Bento Gonçalves, uma espécie de plataforma que foi estudada junto com a rede estadual de ensino e com o Ministério Público, para facilitar a organização da demanda.
A Central Única de Vagas funciona da seguinte maneira: quando os pais vão realizar a inscrição de forma online, tem um link para colocar o endereço onde residem, com a localização de onde a família mora, o sistema informa qual o zoneamento da escola onde, provavelmente, a criança irá estudar.
“Quando os pais colocam o endereço, vai direcionar, se for uma escola do Estado, eles vão ter que acessar a rede estadual, mas se for uma escola nossa, eles já preenchem os dados, salvam e a gente já recebe a nova inscrição aqui, para vermos se é aluno novo ou se é aluno que quer transferência”, explica.
De acordo com a chefe da pasta, a Central também serve para que haja um equilíbrio de alunos entre as escolas estaduais e municipais.
“No sistema de anteriormente, os pais podiam escolher a escola, se morassem São Roque e quisessem estudar no Santa Rita, podiam. O zoneamento serviu para que os alunos ficassem próximos de casa, demanda menos da família de ir para um lado e outro e demanda menos a questão do transporte escolar ou público”, avalia.
Além disso, o novo sistema trouxe mais segurança, de acordo com Adriane, já que não permite que os pais burlem o sistema.
“Muita gente que antes conseguia burlar endereços para entrar em uma ou outra escola, já não consegue mais, porque junto com a inscrição tem que comprovar o endereço onde moram”, garante.
Impacto na educação
Bento Gonçalves é uma cidade conhecida pela alta quantidade de oportunidades. Por isso, muitas famílias escolhem o município como destino para tentar um novo emprego. Dentre essas famílias, a maioria vem com filhos, que precisam estudar e garantir uma vaga na rede de ensino.
“Impacta muito na educação, até porque a maioria das famílias tem vindo com mais de uma criança, com várias crianças, às vezes até de níveis diferentes, de creche, de ensino fundamental”, afirma Adriane.
Como exemplo, a secretária menciona o pós-feriado de carnaval, quando a pasta recebeu um alto movimento de inscrições para a rede municipal.
“Na quarta-feira de cinzas a gente teve um movimento muito grande de inscrições de pessoas vindo diretamente aqui. Só de venezuelanos foram doze crianças. São famílias que estão buscando uma vida melhor, buscando emprego, trabalho, e isso impacta diretamente sim nas nossas escolas”, avalia.
De acordo com Adriane, a maioria dessas famílias tem se estabelecido nos seguintes bairros: Vila Nova, Zatt, Conceição, São Roque e Borgo. Por isso, nas escolas dessas regiões foram abertas mais vagas.
“Em algumas regiões mais vulneráveis a gente abriu vinte e duas novas turmas de tempo integral, de Jardim A e B, que são as crianças de quatro e cinco anos”, garante.
Ciente da importância e do diferencial das turmas de tempo integral, Adriane revela que a meta deste ano é preparar novas turmas de tempo integral para 2024.
“A gente sente a necessidade, porque muitas famílias carentes vieram para Bento e essas famílias precisam de um olhar, assim como todas as outras que estão aqui, que precisam que seus filhos estejam assistidos, por isso estamos buscando alternativas para que a gente possa atender essas crianças e ampliar o tempo nas escolas”, diz.
Falta de vagas
De acordo com a Secretária de Educação, as vagas que o município não consegue absorver são trabalhadas com a rede estadual. Entretanto, quando nem a rede estadual possui vagas, em última possibilidade, são compradas vagas na rede particular de ensino.
“É uma demanda que a gente precisa diminuir, por isso também da Central de Vagas, é um dos objetivos do Ministério Público, nos auxiliar a acomodar esses alunos na rede pública e evitar que a gente encaminhe para a compra de vagas”, responde.
Atualmente, a cidade conta com 23 escolas de Ensino Fundamental e 22 de Educação Infantil em Bento Gonçalves. Além daquelas que devem ser inauguradas, ainda neste ano.
“Esse ano pretendemos inaugurar mais duas ou três escolas de Educação Infantil, porque a gente tem tido bastante demanda de bebês, em torno de 600 novas inscrições de bebês”, ressalta.
Já em relação à educação no interior, Adriane esclarece que o município conta apenas com a Escola Lóris Pasquali Reali, localizada no Vale dos Vinhedos e que atende toda demanda, desde o bairro Vinosul, Municipal, até a divisa com o município de Monte Belo do Sul.
Além desta escola, há aquelas que eram consideradas de zona rural: Tuiuty, São Valentim e Barracão, mas que agora são consideradas de zona urbana. Entretanto, todas estão superlotadas devido aos loteamentos que existem nos arredores.
“Das três escolas de Tuiuty, duas são de tempo integral de Jardim A e B. A escola do Barracão atende mais ou menos cem alunos, é uma escola pequena, que está em reforma. Todas têm pouquíssimas vagas”, afirma.
Profissionais capacitados
Questionada sobre a capacitação dos professores, a Secretária de Educação afirma que a educação não pode parar nunca.
“Hoje, em 2023, a educação não pode estar parada, precisamos de muita atualização, até porque, a pandemia (de COVID-19) nos trouxe novos alunos e tivemos que nos reinventar muito durante a pandemia e não podemos parar agora”, garante.
A Secretária acrescenta que são realizadas muitas atualizações para os professores, visando uma educação melhor para os alunos do município.
“A gente precisa que esses profissionais enxerguem esses novos alunos, esse novo mundo, porque o mundo lá fora está diferente, a gente precisa perceber que as pessoas que vão sair da escola, que serão profissionais daqui um tempo, têm outro perfil. Os alunos de hoje têm um perfil muito introspectivo, eles gostam muito da internet, mas tem também um perfil questionador, investigador e a gente tem que trabalhar esse lado”, aponta.
Além disso, Adriane garante que a prefeitura está investindo muito na inovação, equipando cada vez mais as escolas com computadores, projetores e montando laboratório maker.
Creche do Zatt
Questionada sobre como está o andamento da construção da creche no bairro Zatt, Adriane responde que a expectativa é de que nos próximos meses o espaço esteja pronto para ser inaugurado e para receber os novos alunos.
“Na próxima semana teremos reunião para ver como anda, mas nossa esperança é que nos próximos meses a gente possa inaugurar e encher de crianças. Serão atendidas até 120 crianças”, finaliza.