A falta que não nos falta

Chico Xavier, apesar de sua inclinação para o espiritismo, é unanimidade quando o assunto é bondade. Todas as religiões ou doutrinas o reconhecem como tal. 

E não poderia ser diferente. Afinal, “metade dele é amor. E a outra metade também”, parafraseando Oswaldo Montenegro, em sua canção “Metade”. 

Contudo, sabe-se que até ele, em determinado momento, fraquejou. Aliás, Jesus fraquejou quando duvidou dos planos de Deus para com ele. Até Jesus disse: “Ó, Pai, por que me abandonaste?”.

Chico Xavier também se queixou para seu mentor, Emmanuel, de estar triste, deprimido, descontente com a sua vida. Nessa ocasião, Emmanuel sugeriu então que Chico Xavier saísse a andar pela região mais pobre nas proximidades de onde estava, o que prontamente ele o fez. Afinal, ao contrário da maioria de nós, que talvez relutaria ver as mazelas da vida humana, Chico dela se compadecia e fazia disso alimento para seu trabalho de amor. E nessa ocasião não foi diferente! Ele sentiu vergonha do seu sentimento de tristeza quando retornou de sua caminhada, após ver a situação de pobreza e penúria que a população ao redor dele vivia. 

Essa passagem, contada pelo querido amigo e colega Conrado Dall’Igna em uma de nossas conversas, nos faz lembrar que, por mais diferente, por mais triste, por mais deprimido que possamos estar nos sentindo, há sempre que se observar a verdadeira realidade ao nosso redor. Meu pai sempre me disse sobre um provérbio chinês que diz mais ou menos assim: “Lamentava por não ter sapatos, até que encontrei um homem sem os pés…”. 

Pois bem, Dr. Conrado e eu falávamos exatamente sobre os compromissos que temos, sobre a situação que vivemos, sobre as dificuldades experimentadas em todos os sentidos quando ele me falou dessa passagem, lembrando que, na saída do escritório, encontrou um homem que lhe pedia dinheiro, quando levou a mão ao bolso e encontrou R$ 10,00 (dez reais). 

Essa quantia, para muitos, pode parecer ínfima, pode parecer troco, pode parecer nada. Para aquele senhor que estava no caminho do Dr. Conrado foi muito. Dizia-me o Dr. Conrado que, nessas épocas, é difícil honrar os compromissos do escritório, já que as receitas rarearam.

Porém, esse mesmo Dr. Conrado, para quem esses dez reais que não pareciam tanto, alcançou para um senhor tal quantia, quem reagiu como se recebesse o mundo. Tal qual Chico Xavier, o Dr. Conrado viu que talvez a sua preocupação para com o dia seguinte, os compromissos do mês, as mazelas de uma profissão sazonal como a nossa, tão afetada pela pandemia e Poder Judiciário fechados até pouco, por si só, não tornam a nossa vida difícil. Não tão difícil quanto algumas…

Temos teto, casa, família, roupa limpa, e a consciência de sermos mais um integrante dessa passagem. Afinal, como dizia o próprio Chico: TUDO PASSA!

Até a próxima!

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