A importância de estarmos situados no chão da vida
Quero falar com você sobre a importância de estarmos bem situados no chão da vida para alcançar a Deus. Quem nos ajuda nisso é a espiritualidade monástica, dos monges. Nós podemos também chamá-la como espiritualidade debaixo, aquela que parte de minha realidade para encontrar a Deus. Um monge nos ajuda a compreender como chegar a Deus, dizendo o seguinte: se vires um jovem monge procurando alcançar o céu com sua própria vontade, segura seus pés e puxe-o para baixo, pois isso de nada lhe serve. O que isso quer dizer? Justamente os jovens correm o risco de irem atrás de ideais elevados. Muitas vezes o jovem entra na vida do monastério, do seminário, e exagera na meditação, a fim de o mais rápido possível se tornar espiritual. Contra isso, o velho Abade Antão protesta: “a necessidade primeira do jovem é entrar em contato consigo mesmo e com sua realidade para chegar a Deus. Do contrário, irá levantar voo e terá que cair miseravelmente, porque suas asas são de cera.”
Isso acontece também com pessoas adultas. Querem chegar a Deus, se distanciar do mundo e da realidade. É como se dessem um voo para o alto, mas ao mesmo tempo – como suas asas são de cera -, vão cair. Nós temos necessidade de bastante contato com o chão, para que o salto para Deus possa lograr êxito. Precisamos estar em contato com a vida, com a nossa realidade. Há, muitas vezes, uma tentativa de negar as necessidades humanas básicas, os sentimentos e as tarefas do desenvolvimento ou de transcendê-las com demasiada rapidez, para chegar a Deus. Alguns tentam negar essas necessidades básicas através de exercícios espirituais.
A espiritualidade do chão da vida me diz que o meu caminho espiritual sempre passa pela aceitação da minha própria realidade. Eu preciso admitir a minha vida, a minha sexualidade, os meus traumas, as minhas paixões… Do contrário, estarei tentando passar por cima de minhas sombras e chegar depressa demais a Deus. Mas, então, não há de ser o Deus verdadeiro, mas apenas uma projeção de Deus, ou seja, a ideia que eu faço de Deus. O Deus verdadeiro me faz assumir tudo aquilo que eu sou, e aí sim estarei em contato com Ele.