A lição preciosa de Dante

Na semana passada, quando escrevi sobre “O Banquete de Consequências”, confesso que meu objetivo era outro. Minha ideia inicial era escrever sobre o colapso da natureza, direcionando isso para as consequências dos nossos atos de destruição e desmatamento. E o faria por conta dos temporais, ciclones e os efeitos devastadores previstos. 

Todavia, o texto tomou outro rumo. Direcionou-se para onde deveria ir, por certo. Acabou como acabou, talvez pelo fato de que, na semana passada teria sido precoce escrever sobre ciclones, temporais e suas consequências. 

Na semana passada, mesmo que tenhamos visto volumes de chuvas bem superiores ao normal, em nada se aproximou ao que vimos nessa semana. O volume de água atingiu níveis inimagináveis, fazendo com que os rios alcançassem as alturas das pontes de ferro, que nos liga à Nova Roma do Sul e a famosa Ponte dos Arcos, que nos liga a Veranópolis, também conhecida como “A Princesa dos Vales”. 

Cidades como a belíssima e pacata Santa Tereza ficaram debaixo d’água. Aqui faço uma pausa para contar uma história para você: – Quando eu era pequeno, perto dos meus cinco anos, vendo notícias de enchente na televisão, eu disse que queria uma enchente em Farroupilha, para aprender a nadar. Vejam só até onde vai o imaginário de uma criança… No dia seguinte, a mãe me matriculou na natação. Lembro que no mesmo dia ela e o pai explicaram-me que, por estarmos na serra, dificilmente veríamos enchentes por aqui. Até que a natureza veio e nos deu o troco, mostrando para todos nós que tudo aquilo que fazemos com ela, ela nos devolve.

Eis o colapso! 

A natureza não está dando conta de se recuperar frente a tudo aquilo que nós, os humanos, pseudocivilizados, estamos fazendo. As feridas purgam e expurgam os males, mesmo sem querer. As consequências são, por certo, essas que estamos vendo. 

Dante Alighieri foi um escritor, poeta e político italiano. Nascido em Florença, ao que tudo indica, foi o maior poeta da língua italiana, segundo a literatura mundial. A sua principal obra, a meu ver, é: “A Divina Comédia”. Com riqueza de detalhes e escrita em primeira pessoa, tanto o próprio autor como narrador e protagonista, o poeta descreve a sua trajetória entre o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. 

Em uma de suas passagens mais conhecidas, Dante Alighieri refere que “Os lugares mais quentes do inferno estão reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempos de crise”. Ainda que haja controvérsia sobre a real existência dessa passagem no texto original, já que na tradução para o português ela não aparece, John F. Kennedy assim a proferiu, em certa oportunidade, atribuindo-a ao conhecido “Inferno de Dante”. 

Nunca é tarde para reparar o dano, mesmo que na maioria das vezes não se consiga retornar ao estágio inicial. Cabe, de qualquer forma, a cada um de nós fazer a nossa parte, e escapar dos lugares mais quentes do inferno. Afinal, ainda que eu não ouse discordar da existência de Deus, que nos quer todos no Céu, não sabemos para onde vamos no juízo final. Eu, pelo menos, não tenho bem certeza… 

Até a próxima!

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