A paixão por servir ao próximo

De sorriso largo e fala mansa, Sirlei Cavalli Fontana, de 56 anos, despeja doses de sabedoria enquanto faz um balanço de sua vida. Nas três décadas em que atua na copa do Hospital Tacchini, descobriu a paixão por servir aos outros. É com lágrimas nos olhos que ela recorda de passagens que a fizeram ter certeza de que o trabalho de alguma forma ajudou na recuperação de um doente. “Teve um paciente que disse: ‘aquela vitamina que você faz tem amor’”, lembra. Há casos também de pessoas que a abordam na rua para agradecer o cuidado recebido durante o período de internação. “É bem emocionante. Dá força para a gente continuar aqui”, garante.

Natural de Vespasiano Corrêa, Sirlei veio para Bento Gonçalves com os pais quando tinha 15 anos, em busca de melhores oportunidades de trabalho. Já adulta, trabalhou na área de produção de empresas do setor moveleiro antes de ingressar na casa de saúde. A motivação para a troca de emprego era ter mais tempo para cuidar do filho, na época com cinco anos. Ela conta que havia poucas opções de creches e, com a nova carga horária de seis horas diárias, conseguiria passar mais tempo com o menino. Outro fator que pesou na decisão foi acreditar que no setor de saúde o desemprego seria mais difícil, já que não fica tão sujeito às flutuações do mercado como as indústrias. 

Por conta da jornada mais flexível, Sirlei também conseguiu concluir o Ensino Médio e até iniciar algumas aulas do curso de Técnico de Enfermagem. “Aqui consegui administrar a família e o lado profissional”, avalia. Embora aposentada, ela segue trabalhando. “Eu amo isso aqui”, afirma, dizendo que o segredo é viver um dia de cada vez. Às 6h50 ela já está no hospital. “Desde criança, eu durmo cedo e acordo cedo, então acordar às 4h ou 5h não é problema. Nunca levantei às 6h, até nas férias. É um hábito que a gente adquire”, comenta.  

A copa serve de intermédia entre a cozinha e os pacientes. As bandejas são montadas conforme as especificações passadas pelo médico, respeitando as necessidades do doente e suas restrições alimentares.  Posteriormente, a comida é entregue nos quartos no horário das refeições. Ao entrar no local, Sirlei procura levar também um pouco de gentileza para quem está internado. “Se a gente entra dando coragem, passa uma coisa boa. Se torna uma família”, destaca. 

Ao longo dos anos, a copeira participou de vários treinamentos oferecidos pelo hospital para aprender a lidar com as dificuldades de trabalhar na área de saúde. “É normal se abalar, somos humanos. Muitas vezes nos sentimos pequenos por não poder fazer nada pela pessoa. Mas quando consegue fazer algo é uma vitória”, assegura. 

O marido, com quem é casada há 38 anos, e o filho, hoje adulto, aprenderam a lidar com as exigências do trabalho. Além dos cinco dias da semana, Sirlei também tem expediente durante o final de semana, com turno de 12 horas, incluindo feriados e datas comemorativas, como Natal e Ano Novo. Nas horas livres, ela gosta de fazer crochê e tricô. O tempo é preenchido ainda com visitas à mãe, que reside próximo à casa de Sirlei. Quando pode, também gosta de voltar para a cidade de origem, onde aproveita para descansar e “recarregar as baterias” em meio à natureza.

Ao fazer balanço da sua trajetória, Sirlei emociona-se ao perceber que a vida mudou para melhor.  No início, as dificuldades eram maiores. Ela recorda, por exemplo, que havia finais de semana em que o marido e o filho a acompanhavam a pé da casa deles, no bairro Vila Nova, até o hospital, pela limitação dos horários de ônibus. “Se fosse tudo fácil, não teria graça. A vida é tentar melhorar a cada dia”, finaliza.