Convidado para encerrar o 8º Fórum Municipal de Turismo de Bento Gonçalves, o ex-prefeito de Gramado, Pedro Bertolucci, falou, na noite da última quarta-feira, 10, na Fundação Casa das Artes, sobre os caminhos trilhados pelo município para alcançar o status turístico que detém atualmente. A fórmula do sucesso, de acordo com Bertolucci, passa essencialmente pela constante exploração de eventos – hoje, na pequena cidade da região das Hortênsias, com 34 mil habitantes, são cerca de 300 por ano. O resultado é a visita anual de mais de cinco milhões de turistas.
Todos os eventos, entretanto, têm um elemento em comum: são gerenciados pela GramadoTur, empresa pública que, em seu conselho, também tem membros da iniciativa privada. É essa sincronia entre as duas esferas que, segundo o ex-mandatário, garante que as promoções ganhem propulsão que só os investimentos do empresariado têm condições de oferecer. “O Poder Público tem que fazer o seu papel, mas não tem que ser padrasto de tudo. Tem que ser o guia, dar o norte. São os empresários que têm que fazer as coisas e ganhar dinheiro. A prefeitura tem que ser um facilitador desse processo, levar essa criança de mãos dadas até certo ponto e depois deixá-la caminhar por conta própria”, destaca.
Entre os pontos mais importantes destacados por Bertolucci para “vender a marca” de Gramado, em um modelo que na visão dele pode ser aplicado em outros locais, está a associação da imagem do município com diversos temas, que foram se alternando e também se completando ao longo do tempo. Na lista, entram desde o trem, no passado, até elementos como móveis, artesanato, cafés coloniais, arquitetura e o chocolate. Tudo firmado no eixo da hotelaria, gastronomia e compras e permeado com experiências buscadas em outros estados e, inclusive, países. “Muitas coisas que Gramado tem hoje nós fomos buscar fora. Mas não basta apenas copiar e querer implantar aqui, tem que trazer e adaptar à nossa realidade, ou não vai dar certo”, completa.
Um dos eventos mais tradicionais de Gramado, o Natal Luz, que nasceu em 1986, durante um dos mandatos de Bertolucci, é citado pelo ex-prefeito como exemplo da evolução sempre buscada nos projetos executados no município. “Se ficássemos na zona de conforto, ainda estaríamos com a procissão de lanternas, como acontece em muitas outras cidades. Mas nós avançamos e, mesmo assim, no começo dos anos 2000, chegou um momento em que tudo estava estagnado. Tivemos então que reinventar o Natal Luz, e aí surgiu o desfile, por exemplo”, conta.
Gestão e vibração
A modernização da gestão pública também foi, na visão de Bertolucci, uma das medidas mais importantes para a consolidação de Gramado, a primeira cidade no Brasil e a segunda no mundo a obter a certificação ISO 9001, conquistada em 2008. “Tem que fazer com que aquela pessoa que não quer trabalhar, seja estagiário, concursado ou CC, se sinta constrangida. Todos têm que estar com o mesmo pensamento, de crescer. Se você tiver em uma empresa três grupos pensando com cabeças diferentes, e isso vale muito para a prefeitura, o resultado vai ser um só: vai quebrar”, diz o ex-prefeito.
Outro desafio constante é o envolvimento da comunidade nas iniciativas. Nesse aspecto, Bertolucci ressalta que cabe à administração municipal, em parceria com entidades como sindicatos, despertar essa “vibração” na população, para que ela sinta desejo de participar dos projetos turísticos. “As pessoas têm que ser apaixonadas pela cidade, e para isso elas também têm que entender que vão ganhar com o turismo. Ele dá um retorno financeiro rápido, é uma grande oportunidade. Mas, antes disso, a estrutura da cidade tem que ser pensada primeiro para a comunidade. É ela que tem que ficar com a primeira boa impressão, para depois poder receber bem os visitantes. E quem é bem recebido sempre vai ficar com desejo de voltar”, conclui Bertolucci.
Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
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