A saúde mental e a pandemia de Covid-19

O sofrimento é inerente a diversos tipos de situações enfrentadas pelos seres humanos: guerras, migrações, desastres naturais e doenças. Neste momento, vivemos uma destas situações. O avanço do SARS-CoV-2, também chamado de novo coronavírus, e da COVID-19, a doença causada por este vírus, atingiu o nível de pandemia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).  

Deste modo, é necessário seguirmos as orientações dos serviços de saúde, municipais, estaduais e federais,  no que se refere às medidas de prevenção. Uma das medidas diz respeito ao isolamento social. Esta tem se mostrado bastante eficaz na diminuição da transmissão do SARS-CoV-2. 

Em situações de crise, como a pandemia pela qual passamos agora, é esperado que precisemos de um tempo para compreendermos todas as informações que nos são dadas. Ainda mais em um cenário em que podemos acompanhar a pandemia “em tempo real”. A mídia impressa, audiovisual e digital nos permite termos acesso a diversas notícias.
Como sabermos o que é verdadeiro e o que é falso? Como tomarmos medidas preventivas efetivas? O que é mito e o que é realidade a respeito do novo vírus? Perguntas como estas associam-se a outras incertezas, como a permanência do funcionamento dos estabelecimentos comerciais, o acesso aos medicamentos e aos alimentos e o período em que estaremos separados de nossos familiares, amigos e colegas de trabalho.  Todos somos afetados pela situação, mas nos expressamos de modo diferente. O nosso sofrimento é variado, mas real. Temos de encontrar meios de acolhê-lo, sem negar a sua existência e encontrar maneiras de transformá-lo em ações criativas e solidárias. 

CUIDADOS PARA TODAS AS PESSOAS

Com este objetivo, a OMS destaca cuidados com a saúde mental que podem ser adotados por todas as pessoas:

1. Cuide do excesso de informações: estar informado é importante, mas informar-se não deve se tornar a sua atividade principal. Estabeleça momentos para buscar informações em fontes seguras sobre a pandemia e as medidas preventivas determinadas pelas autoridades de saúde.
2. Crie uma rotina de atividades diferenciadas: estabeleça atividades para cada dia e tenha objetivos claros para cada uma delas. Procure variar as atividades durante o dia, evitando longos períodos em uma mesma situação.
3. Faça o que você gosta: reflita sobre as atividades que lhe geram prazer. Busque torná-las suas prioridades.
4. Aproveite para colocar as coisas em ordem: use o tempo extra gerado pela situação de isolamento social e organize o que precisa – armário, tarefas, biblioteca, sapatos, o que for.
5. Conecte-se com as pessoas: as tecnologias digitais existem para facilitar os contatos sociais. Utilize-se delas para estar em contato com as pessoas importantes para você.
6. Peça ajuda: evite comparar os seus sentimentos com os das outras pessoas. Se você sente que precisa de ajuda, da família, dos amigos ou de um profissional da saúde mental, entre em contato.
7. Cuide do corpo: crie uma rotina de exercícios que possam ser feitos em casa. Cada um escolhe o que lhe faz bem: alongamento, ioga, meditação, andar na esteira, entre outros. Peça ajuda aos profissionais da educação física para que lhe indiquem o que é mais adequado a você.
8. Pratique resiliência: reflita sobre a situação, pondere os aspectos negativos e positivos, busque apoio, fortaleça as virtudes internas, veja como pode ajudar, seja solidário. Isto o ajudará a viver no presente e enfrentar a situação. 

PARA QUEM ESTÁ TRABALHANDO EM CASA

Algumas pessoas estão trabalhando em casa. Assim, é importante considerar alguns  aspectos, como os listados a seguir. Estes foram retirados da reportagem do site da BBC intitulada “Coronavirus: five ways to work well from home”, que foi ao ar no dia 17/03/20. 

1. Vista-se – embora a perspectiva de passar o dia inteiro de pijama seja tentadora, vestir-se para trabalhar colabora para dar um sentido de propósito às tarefas previstas.
2. Estabeleça fronteiras – é importante delimitar claramente o tempo dedicado ao trabalho em casa e às outras tarefas do cotidiano, incluindo as tarefas domésticas.
3. Saia de casa – é necessário sair de casa uma ou duas vezes ao dia. Isto ajuda a relaxar e pode auxiliar na execução das tarefas de trabalho. Em tempo de isolamento social, é preciso considerar se há ou não a possibilidade de sair. Pode ser apenas uma ida ao pátio de casa, sacada ou uma volta no quarteirão.
4. Ligue para familiares, amigos ou colegas – usualmente, se trabalha e se estuda em ambientes com ruído, como escritórios e salas de aula. Se você mora sozinho, ou está em isolamento, pode sentir-se muito solitário em virtude do silêncio. Neste momento, sugere-se ligar para alguém e conversar ouvindo uma outra voz humana.
5. Faça intervalos regulares – é importante alternar entre as tarefas do trabalho e outras atividades. E intervalos são fundamentais. 

ORGANIZE A ROTINA

Organizar a rotina da casa é tão importante quanto organizar a rotina de trabalho. As crianças e os adolescentes precisam de atividades diversificadas, como as seguintes: realizar visitas digitais a museus; escrever (ou desenhar) um diário; conversar com amigos e familiares por telefone ou vídeo-chamada; ler um livro; assistir a um filme; contar histórias da família (do passado e do presente); cozinhar receitas simples; dançar; e também descansar.

A intensificação do convívio familiar pode ocasionar conflitos. Deste modo, é necessário manter uma abertura ao diálogo e à mediação. Respeitar o espaço, seu e dos outros, é vital para uma convivência harmoniosa. Converse e busque saber das necessidades de quem está junto de você.

Se os sentimentos negativos se intensificarem, aumentando a sensação de ansiedade, converse com um amigo ou familiar. Outra opção é ligar para o Centro de Valorização da Vida no número 188 ou entrar em contato pelo chat ou pelo e-mail no site cvv.org.br.

Todas as vivências podem ser fonte de aprendizados, mesmo aquelas que parecem sem sentido. Resgatar a nossa humanidade, a nossa solidariedade, a nossa fraternidade é tarefa vital no momento atual. E nós, profissionais da saúde mental, estamos ao lado de todos vocês prestando todo apoio necessário.

Artigo assinado pelos professores do Curso de Psicologia – Área do Conhecimento de Humanidades da Universidade de Caxias do Sul (UCS)

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