A “Superadotada”

Foi em seu consultório, no centro de Bento Gonçalves, que a psicóloga Sílvia Postal reservou um horário em sua agenda para falar sobre um assunto delicado e marcante em sua vida: o sonho de engravidar. No meio de uma tarde de trabalho, Sílvia deixou a profissão de lado por alguns minutos para falar apenas como mãe. Hoje, aos 45 anos, ela relembra que o desejo da maternidade esteve presente desde a infância. Mas durante quase 15 anos, Sílvia travou uma batalha em busca dessa realização. “É frustrante ter um sonho e não conseguir realizá-lo”, lamenta.   

Com 30 anos, Sílvia precisou realizar uma cirurgia para a retirada de um cisto no ovário. Durante o procedimento, ela descobriu que tinha endometriose, uma doença no útero que não é claramente reconhecida em exames de rotina. Além do diagnóstico inesperado, a remoção de um dos ovários foi inevitável. Rapidamente, iniciou um tratamento com hormônios para controlar a doença e se submeteu a mais uma cirurgia para não perder o outro ovário.

Casada há seis anos, Sílvia fez vários tratamentos para engravidar. Foram inúmeras as tentativas. O desejo do casal era ter uma menina. “Meu marido teve três filhos homens em seu primeiro casamento, por isso a preferência”, explica. A psicóloga também tentou a fertilização artificial, mas os óvulos que produzia não eram saudáveis o suficiente. “Foi um processo desgastante e doloroso”, conta.    

Adoção

Em seu consultório, Sílvia atende principalmente crianças e adolescentes, já trabalhou em uma escola maternal, em uma empresa de recreação infantil, e nunca deixou de lado esse contato com os pequenos. “Durante a vida, vamos fazendo escolhas, temos ideais. Ser mãe era algo que faltava para mim”, afirma. Mas não falta mais.

Em 2009, o casal decidiu adotar uma criança. Apesar dos processos de adoção serem demorados, eles ficaram apenas um ano na lista de espera, pois não desejavam um recém-nascido. Segundo Sílvia, um dos fatores para a demora nas adoções é a exigência de características muito específicas. “Queríamos apenas uma menina saudável, entre três ou cinco anos de idade”, afirma. Em setembro do ano passado, eles conseguiram a guarda provisória da Érica, de cinco anos. “Ela é muito mais do que a gente esperava”, revela.

Foi preciso um período de adaptação para todos. A rotina não é a mesma, os horários são outros e as responsabilidades também. No início, Sílvia estranhou muito, por ser mais uma pessoa dentro de casa. Uma mudança marcante para ela. No entanto, Érica surpreendeu com sua facilidade para se adequar à nova realidade, mostrando-se aberta, amigável e parceira. “A casa nunca mais será a mesma”, diz Sílvia, ao contar sobre os desenhos que a menina faz e gruda por todas as paredes. Sobre o processo da adoção, a psicóloga explica de uma maneira simples e precisa. “Nós queríamos uma filha e ela queria uma família. Nós a escolhemos e ela nos escolheu”.

Primeira vez

Quando chegou, Érica chamava Sílvia de “tia”, algumas vezes “mãe” ou novamente “tia”. Da mesma forma que a menina ainda não a reconhecia como mãe, Sílvia também demorou a verc a criança como sua filha. Mas, aos poucos, as palavras e os sentimentos foram se encaixando nos lugares certos. “Ouvir o som da palavra ‘mãe’ tem muito significado quando realmente nos sentimos mãe, agimos como mães”, afirma.

O sonho se completa nesse primeiro Dia das Mães de Sílvia. “Mãe, eu e o pai temos duas surpresas pra ti, mas eu não posso te contar”, revela Érica, muito ansiosa para que chegue a data. A afinidade entre os três é grande. Apesar dos sete meses de convívio, para a nova mamãe, parece que Érica sempre esteve na família. Um dia, a menina estava contando aos pais coisas que sabia fazer. O casal então brincou: “temos uma filha superdotada”. A menina não deixou escapar o comentário e completou: “Sim, eu sou uma criança ‘superadotada”.

O próximo passo é a mudança para uma nova casa. Érica está empolgada com o projeto e faz até economias em um cofrinho para ajudar na construção. “Ela é muito participativa. Vamos construir uma história”, finaliza.

 

Josiane Ribeiro

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