A vaidade em prol da solidariedade

Cabelos longos, bonitos e saudáveis. Tany Giacomello Piletti, 33 anos, Raquel Braido, 25, e Veronica Proensi, de 26, sempre foram conhecidas pelas madeixas de “dar inveja a qualquer mulher”. Mas, desde a última semana, os elogios têm sido direcionados à coragem e beleza de um gesto: elas cortaram boa parte dos cabelos para doar à Liga de Combate ao Câncer de Bento Gonçalves. Os fios serão utilizados na confecção de perucas para uso de pacientes em tratamento contra a doença – alguns provocam a perda total do cabelo.

Em um mundo onde muitas mulheres cortam os cabelos para vender e que a vaidade vem em primeiro lugar, as meninas surpreenderam amigos, familiares e até desconhecidos. Sem combinar, cada uma buscou uma motivação para cortar. Tany foi a primeira. “Já tinha pensando em cortar, porque estava bem comprido. Mas 20cm mais curto estava quase fora de cogitação”, diz, aos risos. 

Ao tomar conhecimento da iniciativa da Liga e sabendo que o mínimo necessário para a doação é de 10cm, ela decidiu abrir mão das longas madeixas e logo passou a tesoura em 20cm do comprimento. A atitude foi tão legal, que até motivou a filha, Pauline, de apenas 6 anos, a fazer o mesmo. “Quando cortei meu cabelo, ela olhou para mim e disse que também queria cortar e doar. Tentei conversar e explicar que ela não precisava fazer aquilo, mas ela fez questão”, conta a mãe, emocionada. Comovida com atitude da menina, que agora exibe um corte chanel (na altura dos ombros), Tany pretende enviar os cabelos para a instituição “Fada do Cabelo”, em São Paulo, que confecciona perucas para crianças. “A entidade encaminha um certificado e ela vai poder lembrar para vida toda que fez o bem para muita gente”, diz a mãe.


Caso na família

Raquel teve uma motivação ainda maior. Há três anos, ela perdeu a mãe, vítima de câncer de pulmão. Na época do agressivo tratamento contra a doença, a família foi a Caxias do Sul para confeccionar uma peruca que se aproximasse das antigas madeixas dela. Pensando nas muitas mulheres que não têm condições de pagar por uma boa peruca, Raquel abriu mão do cabelo que tanto amava. “Confesso que sofri ao cortar e ainda estou tentando me acostumar. Afinal, não é fácil a gente se olhar no espelho e não ver toda a cabeleira, ou, ao tomar banho, não sentir todo o peso. Mas só de pensar que meus cabelos vão ajudar muita, muita gente, é motivador e muito especial”, conta.

A atitude altruísta de Raquel acabou por inspirar Verônica. Felizmente, ela não perdeu nenhum familiar vítima do câncer e nunca presenciou a dor de alguém ao ver os cabelos caírem. O encontro aconteceu no salão de beleza. “Eu saí de casa apenas para cortar as pontinhas, como sempre. Quando cheguei no salão e vi a Raquel exibindo todo aquele cabelo cortado em prol da causa, foi o empurrão que faltava”, conta, admitindo que sempre teve vontade de deixar os fios mais curtos.

As três mulheres tiveram o cabelo cortado pela profissional Marília Coser, que, inspirada na atitude delas, decidiu isentar o pagamento do corte para quem quiser fazer parte da ação. A ideia é estimular novas voluntárias a promoverem o bem, sem perder a beleza.

Necessidade é de renovação

São centenas de mulheres que buscam na Liga de Combate ao Câncer um alívio para a dor de ver os cabelos caírem. Lá encontram diferentes modelos de peruca: com fios loiros, morenos, ruivos, com mechas, curtos ou médios, crespos ou lisos. De acordo com a presidente da entidade, Maria Lúcia Severa, ainda existem muitos modelos à disposição, mas nem todos têm a qualidade que as pacientes desejam. “Todas as perucas são confeccionadas com cabelos naturais. A gente muda de acordo com o pedido da mulher, cortamos, fazemos mecha, adaptamos ao jeito de cada uma. Mas, com o tempo, elas ficam ressecadas, os cabelos caem e muitas ficam bastante danificadas. Por isso, a necessidade constante de novos fios”, explica.

As doações são repassadas a três salões de beleza da cidade, que confeccionam a peruca, mudam e transformam como a paciente quer, sem cobrar nada. Segundo Maria Lúcia, a maior dificuldade é encontrar perucas de cabelos longos. “Algumas jovens não querem perucas com cabelos curtos e, aqui, temos apenas duas. Essa é outra dificuldade que enfrentamos”, confessa.

De acordo com ela, apesar de parecer apenas estética, a peruca ajuda no tratamento e melhora a autoestima das pacientes. “A atitude dessas meninas de cortar o cabelo é muito bacana. Espero que outras possam se inspirar e contribuir com a Liga”, convoca.

Mais informações sobre a iniciativa: Liga de Combate ao Câncer (3451.4233 ou www.ligaccbg.com.br) ou na Marília Cabelos (Rua República, 161, salas 1 e 2, Cidade Alta. Contato: 3702 5550 ou mariliacabelos@yahoo.com.br ou ainda facebook.com.br/mariliacabelos). 

Reportagem: Raquel Konrad

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