A velhinha de Taubaté

Luis Fernando Verissimo é, para mim, um dos melhores cronistas que já existiram. Apesar de, por algumas posições, principalmente ligadas à política, com sua declarada inclinação “à sudoeste”, ter sido criticado e até deixado de lado por aqueles mais “conservadores”, é inegável que as suas crônicas de atualidade foram, sempre, dotadas de muita inteligência. 

Aliás, o sarcasmo, que é o tipo de humor que prevalece na crônica do Luis Fernando Verissimo, é um tipo de humor inteligente. É necessário, para sua compreensão, muito conhecimento da realidade e da história. E, claro, de muito, mas muito talento. 

Dentre os personagens que fazem parte das histórias de Luis Fernando Veríssimo, a velhinha de Taubaté, para mim, é a mais emblemática. Talvez porque, desde sempre, eu tenha me interessado por política, pela democracia, pelo sistema, pela justiça. Lembro até hoje que, em 1988, quando da Assembleia Constituinte, eu, com apenas oito anos, ameaçado de castigo pela mãe, disse que, de acordo com a Constituição, somente poderia haver prisão em flagrante e, por isso, não poderia ser colocado no castigo. Olha a petulância da criança?! 

Pois é, esse sou eu! E esse eu, que se interessa por política desde sempre, frente a alguns acontecimentos – e alguns comentários – de pessoas por mim admiradas, fica se sentindo a velhinha de Taubaté. Para quem não se lembra, a velhinha de Taubaté era, na crônica do Verissimo, a última pessoa que acreditava no governo. Nesse caso, faço um paralelo e digo que, às vezes, eu me sinto a última pessoa que acredita na justiça. 

Vivemos, nessa última semana, momentos de muita tensão, de parte a parte. E digo isso porque ainda vivemos em um país polarizado, infelizmente. Ainda há quem insista na divisão entre a esquerda e a direita, no nós contra eles. A decisão do Ministro Facchin que anulou os processos do ex-presidente acendeu, mais uma vez, a discussão sobre o assunto. Mais uma vez heróis viraram vilões, vilões viraram heróis. Mesmas pessoas, outro ponto de vista. E o que fica claro, mais uma vez, é que, não contemplando aquilo que a pessoa quer, não há justiça. Sendo contrário àquilo que eu penso ou acredito, não há justiça. Justiça, todavia, não é aquilo que eu quero; não é aquilo que tu queres. Justiça é o que é! É o que é justo, mesmo não sendo bom para mim, mesmo não contemplando meus interesses. Afinal, nem sempre o que eu quero é o mais justo. Então, sim, eu acredito na justiça! Creio que a velhinha de Taubaté também…

Até a próxima!

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