A vida após o diagnóstico do HIV

Às vésperas de ser celebrado mais um Dia Mundial de Combate à Aids (1º de dezembro), a desinformação e o medo de descobrir a doença ainda fazem muitas pessoas não realizarem o exame para o diagnóstico. Buscando conscientizar a população sobre a Aids, Miguel (nome fictício) aceitou relatar sua história e demonstrar que, com o avanço da medicina, a vida continua e deve ser bem aproveitada.

Em média, 24,5 novos casos são registrados por ano em Bento Gonçalves, conforme dados do Serviço de Vigilância Epidemiológica da secretaria municipal de Saúde (SMS), coletados de 1986 a 2011. Desses, 61,3% são homens, dos quais 37,4% com idades entre 30 e 39 anos. Para Miguel, o diagnóstico da doença veio em 2000, então com 46 anos, após ter problemas de saúde. “Estava com febre de 39°C a 40°C e fui para o hospital. Após algumas perguntas, o médico falou que possivelmente eu estava contaminado pelo vírus HIV. Fiz exame de sangue em dois laboratórios e o diagnóstico foi positivo em ambos”, relembra. 

A doença foi contraída em função da dependência química. “Quando se fala em HIV, as pessoas logo associam ao homossexualismo mas, no meu caso, fui contaminado por seringas compartilhadas. Comecei aos 18 anos, fumando maconha, depois virei dependente de cocaína e até cheguei a experimentar crack, mas não gostei. Eu tinha dinheiro para comprar a droga, mas não as seringas. Por isso ia até a casa de um conhecido, onde havia uma gaveta cheia delas. Lavava com água quente e utilizava. Eu sabia que estava correndo o risco de pegar alguma doença, mas mesmo assim continuava pela fissura da droga”, relembra. 

Segundo os dados da SMS, 74,5% dos casos registrados entre 1986 a 2011 são de pessoas que se declaram heterossexuais e em 5,3%, em homossexuais. Outro resultado alarmante do levantamento constatou que houve um aumento de 69,6% no número de doentes que admitiram ser usuários de drogas nos diagnosticados entre 2006 e 2010, em relação ao período de 2001 a 2005. Alguns especialistas relatam que o uso compartilhado de equipamentos de injeção é um dos meios mais eficientes de transmissão do HIV.

Drogas e uma nova doença

Miguel conta que, mesmo após receber o diagnóstico de que era soropositivo, não parou de usar drogas. “Eu aceitei bem a doença e comecei o tratamento. Um amigo cometeu suicídio assim que descobriu, mas eu nunca pensei nisso. Tomava diariamente um coquetel com 16 comprimidos diferentes e mesmo assim não largava as drogas”, descreve. Ele deixou de usar cocaína em 2008, após perder um olho. “Eu estava na fissura e acabei comprando cocaína de um traficante que colocou pó químico de lâmpada fluorescente misturado. Foi como se eu tivesse injetado veneno nas minhas veias. Fui parar no hospital e perdi o olho. No início o globo ocular inchou bastante e depois entrou na cavidade”, conta.

Ao longo desses anos ele procurou ajuda médica e, quando finalmente achou que se livraria do vício da maconha, precisou abandonar o programa. “Estava em um local para tratamento de dependentes e comecei a me sentir mal, engasgava com a comida. O médico responsável achou melhor abortar o tratamento e voltei a Bento Gonçalves, para fazer exames médicos. Foi quando descobri o câncer no esôfago”, relata. 

Hoje ele aguarda o início das sessões de quimioterapia e radioterapia. “A Aids é uma doença que vou levar para a vida inteira. Hoje estou assintomático, ou seja, o vírus está estabilizado. Dos 16 medicamentos que tomei no início do tratamento, hoje continuo com três. Esses problemas apareceram em função de tudo o que eu fiz. Fazendo o tratamento corretamente, o HIV não mata mais”, detalha. Ele diz não ter vergonha da condição e que quer alertar os jovens para que evitem as drogas. “Gostaria de realizar palestras em escolas sobre o quanto a droga é prejudicial. Ela é infame, não leva a nada, só aos caos. Por causa dela, hoje sou uma pessoa sem dentes, cego de um olho, com Aids e câncer. Sou um eterno doente”, desabafa. 

Apoio

Nesses 12 anos de convivência com a Aids, Miguel descreve que tem sido muito importante o apoio da família e do Serviço de Atendimento Especializado e Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE/CTA). “Quem é soropositivo deve fazer o uso correto da medicação”, reforça. É extremamente importante também que os testes para diagnóstico da doença sejam feitos com frequência, porque quanto mais cedo iniciar o tratamento, mais qualidade de vida o paciente terá. 

Onde fazer o teste

No SAE/CTA é realizado aconselhamento pré e pós-teste, a fim de esclarecer as dúvidas sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e facilitar o diagnóstico precoce de doenças como o vírus HIV, sífilis e hepatite B e C. Os exames podem ser realizados de terças a quintas-feiras, nos horários das 8h às 10h30 e das 13h30 às 15h30, através de agendamento pelos telefones 3055 7307 ou 3055 7308. O SAE/CTA está localizado na rua Goiânia, 126, esquina com a rua Salvador, no bairro Botafogo.

Reportagem: Katiane Cardoso


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