AAECO denuncia supressão de mata e riachos no São Vendelino

Associação acredita que obra particular, operando com licenciamento da prefeitura, não estaria de acordo com a lei que preconiza a proteção de nascentes. No local também estaria sendo desmatada uma área superior daquela necessária

Fotos: Divulgação/AAECO

Mais uma grave denúncia sobre possíveis irregularidades ambientais foi feita pela Associação Ativista Ecológica (AAECO) nesta semana. Conforme a associação, a prefeitura teria liberado a supressão de dois riachos em uma propriedade particular no bairro São Vendelino. A licença cedida em outubro do ano passado autoriza o corte de 758 exemplares de árvores nativas para a canalização dos riachos, em uma extensão de 500 metros. A obra está sendo realizada em terreno localizado entre as ruas Eugênio Dalmolin e Arlindo Baccin.

“Eles alegam que os riachos estão poluídos, que é esgoto. Mas um deles está totalmente límpido e transparente. E mesmo que estivessem poluídos, para que existe estação de tratamento de esgoto? Para tratar e devolver a água limpa novamente. Tem que tratar para não ter que canalizar. E não canalizar para não ter que tratar. É como se estivessem colocando a sujeira para baixo do tapete”, comenta o secretário-geral da AAECO, Gilnei Rigotto.

Recentemente uma guarnição do 3º Pelotão de Policiamento Ambiental da Brigada Militar de Bento teria realizado uma vistoria no local, após o recebimento da denúncia. Entretanto, conforme relatório do órgão, “não foi constatada nenhuma irregularidade ambiental”.

Conforme a diretora do IPURB de Bento, Melissa Bertoletti, a solicitação para canalização dos riachos em questão foi feita por moradores da região, juntamente ao Ministério Público, “para solucionar o problema de mau cheiro e esgoto a céu aberto”. Ainda segundo Melissa, após a canalização do “esgoto a céu aberto”, será feita a recuperação da área, conforme preconiza a licença ambiental emitida. “No local deverá ser feita uma estação de tratamento única para tratar os efluentes do loteamento”, complementa.

Questionada sobre os impactos ambientais da ação, Melissa afirma que todas as informações estão descritas nos laudos, os quais indicam as medidas mitigatórias necessárias, “como por exemplo, compensação das áreas verdes, averbação em matriculas, etc.”, cita.

Em conversa com o SERRANOSSA, um biólogo do município que já atuou na secretaria de Meio Ambiente explica que, para canalizar um curso hídrico, são necessários estudos elaborados. “São necessários laudos que qualificam a água, que configuram como esgoto. E o cálculo da vazão também é delicado e demorado. Deveria ser feita uma análise, por exemplo, a cada dois meses, para calcular a média da vazão do curso hídrico. Caso contrário, pode haver problemas na tubulação e vir a causar transtornos às residências”, comenta.

A AAECO solicitou ao Poder Público a cópia das licenças emitidas no local, mas até o momento não teve retorno. “Estou esperando o processo na íntegra para ver quem é o licenciador responsável. E o que mais me preocupa é o riacho limpo. A população não pediu para canalizar o riacho limpo, pediu para canalizar o riacho que está poluído, mas mesmo assim continua sendo um riacho”, desabafa.