Ações inéditas resultam na inclusão de pessoas com deficiência no universo do enoturismo

Parceria entre o IFRS e Vinícola Salton vai permitir que ainda neste ano seja lançado um Guia de Acessibilidade no Enoturismo e um Glossário em Libras do Enoturismo

Fotos: Júlia Milani

Um assunto considerado inédito na Serra Gaúcha, a acessibilidade no vasto universo do enoturismo, está ganhando forma e se tornando realidade em Bento Gonçalves. A novidade só será possível graças a um acordo de parceria firmado entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) e a Vinícola Salton.

Desde setembro do ano passado, pesquisadores e demais profissionais do IFRS estão se dedicando a um projeto que objetiva atender às necessidades de pessoas com deficiência, mas que vai além: permitir que todos os visitantes desfrutem de experiências completas e enriquecedoras no local.

O resultado da pesquisa dará vida ao chamado Guia de Acessibilidade no Enoturismo e ao Glossário em Libras do Enoturismo. Os dois materiais tem previsão para serem lançados ainda neste ano.

Glossário em Libras do Enoturismo

O Glossário em Libras do Enoturismo trará termos do enoturismo que até então não existiam na língua de sinais, tais como: ‘cave’, ‘vinhedos’ e até ‘espumante’, já que até então, não existem sinais-termo em Libras que comuniquem essas palavras básicas do enoturismo, o que prejudica as experiências da comunidade surda dentro do universo da bebida.

Além disso, um dos diferenciais do glossário é o fato de a produção deste material estar sendo feita, desde o início, por especialistas, juntamente com a comunidade surda, garantindo, desta forma, que a novidade seja aplicada pelos principais interessados no assunto.

Guia de Acessibilidade no Enoturismo

Já o Guia de Acessibilidade no Enoturismo contemplará sugestões de iniciativas que podem melhorar a experiência enoturística de diferentes públicos, como pessoas com deficiência visual, auditiva, física, intelectual, múltipla, surdocegueira e Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Para atestar os resultados e tornar as mudanças e aprendizados cada vez mais efetivos e assertivos, pessoas com deficiência participam de momentos de degustação e visitação na vinícola, entre outras atividades.

Outra novidade positiva é que embora o trabalho esteja sendo desenvolvido entre o IFRS e a Vinícola Salton, o material estará disponível para outras empresas e poderá ser replicado em outras vinícolas e empreendimentos interessados.

Além de ser fundamental para a inclusão das pessoas com deficiência, a implementação da acessibilidade em locais e serviços beneficia a todos, inclusive pessoas idosas, com mobilidade reduzida ou com alguma limitação temporária.

Avanços positivos

O projeto de acessibilidade no enoturismo deve seguir até o fim de outubro, com o objetivo de avançar por meio de boas práticas, pesquisa, ciência, vivências e acessibilidade no tópico de direitos humanos.

O coordenador do projeto no IFRS, Anderson Dall Agnol, salienta que pensar em acessibilidade no setor vitivinícola é algo considerado inovador.

“Não temos algo relacionado nesta área, mesmo estando em uma região em que essa atividade é tão importante. Nós tivemos como um desafio grande mapear quais eram as principais demandas da acessibilidade no setor”, afirma Dall Agnol.

Além disso, o profissional também acrescenta que por meio do projeto, deu-se início a uma aproximação com a comunidade surda, que muitas vezes não é consultada, mas que está presente neste projeto.

“Nós estamos trabalhando para desenvolver a acessibilidade atitudinal no setor vitivinícola, que é prepará-lo para receber melhor as pessoas com deficiência”, descreve Dall Agnol.

Na prática

No IFRS, a iniciativa é conduzida pelo Centro Tecnológico de Acessibilidade (CTA). Além das demandas dos estudantes e da comunidade do próprio Instituto, o CTA também atende, por meio de projetos, convênios e parcerias, necessidades relacionadas à acessibilidade digital e tecnologia assistiva da comunidade externa e de outras instituições, como no caso do acordo de parceria com a Salton.

Na prática, a equipe do CTA trabalhou in loco no dia a dia de experiências enoturísticas da Vinícola Salton para identificar quais eram as principais intervenções necessárias em diversos aspectos para chegar ao resultado de uma experiência mais acessível para todos os visitantes.

Um exemplo é a acessibilidade arquitetônica, que compreende espaços físicos sem barreiras, que possam permitir a melhor locomoção e uso dos espaços pelas pessoas.

Por isso, a Casa di Pasto Família Salton, empreendimento da vinícola que inaugurado neste ano, dispõe de piso tátil, sinalização em Braille, elevador e mobiliário com dimensões que facilitam o acesso de cadeirantes com mais independência.

Outro diferencial são os cardápios em Braile e em Libras. Desta forma, pessoas cegas e membros da comunidade surda podem fazer seus pedidos sem precisar de ajuda ou de intérprete, promovendo cada vez mais a autonomia do público.

A coordenadora de Trade Marketing e Customer Experience Nicole Salton, responsável pelo projeto na vinícola, afirma que a partir deste projeto, a empresa está tentando implementar o máximo de adaptações possíveis, para que o maior número de clientes se sinta acolhido e possa desfrutar de todas as experiências ofertadas.

 “A empresa sempre busca equilibrar as dimensões de negócio com os valores humanos, então este é um trabalho que nos orgulha e inspira. As equipes que estão passando por capacitações compartilham vivências muito importantes de aprendizados e evolução quanto ao atendimento e inclusão das pessoas com deficiência”, pontua Nicole.