Adiamentos de feiras continuam impactando economia local

Eduarda Bucco | Raquel Konrad

No dia 13 de março do ano passado, o anúncio do adiamento da Movelsul Brasil, que estava programada para iniciar no dia 16 daquele mês, frustrou entidades e empresas. Mesmo sem nenhum caso confirmado no município, a direção da feira optou pelo adiamento para evitar o contágio. Desde então, todos os demais eventos passaram a ser adiados ou cancelados em 2020, trazendo sérios prejuízos a uma rede de profissionais necessária para a realização de uma única feira. Quase um ano após o episódio da Movelsul, o retorno desses eventos ainda parece distante. Na semana passada, as edições previstas para este ano da Feira de Negócios, Tecnologia e Conhecimento em Meio Ambiente (Fiema Brasil) e da FIMMA Brasil foram novamente adiadas. 

Em Bento Gonçalves, o principal local utilizado para esses eventos é a Fundaparque, que viu sua receita de 2020 diminuir para a metade. Somente em 2019, o espaço foi alocado para 38 eventos, envolvendo temas como Negócios, Cultura, Esporte e Lazer. “Esse número inclui desde formaturas, que reuniam até 300 pessoas, até grandes eventos ou feiras, com público superior a 200 mil pessoas”, explica o presidente da Fundaparque, Edson Pelicioli. 


Foto: Divulgação
 

O ano de 2020 era de grandes expectativas para o espaço, tendo em vista os grandes eventos marcados na agenda. “A previsão era de um ano com mais eventos do que em 2019, mas só foram realizados até a metade de março – entre eles, congressos e formaturas. A partir daí, o período foi de adiamentos ou cancelamentos, impactando diretamente na vida de toda a comunidade”, avalia. 
Diante desse cenário, a diretoria moldou o espaço para receber alguns poucos eventos, colocando em prática os protocolos de segurança contra a COVID-19. “Alguns eventos ao ar livre, reuniões de empresas ou eventos em formato de drive-in puderam ser realizados no segundo semestre. Como nosso espaço é grande, conseguimos garantir aos visitantes distanciamento social entre os participantes, por exemplo”, comenta Pelicioli.  Por conta desse cenário pandêmico, o espaço deverá ser auxiliado com valores financeiros provenientes da administração municipal. 

Para 2021, o presidente acredita que os eventos já possam ser retomados em sua totalidade, mas a expectativa é que o faturamento continue em cerca de 70% do esperado. “Iniciamos 2021 com alguns cancelamentos e adiamentos de eventos. Em 2022, esperamos que a situação normalize por completo”, prospecta. 

Impacto geral

A professora aposentada Teresinha Scotti Dalla Costa começou a trabalhar com feiras e eventos há alguns anos. Sua função é contratar profissionais para atuar na recepção de feiras. “Minha equipe é responsável por filas, informações, guarda-volumes, leitor ótico, credenciamento (expositor e visitantes). Trabalho com Fimma, Movelsul, Fiema, Envase, Wine [South America]”, cita. 
No ano passado, ela afirma que seu faturamento foi praticamente nulo, tendo em vista que conseguiu trabalhar em apenas uma feira, a Mercopar, em Caxias do Sul. “Quando teve início a pandemia em Bento estávamos há três dias de abrir a Movelsul. A feira foi adiada para agosto na expectativa que as coisas fossem melhorar. Não aconteceu. Da mesma forma as outras grandes feiras foram transferidas ou canceladas”, recorda. 


Teresinha Scotti Dalla Costa. Foto: Arquivo pessoal

Diante dessa situação, Tere afirma que muitos profissionais da sua equipe precisaram encontrar outra forma de renda. “Tinha pessoal que trabalhava apenas em feiras, congressos e seminários. Tiveram que se reinventar, procurar trabalho fixo, fazer trabalhos manuais… até em função do isolamento. Todo mundo buscou alguma alternativa”, relata. 

Apesar do período difícil para o setor, a profissional afirma que foi possível aprender com a pandemia e garantir que sejam realizados eventos seguros durante este ano. “A Mercopar foi uma feira que comprovou que, colocando em prática todos os protocolos de segurança, é possível fazer sim”, comenta. “O que deu para perceber com esses protocolos de segurança é que as feiras acabam tendo um público realmente focado no segmento. Não temos aquele visitante que vai para passear. E acredito que com essa volta à normalidade pós-vacinação, aconteça o mesmo com as demais feiras”, analisa. 

A bento-gonçalvense Aline Cervi participa como recepcionista em feiras do município e de todo o Brasil desde 2015, quando estreou na Movelsul. Desde então, a realização desses eventos têm sido sua única fonte de renda. Em 2018, devido à alta demanda, Aline decidiu montar sua própria agência, formando uma equipe de promotoras e recepcionistas da região. “A maioria das agências que me contratavam era de fora, Porto Alegre, São Paulo… e também não conheciam as promotoras e recepcionistas profissionais dessa área de eventos aqui da região. Eu, por ter esse conhecimento, visualizei uma oportunidade de trabalhar nessa demanda que precisava ser suprida”, relata. 


Aline Cervi. Foto: Arquivo pessoal
 

Entretanto, durante a pandemia, Aline precisou migrar para um novo segmento, devido aos cancelamentos das feiras.  “Tive o último evento na cidade de Não-Me-Toque em março de 2020, depois disso tudo cancelado. Foi muito difícil. Não tinha como atuar de nenhuma forma como agência. O setor de eventos foi um dos mais atingidos pela pandemia”, comenta. 

Diante da situação desafiadora, Aline juntou suas reservas financeiras e investiu na venda de roupas on-line. “Eu sempre trabalhei e amo trabalhar com moda, então tive essa ideia. Foi a única maneira que encontrei para poder trabalhar e, graças a Deus, consegui me manter durante a pandemia”, conta. O retorno foi tão positivo que Aline conseguiu transformar o negócio em uma loja física, no centro de Bento Gonçalves, em um curto período de tempo. 

Agora, a expectativa é que os serviços com a agência retornem gradualmente. “Acredito que vamos começar a atuar novamente e faturar como faturávamos no ano de 2022 apenas”, analisa. 

Outros setores afetados foram as redes hoteleiras e os empreendimentos gastronômicos. De acordo com a diretora executiva do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh), Márcia Ferronatto, a pandemia deixou o setor em situação “desesperadora”. “A taxa de ocupação e o fluxo na gastronomia, atrativos, transporte e outros serviços, gerados por eventos é um fatia significativa no faturamento das empresas. Comparando a taxa da última edição da Fimma em março de 2019, por exemplo, estimamos uma queda mínima de 40% (confrontando com mês que iniciou a pandemia, no dia 20 de março)”, revela. “Com o protelamento da Fimma e Fiema vemos o novo ano iniciar similar ao passado, mas a vacina traz esperança por dias melhores”, declara. 

Em uma semana histórica com o início das imunizações contra a COVID-19 no país, a profissional de eventos Teresinha Scotti Dalla Costa finaliza dizendo que, ainda mais importante do que a retomada econômica, é ter a saúde preservada. “Que as pessoas possam ter sua saúde restaurada e que a gente deixe de perder entes queridos, como aconteceu comigo há dez dias, que perdi minha irmã para a COVID. Então além de toda a retomada de trabalho e economia que a gente espera, o mais importante é que a gente possa ter as pessoas com a sua saúde preservada”, afirma.