Água pode estar contaminada

A superpopulação dos dois cemitérios públicos de Bento Gonçalves, nos bairros São Francisco e São Roque, trouxe à tona, nesta semana, uma situação preocupante envolvendo as áreas onde estão instalados os campos santos: a possível contaminação do lençol freático e do solo. Um relatório de 2011, elaborado pela Vigilância Ambiental e encaminhado ao Ministério Público (MP), já indicava a possibilidade de elevada contaminação, mas somente a partir de agora a prefeitura pretende encaminhar a instalação de 7 poços de monitoramento para avaliar os impactos da poluição por necrochorume, o líquido que escorre da decomposição dos restos mortais. 

Nesta semana, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema) aprovou a utilização de R$ 17,5 mil para a implantação dos equipamentos, verba solicitada pela administração municipal e que sairá do Fundo Municipal do Meio Ambiente. Serão quatro poços no São Francisco e outros três no São Roque. Pelo menos um deles pode ficar em uma distância de até 100 metros do local, para avaliar o avanço da propagação.

Responsável pelo levantamento realizado há mais de dois anos, o farmacêutico da Vigilância Ambiental, Artêmio Riboldi Júnior, destaca que o principal fator de alerta é o excesso de necrochorume originado pela lotação dos cemitérios, em especial o Central. A verificação da água de um poço nas proximidades, posteriormente lacrado, já teria indicado a contaminação. “Se for em uma quantidade razoável, o solo consegue mitigar, mas nesses casos está acima. E como passou um tempo desde o estudo, agora pode estar ainda pior”, afirma. No São Roque, indícios da poluição também teriam sido encontrados na terra.

De acordo com Riboldi, a presença do material no ambiente pode trazer prejuízos a plantas, como inibir a floração e a produção de frutos, e também a humanos, caso tenham contato com substâncias tóxicas como a putrescina e a cadaverina, originadas do processo de decomposição de cadáveres. O risco se estenderia também, mesmo que em menor proporção, à rede de água encanada, que poderia ser afetada com eventuais rompimentos de tubulação e à exposição ao material.

Com a colocação dos poços de monitoramento, o acompanhamento dos resultados deverá ser feito pelo menos de seis em seis meses e indicará medidas a serem tomadas para sanar danos à natureza que sejam constatados. A mais drástica delas seria suspender novos sepultamentos em locais onde o problema fosse mais grave.

Situação“ controlável”

O secretário-adjunto de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, Vanderlei Alves de Mesquita, responsável pela administração dos cemitérios públicos de Bento, avalia a situação de uma possível contaminação como “controlável” e diz que o fato chegou ao seu conhecimento na metade do ano. “É algo que deveria ter sido feito, mas foi sendo deixado de lado. Agora, vamos ter que tomar a frente e resolver esse problema o quanto antes, mas não estamos em uma situação de desespero”, salienta.

Mesquita diz que a análise da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) é um pouco mais otimista, mas que, mesmo assim, a prefeitura não pode mais esperar para apresentar uma solução. “Na verdade, nós temos dados muito desencontrados. Mas vamos pensar pelo pior, para evitar justamente que saia do nosso controle”, completa. Segundo ele, a instalação dos poços, que deverá passar por licitação, pode ser feita entre janeiro e fevereiro de 2014.

Também no próximo ano, a administração municipal pretende dar início a um projeto de ampliação de um dos cemitérios públicos. A expansão, conforme Mesquita, já contemplará o tratamento dos resíduos gerados, com uma proposta de revitalização da atual estrutura. “Neste ano, a gente apenas remendou, deu atenção a coisas mais urgentes, como manutenção e limpeza”, explica o secretário-adjunto. Outra mudança será a revisão das taxas cobradas para utilização dos espaços, que tendem a ser reduzidas, mas terão um maior controle na arrecadação. “Depois, os cemitérios terão rubricas próprias para que a gente utilize esses recursos em cada um deles”, conclui.

O necrochorume e os poços

O líquido originado da decomposição dos restos mortais pode chegar, em um corpo de 70 quilos, por exemplo, a até 40 litros, principalmente no período de seis meses após a morte. Apesar de um cadáver ser formado por aproximadamente 60% de água e 30% de sais minerais, ele também contém duas substâncias tóxicas: a putrescina e a cadaverina. Os poços de monitoramento, instalados em perfurações no solo, permitirão a coleta de amostras de água em diferentes locais, para verificar a possível presença destes compostos. Os equipamentos, que custam cerca R$ 2,5 mil cada, impedem o contato externo com outros líquidos, para garantir mais precisão aos testes.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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