Alpinista recolhe sucata para realizar o sonho de conquistar o Everest

A alpinista Aretha Duarte planeja chegar ao topo do mundo em abril de 2021. Pode ser uma metáfora, e de certa forma é. Mas uma metáfora que representa bem o desafio da educadora física natural de Campinas (interior de São Paulo). Aretha planeja escalar o Monte Everest pelo lado nepalês. A montanha é a mais alta do mundo, com 8.848 metros de altura.

 Porém, ela esbarra em um obstáculo a ser superado para concluir a prova, a parte financeira. Aí entra um detalhe bem inusitado da história. Segundo a escaladora, o valor terrestre da expedição é de US$ 43 mil, sem contar equipamentos, voo e seguro específico para essa atividade. Para completar o pacote, ela precisa de aproximadamente US$ 70 mil. Aí surgiu a ideia de trabalhar com material reciclado: 

“Tenho renda da minha atividade profissional como consultora e guia de montanhismo. Mas decidi juntar, selecionar e revender esse material. Está tão forte na minha cabeça a intenção de concluir esse objetivo, que agora não é mais uma luta pessoal. Mirei o cume do Everest e estou conseguindo alcançar muitas outras coisas. 

Entendo que o mundo passa por uma crise econômica por causa da pandemia [coronavírus] e não me senti no direito de pedir dinheiro para ninguém, nem que fizesse rifa ou algo do tipo. O objetivo é juntar lixo e sucata da minha casa, bairro, de amigos. É um trabalho de formiguinha”.


 

Experiência nas alturas
Não vai ser a primeira vez da brasileira no Everest. Ela já esteve no campo base da montanha em 2013, a mais de 5 mil metros de altura. “Em dezembro do ano passado, vendo fotos de expedições no Nepal, vi o Vale do Silêncio, que está 6.400 metros de altura. Achei impressionante e me arrepiei. Achei lindo, e naquele momento quis estar lá, e aí surgiu a vontade de um dia ir”, afirma Aretha.

“O desafio é gigante, mas me sinto superpreparada. Desde janeiro de 2012, visito altas montanhas pelo menos uma vez por ano. Já estive 5 vezes no Monte Aconcágua [montanha mais alta fora da Ásia, localizada nos Andes, na Argentina, com altitude de 6.962 metros], atingindo o cume quatro vezes”, diz Aretha. 

Mesmo não sendo o objetivo inicial da alpinista, concluindo a missão ela escreverá outro capítulo na história do esporte: será a primeira brasileira negra a chegar ao topo do mundo. Até o momento, 25 atletas do país tiveram sucesso, sendo 5 mulheres e nenhum negro. “Não era meu objetivo inicial. Esse conceito ganhou força à medida que divulgava o projeto. Caiu a ficha de que poderia servir como inspiração para muitas pessoas. Independentemente das dificuldades, o importante é correr atrás. Sinto que esse projeto não é mais um objetivo pessoal. É uma realização coletiva de várias pessoas que estão comigo nessa luta”, declara.

Na parte técnica, a atleta ressalta os pontos a serem observados para concluir a missão de uma forma segura: “Excelente condicionamento físico. Experiência de escalada em rocha e em gelo. Bom volume de experiências em alta montanha. Já ter escalado uma montanha de pelo menos 7 mil metros. Isso tudo já alcancei ao longo desses quase nove anos de experiência”.

Em março do ano atual Aretha acompanharia um grupo em visita ao local. “Viajaríamos no dia 14, eu e outras quatro pessoas. Porém, um dia antes as fronteiras do Nepal foram fechadas. Compreendi a questão, por conta da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), mas nesse dia refleti e pensei: a próxima oportunidade será para escalar o topo do Everest”, completa.


 

Após conhecer o esporte aos 20 anos, a alpinista já escalou montanhas em sete países, experiência que marcou sua vida: “Fiquei extremamente apaixonada, pensando: como nunca tinha ouvido falar neste tipo de esporte antes? Moro na periferia de Campinas, e por aqui é comum conhecermos, no máximo, os esportes coletivos. Praticava futebol, mas escalada, montanhismo, nunca tinha tido acesso”.