Andar rápido, andar só
Em um mundo de fragilidades, todos tentam se mostrar fortes. Nunca fomos tão convictos no que queremos, nunca pensamos tanto em viajar e aproveitar a vida, nunca fomos aparentemente tão autoconfiantes: e tudo isso para percebermos que nunca antes fomos assim, tão infelizes.
Homens infantilizados e mulheres extremamente frustradas com a falta de comprometimento. Máscaras para esconder as perturbações latentes que escorrem de semblantes confusos. As maquiagens se intensificam, mas o vazio dos olhos não pode ser disfarçado. Roupas bonitas e relógios carros, perfumes importados e lugares requintados, mas pelas ruas de qualquer lugar nada é tão claro quanto a avenida que também nos abita: rua da solidão, número zero.
Quem diria que justamente a geração “mundo nas mãos” seria a mais desarticulada das gerações? Quem diria que nos tornaríamos tão apegados ao fútil e tão descrentes da essência?
Somos uma das gerações que menos transa: sim, o sexo, algo agora tão banal, se tornou produto raro. Poucos realmente transam, pois quase todos estão mais preocupados em falar do que fazer. Somos a geração que falha na hora H, que trava nos objetivos de vida, que não sabe bem no que acreditar. Filhos? Casamento? Fidelidade a algo? Por quê?
Em um mundo de ondas rápidas, nós definitivamente ainda não aprendemos a surfar. Um tsunami emocional inutilmente contido com idas a psicólogos, psiquiatras, remédios e vícios. Bebemos como faziam os antigos, mas, ao contrário deles, não extrapolamos coragem e estupidez, mas, sim, apenas a covardia de não saber-se, não assumir-se e, assim, nada ser-se.
Somos os novos sonhadores, os convencidos de que poderíamos ser o que assim desejássemos. Somos os novos sonhadores que hoje, ao contemplarmos o espelho, não vemos mais nem o sonho, nem o sonhador: há uma nuvem que relampeia em neon um grande letreiro de “fomos enganados”. Mas por quem?
O mundo pacificado se mostrou um sonho perigoso, unificação pressupõe que um lado está certo. Mas em um mundo de tantos lados, em qual apostar? Se a tecnologia nos domina, se nunca foi tão fácil conhecer pessoas, por que parecemos agora tão desconhecidos a nós mesmos?
As pessoas simplesmente pararam de tentar entender o que sentem, assim, sem o próprio herói da consciência, todo sentir se tornou um vulto a gerar insegurança. Chegamos ao ponto em que jovens temem ficar um sábado à noite em casa pois não suportam nem a própria patética companhia.
Onde estão todas aquelas conexões tão prometidas? Por que, afinal, o mundo que me cerca não é igual ao mundo virtual? Onde está toda a diversão prometida pelo universo do HD? E a liberdade de sermos o que quisermos? Se posso transitar tão fluidamente entre perfis, redes sociais e mensagens instantâneas, por que não consigo transitar em minhas angústias e dialogar com minhas frustrações?
Falamos tanto de amor, sobre se doar, fazer do mundo um grande coração de paz… mas lá no fundo mal suportamos nossos parentes. Não que estejamos violentos: é pior do que isso, pois a violência na maior parte das vezes emana da convicção, mas o que vemos hoje é um exército de perdidos. As pessoas não sabem mais o que querem, quando querem e se realmente querem.
Ricos que engordam esquecendo a saúde. Gente bem sucedida que se enterra nos laços emocionais. Relacionamentos que terminam com a mesma velocidade que surgem os “te amo” adolescentes. O mundo ficou muito rápido, muito perto, muito ali… na esquina. O que ninguém talvez imaginava é que quanto maior a velocidade das coisas, mais opções de velocidade existem. É isso: as pessoas aprenderam sobre ter um próprio ritmo, mas desperceberam que, às vezes, andar rápido também significa andar só.