Angústia no lugar do entusiasmo

O Esportivo voltará a atravessar as fronteiras do Estado, mas para enfrentar um adversário fora das quatro linhas. Nove auditores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidirão nos próximos dias, no Rio de Janeiro, o futuro do clube.

Em entrevista concedida ao SERRANOSSA após a participação no Gauchão, o presidente do alviazul, Luis Oselame (foto), exaltava entusiasmo. Orgulhava-se de todos os salários terem sido pagos em dia, o que possibilitaria, após duas temporadas, a continuidade do futebol no segundo semestre. A sentença do Pleno do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), no entanto, caiu como uma ducha de água fria no planejamento. O entusiasmo deu lugar à angústia diante da possibilidade de um recomeço incerto. Caso o STJD mantenha a decisão da segunda instância do tribunal do Estado, o clube voltará à segunda divisão e, por consequência, não apenas deixará de contar com aproximadamente R$ 800 mil nos cofres (cota da FGF aos times do Gauchão), como também precisará administrar uma série de prejuízos decorrentes do desgastante processo na justiça desportiva, pouco para clubes mais afortunados, mas uma desmesura difícil de abater para aqueles mais modestos, que fecham as portas por meia temporada forçados justamente pela difícil realidade financeira.

Toda a punição ao Esportivo, até aqui, foi discutida e sentenciada sem unanimidade, o que deixa um fragmento de esperança na tentativa de reverter a situação. No primeiro julgamento, dois dos quatro auditores votaram pela extração de pontos, enquanto os demais condenaram apenas com multa em dinheiro e perda de mandos de campo. Prevaleceu, assim, a decisão mais branda. No segundo, também houve divergência de interpretação sobre o artigo 243-G do CBJD, mas dessa vez, por cinco votos a três, a sentença foi a mais rígida possível, sem precedentes no futebol brasileiro. 

O controverso artigo indica que a perda de pontos é cabível quando o ato discriminatório “for praticado por considerável número de pessoas vinculadas a uma mesma entidade de prática desportiva”. Dos oito auditores, cinco entenderam que os torcedores podem ser considerados vinculados à entidade, enquanto outros três não julgaram da mesma forma, e assim prevaleceu a sentença mais opressiva. Além disso, o texto é dúbio quando refere-se a considerável número de pessoas.

Após a decisão da última quinta-feira, dia 10, a direção optou pelo silêncio e evitou a imprensa. O vice-jurídico do alviazul, Rodrigo Terra, limitou-se a avaliar a condenação como “uma enorme injustiça”. Na segunda-feira, dia 14, o clube enfim emitiu uma nota, na qual externou sentimento de iniquidade, ratificou repudio à discriminação racial e enfatizou colaboração na identificação dos responsáveis.

A data do julgamento do STJD ainda não está definida. Enquanto ele não acontece, a agonia vai se estender, com uma única certeza: independente da decisão, os prejuízos já são inevitáveis e o entusiasmo de outrora dificilmente será o mesmo. 

 

Reportagem: João Paulo Mileski

 

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