Animais mortos não devem ser enterrados
A perda de um animal de estimação é, na maioria das vezes, motivo de comoção, afinal, eles estão cada vez mais inseridos como membros da família. Mas o que fazer quando o bicho morre? A dúvida é frequente e, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), 70% das pessoas optam por enterrar o bichinho no quintal da própria casa. Acontece que a atitude é considerada ecologicamente incorreta e pode causar contaminação e danos a saúde.
De acordo com a médica veterinária Analiz Zattera e com o farmacêutico Artêmio Riboldi Junior, ambos da Vigilância Ambiental de Bento Gonçalves, vinculada à secretaria municipal da Saúde, o maior problema de enterrar os animais nos quintais de casa ou em terrenos é a contaminação de possíveis cursos de água e lençóis freáticos da região. “Além disso, é possível que ocorra a proliferação de insetos se o animal não for bem enterrado. Se o fluxo de necrochorume (líquido originado a partir da decomposição) entrar em contato com fissuras do sistema de condução de água potável em momento de pressão negativa ocorrerá penetração nos condutores e, após o retorno da pressão positiva, esse material será fornecido junto com a água potável, podendo assim ocasionar danos à saúde de quem ingerir esta água”, explicam os profissionais.
Por mais estranho – e insensível – que pareça, o ideal seria colocar o corpo do animal (se for de pequeno porte) junto ao lixo orgânico. “Animais que morrem em casa, por atropelamento por exemplo, podem ser encaminhados para coleta de lixo orgânico desde que bem embalados em sacos de lixo fortes e identificados para que não haja perigo de ir para o lixo reciclável. A melhor destinação destes animais, hoje, é o aterro sanitário”, explica Riboldi.
Em relação aos animais de grande porte, a prefeitura, através da secretaria do Meio Ambiente, recolhe somente os que morrem em via pública. “O proprietário deverá encaminhar o animal por conta própria. Geralmente animais maiores devem ser destinados para o transbordo”, salienta Analiz.
Outra opção em relação aos animais de estimação é levar o corpo para uma clínica veterinária, que cobra uma taxa que varia de acordo com o peso do animal. A empresa, então, encaminha o animal para ser incinerado.
Cemitério de animais é opção
Há quem ache inconcebível jogar o companheiro canino ou felino no lixo ou aterro e queira enterrar o animal em um local onde ele possa ter um descanso eterno tranquilo e digno. Pensando nisso, há 20 anos foi criado o cemitério de animais Saúde Animal. Localizado no interior de Nova Petrópolis, é o único empreendimento deste tipo no Rio Grande do Sul.
De acordo com Flávio Luiz Wender, médico veterinário e sócio-proprietário do cemitério, o local foi criado em função de necessidades que surgiram na época, mas que existem até hoje. O cemitério está instalado em um lugar calmo, junto à natureza. “Oferecemos três tipos de serviço: cremação, cemitério comunitário e cemitério parque. Atualmente, nosso forno crematório está em fase de licenciamento pelo Órgão Ambiental da Fepam”, explica.
No cemitério comunitário é possível enterrar mais de um corpo por túmulo. “O cliente paga somente um valor fixo”, explica Wender. Já o cemitério parque é diferenciado: é um animal por túmulo. “O cliente paga um valor inicial, que inclui um túmulo, a lápide de concreto, o sepultamento e a utilização de nossa capela para a realização do velório. A lápide pode ser trocada por uma de mármore, com gravação de nome, datas e até mesmo uma foto, fica a critério do cliente. Para manutenção e cuidados, é cobrada uma anuidade dos clientes que escolhem essa opção”, destaca.
Atualmente, 46 animais de estimação estão enterrados no local. O investimento varia conforme o tipo de sepultamento: no comunitário é cobrado de R$ 130 a R$ 180, dependendo do peso do animal. No cemitério parque, o valor pago inicialmente é de um salário mínimo do ano vigente e a anuidade é 50% deste valor.
“Jamais jogaria meu Zé no lixo”
José Claudio, ou simplesmente Zé, era o melhor amigo de Luana Carina Azzolin. Cão companheiro, ele acompanhava Luana nas viagens, na faculdade de Medicina Veterinária e até viu de perto a construção do maior sonho de sua “mãe”: uma clínica para cuidar de bichinhos que, assim como ele, são a paixão de Luana. Embora sua passagem tenha sido intensa na vida dela, também foi muito curta. Aos três anos, Zé foi atropelado e morreu na hora. Transtornada e “sem chão”, ela quis dar um fim digno para aquele que lhe deu tantas alegrias.
O cemitério de animais de Nova Petrópolis foi o local escolhido. “Uma colega minha de faculdade estagiou na Saúde Animal e falou que o cemitério era lindo, bem cuidado e repleto de paz. No dia seguinte da morte, fomos até lá e confirmamos tudo isso. Em uma capela, nos despedimos dele”, conta. Como um cemitério de pessoas, no local é possível deixar flores, cartinhas e visitar diariamente o amigo. “Jamais jogaria meu Zé no lixo. Nem posso pensar nisso. Ele foi tão querido em minha vida, que queria um local que eu pudesse sempre lembrá-lo”, emociona-se.
Para Luana, o ideal seria que todos os municípios tivessem um cemitério para animais. “Seria o ideal, necessário e importante, mas sabemos o quanto é difícil. Afinal, precisa ter um lugar apropriado, uma estrutura que mantivesse o local sempre bem cuidado, enfim. Quem sabe um dia Bento possa ter um”, espera a veterinária.
Reportagem: Raquel Konrad
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