Antagonismos

Diferentemente de paradoxo, que traz a ideia de contradição, antagonismo tem como significação principal a oposição. Ambos, por sua vez, em um primeiro momento, ao que parece, nada têm a ver com diferenças, pura e simplesmente, já que as diferenças carregam, também, semelhanças.

Explico!

Na atualidade, cada vez mais, estimula-se a dualização das coisas, das situações, das agremiações, das pessoas. Eu costumo dizer que temos o hábito de grenalizar toda e qualquer situação. É da natureza humana competir, afinal, todos nós, principalmente da minha geração, fomos estimulados a termos as melhores notas, a chegarmos sempre em primeiro, principalmente os que têm irmãos… Minha geração, para quem não sabe, é aquela que já bateu a casa dos 40, aquela que nasceu em uma das últimas décadas das músicas boas no Brasil.

Notou que essa minha colocação já traz uma tentativa de provocar uma situação de oposição, de antagonismo? Afinal, quem sou eu para ditar o que é música boa, né?!

De qualquer sorte, é inegável que pensamentos iguais não trazem crescimento. São as divergências, as oposições que o provocam.

Quem não lembra, tempos atrás, de uma polêmica envolvendo o ex-governador Olívio Dutra, tratando do episódio da perda da empresa Ford, que se instalaria na cidade de Guaíba, RS, para Camaçari, BA, quando a ele foi atribuída uma das célebres frases de Nélson Rodrigues? 

Naquela ocasião, tomou corpo e se popularizou na minha geração, ou talvez no meu meio, já que eu não a conhecia, que “toda unanimidade é burra”.

Conhecido pelo seu sarcasmo, humor ácido, e por ser politicamente incorreto, Nélson Rodrigues foi contista, dramaturgo, colunista, cronista e jornalista. Tem uma vasta obra, sendo considerado o maior nome do teatro no Brasil, de todos os tempos.

Pois bem, Nélson Rodrigues, e não Olívio Dutra, que fique bem claro, quando nos diz que “toda unanimidade é burra” está querendo, também, nos mostrar que nas contrariedades, nas adversidades, surgem boas coisas. E sempre surgem.

Temos visto, ao longo desses longos quase 50 dias de distanciamento social, ou isolamento, como queiram, o surgimento de novos negócios, novas situações, novas formas de ver o velho. Isso tudo, por óbvio, é a oposição daquilo que vínhamos vivendo antes, a abundância, o excesso de “contatinhos”, de vida social, de eventos, de trabalho frenético, etc. 

Semana passada, na página do Instagram de um colega, advogado, do Paraná, estava escrito que “o pessimista é o otimista bem informado”. Apesar de não concordar com isso, percebemos que, mesmo coisas que podem ser consideradas antagônicas, como pessimismo e otimismo, dependendo de sua interpretação, como nesse caso, podem ter a mesma raiz.

Eu, como já percebeu por meio das minhas colunas quem está me dando a honra de acompanhá-las semanalmente, sou um otimista incorrigível. Pelo menos estou um otimista incorrigível, nesse estágio de lapidação que me encontro. Recuso-me, por essa razão, a concordar com o colega. Porém, ele é jovem há mais tempo que eu, e está lidando com as alegrias e agruras do direito há mais tempo que eu. Talvez eu mude de opinião, ainda, ao longo do tempo. 

De qualquer forma, e seguindo meu instinto otimista, preciso concordar com Nélson Rodrigues e, também, com Olívio Dutra, de que “unanimidade é burra”. Os antagonismos, as oposições, são necessários à boa reflexão, ao bom e velho debate, ainda que este se dê de maneira profícua também com ideais complementares.

Que essa grenalização imposta sirva par ao nosso crescimento e desenvolvimento em geral, como nação e como seres humanos e não como palco para disputas de posições e egos, como se tem visto. E que os antagonismos nos sirvam, também, de baluarte da esperança. Até a próxima!
 

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