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Antes de tudo, limpar a sujeira

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A sensação de pertencermos à história e de que a escrevemos é fascinante. O poder do pertencimento é tão necessário a todos nós que a cada quatro anos somos convocados às urnas como se individualmente definíssemos o futuro das mais de 200 milhões de pessoas que aqui vivem. Mais do que a democracia, vivenciar as eleições é automaticamente se declarar fundamental a esta nova história prestes a ser escrita.

Quando olharmos para trás, que tipo de sensação teremos? Quais serão os novos rumos que em 2018 desenhamos? A polarização que hoje nos salta aos olhos é um claro produto de um Brasil que precisa urgentemente se redescobrir. As mentiras ecoadas por décadas já não servem nem como placebo a um povo que, de tão sofrido, descobriu-se com ódio: ódio da inércia, dos erros repetidos, das mentiras que nos condenaram a viver em um dos piores lugares do planeta.

Há um mar azul à nossa direita e favelas intermináveis à nossa esquerda, mas essas favelas não demonstram um simples desequilíbrio social: não, há um problema muito mais sufocante diante da nossa mendiguez constante: nós vivemos a maior crise moral de nossa história.

Famílias em colapso, jovens sem valores, o desrespeito sendo passado a novas gerações como uma praga que consome vastas plantações. Vivemos a crise mais cruel que uma nação pode ter, uma crise medida pela inversão de valores, pelo “não valor” de nada.

Que chegaríamos à beira do abismo? Isso todos podiam prever, mas não que chegaríamos tão rápido. Não, nosso problema não está na corrupção, não está nos engravatados que ocupam Brasília: nosso problema não é a merenda que foi roubada das crianças, nem o petróleo que serviu para ocultar os bilhões que eram roubados do povo. Nosso principal problema é moral, é na virtude, é na desvalorização do ser humano e sua essência perante a sociedade.

O que vivemos hoje em nosso país é o acúmulo do inacreditável, é a dor de uma desordem que começa dentro de casa, do filho que não honra pai e mãe, do pai e da mãe que entregam o filho a um sistema educacional corrompido e não o vigiam perante a desordem hoje implantada dentro das próprias escolas.

O olhar jovial de vinte anos atrás hoje revela o cansaço daqueles que foram vencidos, dos que mastigaram a fé e hoje sentem a náusea de uma culpa confusa. Nós falhamos com o Brasil. 

Falhamos quando acreditamos em falsas promessas, falhamos quando deixamos os pilares sociais serem subvertidos à ideia de que esses pilares eram, na verdade, as falhas de nossa sociedade.

Discutimos aqui questões como a liberação das drogas e do aborto. Falamos sobre feminicídio, direitos dos gays e gênero sexual a ser discutido nas escolas. Ocupamos nossas discussões com questões de primeiro mundo. Mas, enquanto isso, o motor de nossa sociedade se destrói, as famílias colapsam destruindo laços que poderiam – esses sim – decretar um novo futuro a essa nação tão atormentada.

Há uma esperança em nosso horizonte, mas uma esperança construída em cima da descrença. Nos últimos anos, muitos de nós aprendemos não sobre o que queremos, mas, sim, sobre aquilo que não mais queremos. E essa será a marca dessas eleições: um pleito construído não sobre a busca de um novo lugar, mas sobre a destruição de um velho lugar que fracassadamente tentamos construir e que, por fim, quase nos destruiu por completo.
Neste horizonte longínquo, o sol não brilha, tudo o que se vê são nuvens de tempestade, uma tempestade que nós plantamos e alimentamos. Não há solução imediata a um país tomado por escombros. O que de melhor podemos fazer hoje é limpar a sujeira que permitimos que se acumulasse até quase nos sufocar.

Não há um Brasil para o amanhã: nossos erros foram muitos. O que de melhor podemos fazer é aceitar que o hoje está perdido e, pela primeira vez, pensarmos realmente no futuro. O imediatismo nos levou a esse inferno, o desespero nos fez acreditar nos próprios causadores do caos. Agora, ou começamos a limpar a casa ou a promessa de um futuro não caberá nem mesmo a nossos filhos.
 

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