Após afirmar que mulheres “estão ficando inteligentes”, vereador Raquete diz que se expressou mal e pede desculpas
Na sessão da última segunda-feira, 19/04, uma frase dita pelo vereador Leopoldo Benatti, o Raquete, líder do Republicanos, vem repercutindo nas redes sociais. Isso porque, em meio ao seu discurso, ele proferiu que as mulheres “estão ficando inteligentes”. Raquete falava sobre a falta de representatividade feminina na Câmara e acusou os partidos de não apoiarem as candidatas em suas campanhas.
Ao falar sobre as críticas ao trabalho dos legisladores, Raquete afirmou que está na Câmara para trabalhar e sugeriu a quem acha que “nenhum vereador presta” que se candidate. Ele também falou que se Bento quer ter um deputado, o candidato tem que começar a trabalhar agora, percorrendo bairros, formando bases e visitando os municípios. “Tem que trabalhar dois anos antes se quer se eleger”, ensinou. Foi nesse momento que o vereador fez a afirmação que gerou polêmica. Ao citar o projeto de apoio às mulheres, apresentado pelo vereador Thiago Fabris, Raquete disse: “As mulheres, coitadas, eles [os partidos] pegam elas de última hora, 10 dias antes, fazem elas concorrerem, não dão nada pra elas, não dão um bairro para trabalhar, como vão eleger mulher? A gente tinha duas na Câmara, agora não temos nenhuma”, afirmou.
Raquete sugeriu que os gestores precisam dar cargos importantes para as mulheres antes de lançá-las como candidatas. “Por que muita gente chega aqui [na Câmara]? Porque atuou como secretário, diretor e as mulheres não têm isso daí”, acusou. “Tem que chamar as mulheres, dar serviços para elas fazerem, para elas se promoverem”, ensinou. Em seguida, Raquete disse: “Vai chegar na próxima campanha e não vai ter mulheres, porque elas estão ficando inteligentes agora. Elas vão dizer que só ‘estão nos usando’”, finalizou.
O SERRANOSSA procurou Raquete que, por WhatsApp, afirmou que “na realidade ele estava elogiando as mulheres e tinha intenção de ajudá-las”. Isso porque, segundo ele, muitos estão cobrando a ausência de mulheres na política. “Nós já saímos em vantagem, porque assumimos secretaria, cargos no governo, enfim. As mulheres não. Elas estão sozinhas, sem apoio. E muitos partidos prometem um monte de coisa e depois na campanha abandonam, só dão o santinho e tchau. É isso que eu quis dizer”, explica Raquete. “É obrigado ter 30% nos partidos e eu só quis dizer que nenhuma vai concorrer sem apoio. Eu até peço desculpas pela minha colocação, não tem problema nenhum, mas minha intenção foi outra. Minha índole eu conheço. As pessoas que mais me ajudam são mulheres, tenho carinho muito grande por mulher, tenho duas netas, duas noras, nunca faria nada contra mulher. Só quis falar sobre a dificuldade de colocar elas na política”, complementa.
A advogada Vanessa Dal Ponte, pós-graduanda em direito da mulher, foi uma das muitas mulheres que se sentiram incomodadas com as manifestações do vereador. “Não estamos ficando inteligentes, sempre fomos. Vocês que custaram a perceber e admitir. A fala infeliz foi seguida da tentativa de justificativa que usa o escudo das mulheres da família. Acho que toda retratação é importante, mas ela não pode ser a única coisa. O que a gente precisa é de uma mudança muito maior. É preciso um engajamento maior para além do pedido de desculpas e da retratação. Eis aí o claro exemplo do machismo estrutural. Não que seja uma justificativa, mas é uma explicação. Então eu pergunto: até quando vamos manter essa roda girando? Até quando ensinaremos nossas crianças com esses comportamentos inadequados que mantém esse machismo institucionalizado?”, questiona.
Para ela, há uma clara necessidade de tratar com prioridade as iniciativas voltadas ao combate ao machismo. “A educação de gênero não pode ter uma aplicação genérica, precisa ser um instrumento específico de ações e diretrizes próprias. “Não lhes parece clara a necessidade de buscar uma solução ao invés de justificativas?”, finaliza.
Um projeto de lei apresentado no Dia da Mulher deste ano pelo vereador David Da Rold (PP), que, entre outras questões, indicava ações de conscientização e educativas ao combate ao machismo não teve parecer favorável no jurídico da Câmara e, por conta disso, não avançou. De acordo com Dal Rold, um projeto substitutivo será apresentado na semana que vem.