Após oito anos, Guilherme Pasin encerra seu mandato como prefeito de Bento
Eleito pela primeira vez em 2012, com 44,80% dos votos, o prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), construiu uma longa história junto ao município. Com 29 anos, o político entrou com a proposta de renovação, lema da coligação formada por seu partido e pelo PMDB. Em 2016, foi reeleito com uma aprovação ainda maior: 65,62%. Após oito anos à frente da prefeitura de Bento, Pasin encerrará seu mandato no próximo dia 31/12, deixando a porta da Casa Amarela aberta para a chapa eleita Diogo Siqueira e Amarildo Lucatelli, os quais foram diplomados na quinta-feira, 17/12.
O SERRANOSSA entrevistou Pasin na última terça-feira, 15/12, que fez uma avaliação sobre os dois mandatos, as conquistas para o município, as frustrações e alguns pontos polêmicos que envolveram sua gestão. Confira:
Foto: Raquel Konrad
SERRANOSSA: Como você avalia o seu governo?
Pasin: Muito mudou na cidade. Hoje Bento é uma cidade que enxerga o futuro. Que está com 2% de desemprego. Que foi reconhecida como a melhor saúde pública do estado do RS, em municípios acima de 100 mil habitantes. Cidade que é segundo lugar no ranking de educação no estado. Uma das cidades mais admiradas para se viver. Que aumentou em 150% seu fluxo de turismo em razão de políticas públicas e do ativismo dos nossos empreendedores. O fim de uma jornada não se resume na entrega das chaves de um imóvel e sim em entregar ao seu sucessor uma situação muito melhor do que tu recebeu. Recebi a prefeitura quebrada e entrego ela com os cofres cheios de condições de investimentos.
SERRANOSSA: Os primeiros quatro anos de prefeitura contaram muito com os ensinamentos do ex-prefeito Darcy Pozza. E no segundo mandato já se observou um Pasin mais seguro de seus propósitos e com espírito de liderança. O que foi essencial para sua consolidação como prefeito de uma cidade com a importância de Bento Gonçalves no cenário estadual?
Pasin: O que eu trago de mim e o que aprendi muito com pessoas como o Darci, é que eu gosto de gente. Quem quer governar tem que gostar de pessoas, se preocupar com as pessoas. Comecei com 29 anos e veja, enquanto muitos ainda estão na balada curtindo a vida, a gente já estava administrando um orçamento e uma cidade. Hoje encerro já pai de família, com dois filhos, com 37 anos e com a convicção de que procurei fazer o melhor.
SERRANOSSA: Ao longo dos últimos anos, grandes obras foram projetadas e acabaram não saindo do papel, como a sede do centro administrativo e da biblioteca, e as parcerias público-privadas. O que impediu a concretização desses projetos?
Pasin: Muitos falaram ‘a, porque o Pasin não quis fazer a Biblioteca Pública na Praça Centenário’. Não é isso, o projeto caiu por si, porque quando o governo do meu antecessor inscreveu o projeto, o município estava devedor, então o projeto não foi recepcionado. Mas eu imagino a Biblioteca Pública em um local diferente, enxergo que o Palácio Municipal hoje, todo aquele espaço tombado, deva receber, no futuro, a Biblioteca.
Sobre as PPPs, o caminho mais tranquilo para todo gestor é fazer aquilo que todos já fazem, mas aí o resultado é igual. Eu busquei coisas diferentes. Fomos o primeiro município a trabalhar com a PPP. E tá pronta, elas estão sendo ajustadas porque são contratos muito grandes, da iluminação pública e dos resíduos sólidos urbanos, e temos muita preocupação com qualquer vírgula. Tem que ser perfeito.
Em relação ao Complexo Administrativo, a locação de ativos passou a ser uma teoria estudada nos últimos cinco anos. Antes nós imobilizávamos capitais, pegávamos financiamentos e construíamos prédios. Hoje mudou a teoria do investimento e da administração de recursos públicos. A locação de ativos passou a ser algo muito melhor. Eu não imobilizo meu capital, invisto em educação, em saneamento, como é o caso da primeira Estação de Tratamento de Esgoto que estamos entregando junto com a Corsan. Eu busco colocar dentro dos ativos de aluguéis uma condição que seja factível de pagamento. Porque o investimento é por conta do locador. Se eu conseguir diminuir ainda mais a estrutura conseguimos diminuir o custo que a gente tem.
SERRANOSSA: Na área da saúde, outro grande anseio da população é o hospital do trabalhador. Por que não foi possível concluí-lo em oito anos?
Pasin: Nossa preocupação não era apenas em ter um novo hospital, e sim em manter um novo hospital. Optamos por modelar ele, fatiar esse projeto. A UPA tivemos que fazer um grande investimento para torná-la utilizável. Habilitamos ela e tornamos ela viável sobre o aspecto financeiro. Depois investimos em uma lógica: para ter nossa UPA, nós precisamos ter laboratórios para fazer as análises clínicas e laboratoriais dos exames dos pacientes. Fizemos todo nosso laboratório, ele está pronto, funcionando com equipamentos de primeira linha. Depois entendemos que o hospital também precisava ter sua função odontológica, então fizemos o centro de especialidades odontológicas e habilitamos junto ao Ministério da Saúde. Depois trabalhamos a primeira etapa do bloco cirúrgico. E agora a segunda etapa. Todo passo que a gente vai dando, a gente vai buscando fonte de financiamento.
Calhou de nós termos uma estrutura parcialmente pronta, que era os andares de internação e, no início da pandemia, nós termos a possibilidade de captar recursos emergenciais com o empresariado local e também recursos públicos, para que pudéssemos fazer uma obra que atendessem as vítimas de Coronavírus. E ai o empresariado deixou muito claro, se era pra fazer algum investimento era para fazer algo permanente. E hoje nós podemos dizer que temos um Complexo Hospitalar de Saúde, inclusive registrado junto ao Estado, com leitos de internação, com mini leitos de UTI. Inclusive cinco delas estamos buscando habilitação junto ao Estado. Temos dois bloquinhos cirúrgicos que funcionam para pequenas situações, mas que são blocos cirúrgicos. Então agora faltaria continuar as obras da segunda etapa do bloco cirúrgico e, depois, concluir um andar a mais de leito de internação. Vamos ampliando aos poucos.
SERRANOSSA: Muito se fala sobre os recursos recebidos para combate à pandemia, que somaram cerca de R$ 26 milhões. O que foi feito com esses recursos?
Pasin: Quanto a recursos a gente tem que dividir eles. Um para investimento nas ações do Coronavírus e outro que foi destinado no projeto de auxílio aos municípios. São recursos que seriam utilizados para compensar a baixa na atividade econômica. Esses são distribuídos em todas as secretarias, os demais são utilizados para combate ao Coronavírus. Tudo está especificado em nosso portal da transparência. Cerca de R$ 9 milhões foram repassados para o Hospital Tacchini.
Tivemos uma ação muito clara que poucas pessoas se dão conta. Até março deste ano tínhamos 20 leitos de UTI no Hospital Tacchini, sendo que 13 eram SUS. Não apenas dobramos, mas aumentamos isso, fomos a 50 depois reduzimos a 45, porque o Tacchini passou a ter dificuldade com suas equipes internas. Lembrando que os leitos de UTI não dependem apenas de camas e equipamentos, o maior custo disso são as equipes multidisciplinares. A despesa existe porque a equipe está ai, mesmo o leito desocupado. Temos a maior proporção de leitos de UTI por habitante de toda nossa região. Foi feito todo processo de estruturação, com compra de ventiladores, aluguéis de respiradores, compra de EPIS…
SERRANOSSA: O que você tem a dizer sobre a festa de comemoração da vitória de Diogo e Amarildo, que foi muito criticada pela população pela falta de cuidados relativos ao Coronavírus?
Somos muito cobrados pela noite da vitória. Num processo de externar a alegria, sair nesse momento de emoção, tu acaba perdendo esses teus filtros e tu exacerba teu sentimento de vitória. Não foi muito responsável isso e a gente pede desculpas por aquele momento. Mas o impacto daquilo foi 10 dias, que é o ciclo viral, e hoje faz 30 dias daquele momento, ou seja, o que estamos vivendo hoje não tem relação alguma com aquele caso. Não podemos aceitar terceirização de responsabilidade quando o problema é coletivo. Momentos de excesso todos temos. Agora justificar aos terceiros as nossas falhas a gente não pode. Então a gente assumiu nossa responsabilidade. Pedimos desculpas e agora não temos mais reflexos daquilo. Agora precisamos nos cuidar.
SERRANOSSA: Recentemente foi divulgado que o município encerrará o ano com um caixa de R$ 40 milhões. Qual a origem desses recursos?
Pasin: Esse foi o dado prévio, porque vamos enxergando esse número mais claro e verdadeiro com o passar dos dias, até o encerramento das nossas contas. Mas vai ser mais de R$ 40 milhões, chegando a cerca de R$ 53 milhões.Nós temos 121 contas da prefeitura municipal, cada uma delas com sua especificidade. Cada uma delas tem superávit, não vamos encerrar com nenhuma negativa. Por que não foi feito mais? Por que trabalhamos com uma tese apresentada pelo governo central e pela situação mundial de que a economia fosse retroceder muito a partir do Coronavírus. Então nós seguramos. Quando passou a metade do ano, nós entendemos que, diferentemente das outras praças, Bento Gonçalves estava com cenário diferente. Muito embora alguns setores pontuais carecessem de uma previsão de desenvolvimento, os outros estavam crescendo. Então falamos: bom, garantimos o encerramento do ano. Nosso zelo com as contas públicas fez com que tivéssemos esse resultado e, a partir disso, passamos a entender que poderíamos investir ainda em 2020. E estamos investindo em tudo que podemos, com obra no interior, obras na cidade, obras na educação, na saúde, com zelo, cuidado com recurso público. Mas os processos de licitação são demorados.
SERRANOSSA: Quanto ficará de dívida para os próximos governos?
Pasin: Nenhuma, porque não são contas devidas. Uma política de financiamento público, de obras em investimentos, não pode ser considerada um problema porque os juros são subsidiados. Eu prefiro pegar um R$ 1 milhão do município e colocar como contrapartida num recurso captado de financiamento do que simplesmente investir um milhão. Eu colocando recurso como contrapartida em juros subsidiados do governo federal para financiamento, consigo transformar isso em R$ 5, R$ 10, R$ 15 milhões. E obviamente os investimentos de R$ 15 milhões são muito maiores. Todos os recursos são trabalhados na sua captação. O governo não consegue captar recursos sem análise de crédito, não consegue captar sem aprovação legislativa e a aprovação legislativa não se dá se eu não fizer uma análise de impacto econômico financeiro. Tudo que foi captado está dentro do nosso escopo de desenvolvimento, ou seja, o dia a dia paga.
Eu pego como exemplo o conjunto de obras do bairro Fátima. Era um bairro sem investimento em infraestrutura. Nós fizemos não apenas investimentos na praça que já estava bonita, fizemos todo investimento no entorno. Fizemos pista de caminhada, pavimentação asfáltica em várias ruas, investimento em drenagem e macrodrenagem na região. Agora estamos construindo uma escola municipal infantil. Todos esses investimentos fizeram com que o ânimo da comunidade viesse à tona, e aí temos a população investindo nas fachadas de suas casas, valorizando seus imóveis, construindo equipamentos habitacionais, puxando investimentos na área comercial da região. Todos esses investimentos privados valorizaram o entorno, resultaram em arrecadação tributária para o município e isso pagou todo o investimento que o município fez. E nossa arrecadação somente subiu. Nós passamos de R$ 323 milhões de orçamento em 2013 para R$ 555 milhões em 2020, sem aumentar R$ 1 de tributo.
SERRANOSSA: Em relação ao processo que corre na Justiça Eleitoral sobre a chapa Diogo e Amarildo, qual sua opinião sobre as acusações?
Pasin: O que eu posso dizer é que não teve de forma alguma ato de improbidade meu. Não existiu uso da máquina pública ou recurso público para beneficiar alguém ou para ir contra algum adversário. As matérias publicadas no site da prefeitura, em sua maioria, foram informes epidemiológicos do Coronavírus, e também notícias de situações ocorridas em Bento Gonçalves, desvio de trânsito, campanha de vacinação, anúncio de uma nova licitação, nova obra, nunca se falou de candidato algum. Mas a Juíza entendeu de forma diferente, a gente respeita. Por isso que existe uma instância superior, que é o Tribunal Regional Eleitoral. Ele vai ter o condão de julgar o ato. Acho que Bento Gonçalves não merecia essa situação, mas é do jogo.
Sobre a minha situação a gente entende. Todos sabem que eu almejo essa representação de Bento Gonçalves na Assembleia Legislativa, nunca escondi meus desejos porque sou uma pessoa pública. Aí a gente entende que existe um movimento muito grande para me tornar inelegível por oito anos para que eu não dispute 2022. E a gente entende. O sucesso de algumas pessoas pelo trabalho machuca muitas pessoas que não conseguem chegar ali.
SERRANOSSA: Nesta semana teve a aprovação da reposição salarial dos vereadores. Você irá vetar esse aumento?
Pasin: Eu vejo que o político precisa ser bem remunerado. Não estou falando que eu desmereço um ano pandêmico e com problemas. Estou dizendo que o processo político não pode ser desprestigiado e nunca pode ser corrompido sob o aspecto de sua independência. O político, na essência, precisa ser remunerado de uma forma proporcional ao que ele entrega à sua comunidade. Todos são eleitos, nenhum é colocado sem o apoio de uma grande maioria.
Estamos falando em reajuste inflacionário. Se ele não for dado, ano que vem ele pode ser somado com o atual. Eu acho que vereador algum pode ser colocado em uma situação que um projeto de lei possa vir a sustentá-lo, que ele possa ser corrompido por um voto, e de forma alguma que ele possa ser manipulado por alguém que domina um meio de comunicação. Eu já fui achacado por meio de comunicação. Uma pessoa já me ligou e disse que se eu não ajudasse a pessoa iria acabar comigo. E eu não ajudei, porque eu não posso ajudar com recurso público, não posso comprar a opinião.
SERRANOSSA: Qual a sua expectativa em relação ao próximo governo? Você pretende contribuir de alguma forma com a nova gestão?
Pasin: Todos os momentos exigem uma carga e um investimento de foco. O meu momento de foco vai ser até o dia 31 de dezembro. Estou me preparando há bastante tempo para vestir as vestes de ex-prefeito. Eu quero estar à disposição do governo e da cidade de Bento Gonçalves para aquilo que os gestores que assumirão a prefeitura acharem por bem. Quero fazer minha função de aconselhamento, mas não estarei no governo municipal.
SERRANOSSA: O que você pretende fazer a partir do dia 1º de janeiro? Quais são suas pretensões políticas de agora em diante?
Pasin: Quero agradecer a todo cidadão de Bento Gonçalves, aquele que me apoiou e aquele que é contrário a mim. Com o nosso dinamismo, com a nossa visão de mundo, a gente construiu essa cidade maravilhosa. E eu pude ser uma parte do desenvolvimento do nosso município. A gente entrega esses oitos anos com legados incríveis, com mais de 800 obras, com visão de futuro, planejamentos estratégicos. São planos de desenvolvimento, são caras diferentes, setores diferentes, perspectivas diferentes e, obviamente, quero me desculpar por toda frustração que eu possa ter causado em cima das expectativas criadas. Posso não ser o mais perfeito do mundo, mas eu sou daqueles que não durmo pelo fato de me preocupar em ser cada dia melhor e entregar mais para a minha comunidade em termos de resultado.
A partir de janeiro vou para o meu momento breve de introspecção, de saída de cena, de respeito às novas lideranças, vou me dedicar à minha família, que eu deixei em terceiro plano durante todos esses oitos anos. Não pude participar do desenvolvimento da minha filha Ana Beatriz. Não pude acompanhar esses primeiros momentos do Vicente, não pude ser um bom marido em razão das minhas ausências. Então, por isso, quero agradecer muito a Cynthia e toda minha família por terem suportado. E aí, a partir disso, tenho que cuidar da minha vida. Tenho meus projetos de futuro, não pessoais, mas coletivos, e obviamente vou estar cruzando por todos na rua, porque essa é minha terra e tudo que eu puder fazer por Bento eu vou fazer. Então muito obrigado, foi um prazer ser prefeito de vocês.
A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA PODE SER CONFERIDA NESTE LINK.