Aprendizado para filhos de agricultores

Fazer com que o jovem permaneça no campo e assim contribua para a continuidade do trabalho na lavoura é um constante desafio. Muitos optam por ir para a cidade em busca de oportunidades de emprego, o que prejudica o desenvolvimento da agricultura. Às vezes, a troca do campo pela cidade se dá por falta de informação e conhecimento sobre como a propriedade rural pode se transformar em negócio lucrativo. Nesse sentido, a criação de uma Escola Família Agrícola (EFA) na Serra Gaúcha pode trazer um novo cenário para a região. Trata-se de uma escola sediada em Garibaldi e voltada para filhos de agricultores na qual, além do conteúdo didático presente na grade curricular das escolas tradicionais, os estudantes terão contato direto com conteúdos relativos à vida no campo. A previsão é de que as primeiras turmas iniciem as aulas no próximo ano. 

A EFA adota a chamada Pedagogia de Alternância, que mescla períodos em regime de internato na escola com atividades em casa. Os alunos têm as disciplinas regulares do currículo do Ensino Médio, além de outras voltadas à agropecuária, abrangendo especialmente as culturas da região. Quando retornam para casa, devem desenvolver projetos e aplicar as técnicas que aprenderam em plantações e criações da família. A EFA é gerida por uma associação formada pelos pais dos estudantes. Ao final dos três anos do Ensino Médio, os estudantes ganham diploma, reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Cerca de 30 famílias dos municípios de Bento Gonçalves, Boa Vista do Sul, Coronel Pilar, Garibaldi, Monte Belo do Sul e Santa Tereza devem participar da associação.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento da Agricultura de Bento Gonçalves, Gilmar Cantelli, apenas 30% dos jovens têm a intenção de permanecer no campo. “Entre os que ingressam na Escola Agrícola Familiar, o índice sobe para 70%”, comenta. Em compensação, entre os que frequentam a escola na área urbana, o percentual cai bastante. “Se restar 5% que queiram permanecer na agricultura, é muito”, complementa.

O ensino aplicado tem o objetivo de valorizar a propriedade rural. Na proposta metodológica das EFAs, o aluno escolhe um tutor que vai acompanhá-lo ao longo do ano e as aulas seguem um plano de estudo baseado nas vivências que os jovens têm nas suas próprias famílias e comunidades. “O estudante é monitorado na escola e também em casa”, destaca. Na visão de Cantelli, com esta metodologia se cria o gosto pela agricultura. “O aprendizado vai auxiliar a desenvolver outras atividades e diversificar as culturas na propriedade. Para o jovem querer ficar no campo, ele precisa de informação e qualificação”, acrescenta.


Sede em Garibaldi

As tratativas para a implantação de uma EFA na região iniciaram em outubro do ano passado, de acordo com o secretário de Agricultura e Pecuária de Garibaldi, Jorge Mariani. Na última semana, a associação que vai comandar a escola foi formada. “É um momento histórico”, comemora. Mariani explica que o próximo passo é encaminhar a documentação para credenciar a escola junto ao Estado. Os professores que vão lecionar na EFA passarão por uma especialização de 200 horas antes de lecionar. “Já temos uma lista de 25 profissionais interessados”, conta.

Em um primeiro momento a instituição ocupará o anexo do prédio onde funciona a Escola Santo Antônio, em Garibaldi. Para o futuro, a intenção é buscar recursos do governo federal para construção de uma sede em terreno de quatro hectares localizado nas linhas São Gotardo e São Pantaleão, no interior de Garibaldi. Até que a construção não seja viabilizada, as aulas ocorrem no anexo e as atividades práticas no interior.

 
Pré-requisitos

O pré-requisito para participar da Escola Família Agrícola é ser filho de agricultor. Famílias de estudantes que estão na 8ª série do Ensino Fundamental e que têm interesse em participar do projeto podem entrar em contato com a secretaria municipal de Desenvolvimento da Agricultura de Bento Gonçalves, através do telefone 3055 7107.

 
Saiba mais

A metodologia da Pedagogia de Alternância foi criada por camponeses da França em 1935. A intenção era evitar que os filhos gastassem a maior parte do dia no caminho de ida e volta para a escola ou que tivessem de ser enviados de vez para morar em centros urbanos. No Brasil, a iniciativa chegou com uma missão jesuíta, no Espírito Santo, em 1969. Logo se espalhou por 20 Estados, em áreas onde o transporte escolar é difícil e a maioria dos pais trabalha no campo. Até 1998, os estudantes que se formavam nessas instituições ainda precisavam prestar um exame supletivo para conseguir o diploma, mas no ano seguinte o regime foi legitimado pelo MEC. 

 
Reportagem: Carina Furlanetto

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