As divergências de pensamentos sobre a visita do ministro Luiz Marinho em Bento Gonçalves

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A deputada federal pela Serra Gaúcha Denise Pessôa e o vereador de Bento Davi Da Rold têm opiniões divergentes sobre a visita, seu significado e resultados

Foto: Lucas Marques

Na última segunda-feira, 20/03, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, esteve visitando Bento Gonçalves. O principal objetivo do ministro foi de alinhar as ações em relação ao caso de trabalho análogo à escravidão, descoberto na cidade em 22 de fevereiro, quando 207 trabalhadores – a maioria baianos – foram resgatados de situação insalubre em um alojamento, localizado no bairro Borgo – leia  a matéria completa sobre a visita do ministro.

“Estamos aqui pra dizer que precisamos trabalhar conjuntamente para erradicar o trabalho escravo. Nós precisamos enfrentar de maneira muito séria este debate. Queremos que o vinho brasileiro seja orgulho e isso [o caso dos trabalhadores em situação análoga à escravidão] vem manchar a imagem do Brasil lá fora. Precisamos debater não só pela questão econômica, mas pela questão humana. Queremos solucionar. Queremos atuar para resolver os problemas e evitar que possa acontecer novamente em qualquer local do Brasil”, disse Marinho.

Na primeira reunião, realizada no Salão Nobre da prefeitura, estiveram presentes, além do ministro e sua comitiva, o prefeito de Bento, Diogo Siqueira, o vice Amarildo Lucatelli, vereadores, deputados estaduais e federais, representantes de entidades e demais autoridades.

Contudo, a visita do ministro causou divergências de pensamentos sobre o seu significado. O SERRANOSSA conversou com dois representantes políticos que estiveram presentes na reunião com Luiz Marinho: a deputada federal Denise Pessôa (PT) e o vereador de Bento Davi Da Rold (PP). Denise é da base do governo federal e Da Rold não apoia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para Denise, a visita de Luiz Marinho e a reunião com os setores tiveram como objetivo principal organizar as medidas a serem tomadas. “É bem positiva essa visita do ministro, porque ele vem no sentido de organizar essa relação de trabalho para que a gente realmente tenha, realmente, trabalho digno aqui [Bento Gonçalves]. A gente sabe que essa questão do trabalho análogo à escravidão ela acontece no Brasil todo. Apareceu alguns casos aqui [Rio Grande do Sul], são minorias, precisam ser coibidas sim, mas a gente também precisa reconhecer que a maioria dos trabalhadores aqui da agricultura familiar, eles fazem o seu trabalho dignamente, respeitam as normas trabalhistas, então acho que a gente precisa dar mais visibilidade para entender que a Serra como um todo, são casos pontuais, não é o reflexo de como a Serra se comporta. Ver quais são as dificuldades para empregar esses trabalhadores, de forma correta, e também pensar medidas que possam facilitar e auxiliar, mas claro, sempre respeitando o trabalho digno”, pontuou Denise.

Já Davi Da Rold acredita que a visita do ministro foi bem-vinda, mas que não trouxe soluções. “Eu realmente esperava que fosse ser uma reunião resolutiva, uma reunião onde se buscasse trazer soluções. E na verdade, me pareceu muito mais uma reunião política, estritamente política. O ministro veio aqui para dizer que as vinícolas eram culpadas, apesar de o delegado da Polícia Federal ter falado, na semana passada, que as vinícolas não tinham envolvimento nenhum nos trabalhos análogos à escravidão e mesmo as vinícolas já terem feito o Termo de Ajuste de Conduta. Além disso, ele veio aqui para ficar falando do golpe da Dilma [Rousseff, ex-presidente], citou erros do governo Bolsonaro e muito pouco propôs do futuro”, disse à reportagem.

Na visão da deputada, o governo Lula busca soluções para problemas intensificados pela gestão Bolsonaro. “Bom, o último governo [Jair Bolsonaro], a gente sabe que teve um descuido com a fiscalização do trabalho, a gente viu uma redução da fiscalização, o que acaba fomentando o trabalho análogo à escravidão, ou o trabalho que não segue as regras. Então agora, esse governo vem no sentido de fiscalizar e garantir que o trabalho seja respeitado e garantido […]. Então, qualquer pessoa pública [classe política] não pode achar que isso é normal, violar direitos humanos, violar os direitos trabalhistas.”

Segundo o vereador, Bento aguardava por novidades em relação à formalização dos profissionais, com um pensamento já na próxima safra, pois essa seria a principal preocupação do setor. Ainda de acordo com o parlamentar, o ministro comentou sobre “trabalho em conjunto”, mas também trouxe culpabilização e nenhuma informação sobre segurança jurídica e trabalhista, tanto aos produtores rurais e vinícolas, quanto aos trabalhadores. “A gente estava esperando que o ministro viesse com boas notícias, com resoluções, com soluções para essa situação e, principalmente, medidas de segurança jurídica para os trabalhadores, para a dignidade humana, e também para a contratação por parte dos produtores e das vinícolas, mas ele veio aqui, me parece, muito mais para apontar o dedo. Inclusive, dizer que a legislação precisa ser muito mais burocrática, pelo o que ele falou. Falou que a máquina pública precisa de mais estrutura. Óbvio que sim, a gente precisa de mais fiscalização, mas a gente precisa de medidas que não ‘burocratizem’ mais ainda a contratação para a formalização desses profissionais. A gente precisa de uma legislação que seja flexível para contratação e formalização, e também traga segurança para o contratante e para aquele que é contratado.”