As paredes do Museu (re)contam a história
Antes da restauração da parte estrutural do Museu do Imigrante, foi a “destruição” que começou a apresentar importantes informações a respeito do prédio centenário, fechado desde agosto de 2010. O descascamento das paredes internas da edificação revelou a existência de várias modificações realizadas ao longo dos anos, especialmente nas divisões entre cômodos – esse aspecto original deverá ser retomado, intervenção que não estava prevista no projeto.
Responsável pela elaboração do projeto, ainda em 2006, o arquiteto William Pavão Xavier, da empresa Patrimonium Arquitetura, explica que a presença desses “novos” elementos não chega a ser uma surpresa em obras deste tipo, mas é de extrema importância para se alcançar o máximo de fidelidade à estrutura original. “Algumas evidências bastante simples, como o vão de certas aberturas, que eram inferiores a outras, nos mostravam que houve intervenções, mas não se tinha registro algum delas. A nossa pesquisa inicial tinha mostrado pouca coisa. Com a retirada do reboco, ficou mais claro como era a geometria do prédio e sua ocupação”, aponta.
Duas das modificações descobertas eram mais recentes: em um dos casos, era utilizado concreto armado em alguns vãos; em outro, uma tábua de madeira fazia as vezes de viga. As duas situações não condiziam com o período de construção da edificação centenária. Foi na terceira alteração localizada que se chegou ao modelo original: arcos de tijolos sobre as aberturas, com a mesma argamassa de barro utilizada no restante do empreendimento. “Isso é um sistema muito antigo de arquitetura e coincide perfeitamente com as aberturas remanescentes. Assim, percebemos que só houve movimentação dessas aberturas, mas não se construiu ou destruiu paredes”, detalha Xavier.
A pesquisa para tentar coletar mais informações sobre como era e funcionava o prédio do Museu do Imigrante também contou, até aqui, com a participação de pelo menos uma ex-moradora do local, o qual funcionou inicialmente como sede da Estação de Sericicultura, mas, depois, chegou a operar como hotel. Coordenador da captação de recursos para o restauro por meio da Lei Rouanet, o jornalista e produtor cultural Fabiano Mazzotti conta que a senhora, hoje com 89 anos, confirmou o desenho antigo dos espaços internos. “Ainda existem algumas incógnitas, porque não temos fotografias antigas de dentro. São as paredes, e depois algumas pessoas, que estão nos dando essas informações importantes”, afirma.
Os rodapés pintados também escondiam, em algumas partes, ladrilhos com ilustrações. A escada que dá acesso ao pavimento superior, possivelmente, também tinha outra colocação, já que, na posição em que se encontra atualmente, bloqueia de forma parcial uma porta que leva aos fundos.
Depois de anos de incertezas, Xavier – que já fez duas vistorias recentes no Museu – avalia o período atual com bastante otimismo. “Os recursos estão captados, os profissionais que estão trabalhando são muito bons e têm plena capacidade de conduzir o trabalho e nós fiscalizamos a obra. Não acredito que tenhamos mais problemas”, analisa.
Outro ponto que ele considera muito importante é o impulso que o projeto pode dar a iniciativas semelhantes no futuro. “Bento ainda não tem essa cultura e também é nosso dever difundir a questão da educação patrimonial, mostrar como é importante preservar. Nós estamos discutindo isso, e uma forma de ajudar a incentivar ações desse tipo poderia ser, por exemplo, levar estudantes para visitar a obra e entender como funciona um processo de restauro”, conclui o arquiteto.
Prazos
Embora tenha prazo de um ano, a fase de restauração estrutural, que iniciou em setembro, pode ser concluída em um tempo menor, possivelmente ainda dentro do primeiro semestre de 2016. O trabalho de revitalização das aberturas deve ser finalizado até dezembro deste ano e inclui, também, um sistema de drenagem ao redor do prédio. Restaria ainda uma última etapa, que prevê a informatização e medidas de acessibilidade, com destaque para a instalação de um elevador na parte de trás do prédio, que passará a ser a sua entrada principal.
Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
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