As reações à visita de Nicolás Maduro ao Brasil

Deputados e senadores de oposição à Lula questionaram a presença do presidente venezuelano no país, o apontando como ditador, e chamaram o encontro com o presidente brasileiro de algo “repugnante”

Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, chamado por muitos de ditador, está em solo brasileiro para um encontro com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesta segunda-feira, 29/05, Maduro e Lula tem uma reunião e almoço. Na terça-feira, 30/05, ambos os chefes de Estado participarão da cúpula de líderes da América do Sul, que será realizada em Brasília. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, 11 presidentes estarão presentes no evento.

Contudo, a presença de Maduro tem gerado comentários de revolta e insatisfação, principalmente, da oposição à Lula, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal.

O senador Sérgio Moro (União-PR), antigo desafeto de Lula, escreveu no Twitter o seu desagrado com a visita do venezuelano. “O Brasil voltou a receber com honras de Estado ditadores sul-americanos, desta vez Maduro. Outro sinal negativo para a comunidade internacional pelo Governo Lula. Será cobrado do ditador o restabelecimento da democracia e dos direitos humanos na Venezuela?”, disse.

Mauricio Marcon (Podemos), deputado federal pela Serra Gaúcha, chamou o ato de “repugnante”. “É repugnante ver um ser desprezível como Maduro ser recebido em nosso país com honrarias militares. Lula envergonha a nação ao receber um homem que destruiu seu país e trouxe tanto sofrimento ao seu povo. Aos que fizeram o ‘L’, tenho certeza que se tivessem sofrido o que os venezuelanos sofrem na mão desse canalha, o mínimo que poderiam sentir neste momento era vergonha por terem ajudado a eleger esse descondenado que apoia e busca implementar a mesma desgraça para nosso país”, escreveu também no Twitter.

O deputado federal Zé Trovão (PL-SC) enviou um ofício à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, nesta segunda-feira, 29/05, no qual informa sobre a presença de Maduro em terras brasileiras e pede informações sobre “quais medidas podem ser adotadas pelo governo americano para captura deste criminoso”.

Confira o ofício:

Em 2020, o chefe do Departamento de Justiça dos EUA, William Barr, apresentou acusação criminal contra Maduro por tráfico internacional de drogas. À época, os EUA anunciaram recompensa de U$ 15 milhões para quem ajudasse a capturar o presidente venezuelano.

No ofício, Zé Trovão informa a presença de Maduro no Brasil e cita que o presidente venezuelano consta no site do Drug Enforcement Administration (DEA), como “procurado por autoridades norte-americanas, acusado pelo procurador-geral dos Estados Unidos, sr. Willian Barr, dos crimes de narcotráfico, terrorismo internacional e corrupção”. O documento é endereçado à embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley.

“Manifesto a essa Embaixada minha indignação pela presença do ditador venezuelano em solo brasileiro, ao tempo em que peço informações de quais medidas podem ser adotadas pelo governo americano para captura deste criminoso”, escreveu o deputado federal. Além de Maduro, outras autoridades venezuelanas foram acusadas de “terem participado de uma associação criminosa que envolve uma organização terrorista extremamente violenta, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e de um esforço para inundar os Estados Unidos com cocaína”.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizou Lula pelo Twitter.

Hamilton Mourão (Republicanos), atual senador pelo Rio Grande do Sul e ex-vice-presidente da República, relembrou um fato da campanha presidencial das Eleições de 2022. “Na campanha de 2022, o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] determinou a retirada de inserções que associavam Lula a ditadores como Maduro e Ortega. A presença de Maduro no Brasil é uma vergonha para brasileiros e um desrespeito ao bom povo venezuelano. Maduro é acusado de torturas, desaparecimentos, agressões e crimes contra a humanidade. Lula, ao receber Maduro, mostra que não tem compromisso com a democracia e nossos valores!”, disse.

Flavio Bolsonaro (PL-RJ), senador e filho do ex-presidente Bolsonaro, disse que a presença de Maduro no país é um desrespeito. “Lula demonstra, mais uma vez, a sua falta de compromisso com a democracia ao receber o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, acusado de crimes contra a humanidade, como assassinatos, tortura, agressões, violência sexual e desaparecimentos. Lula desrespeita não só os brasileiros como também os venezuelanos!”, publicou no Twitter.

Deltan Dallagnol (Podemos-PR), deputado federal cassado pelo TSE, também questionou a visita. “O recado do ditador Maduro é claro: se não ganharem nas urnas, eles caçam os seus opositores. Uma democracia em que opositores são perseguidos e apenas aliados têm voz. Essa é a democracia que o Lula defende?”, pontuou.

Agenda e debate

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que os dois presidentes deverão debater os avanços no processo de normalização das relações bilaterais – iniciado em 1º de janeiro último -, incluindo a reabertura das respectivas embaixadas e setores consulares e a recente designação do Embaixador da Venezuela no Brasil.

Na última semana, Lula recebeu as credenciais do novo embaixador do regime de Nicolas Maduro, da Venezuela, no Brasil, Manuel Vicente Vadell Aquino. O documento é uma formalidade que marca o início da atuação do diplomata no Brasil. Um embaixador assume o posto depois de entregar os documentos ao governo do país onde irá atuar.

Em março de 2020, o Brasil retirou seus diplomatas que trabalhavam na embaixada do Brasil na Venezuela, em Caracas, capital do país. O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não reconhecia o governo de Maduro.

“Na reunião, os dois mandatários deverão examinar temas prioritários para o adensamento do diálogo em todas as áreas da relação. Nesse sentido, os presidentes tratarão dos resultados da recente missão multidisciplinar à capital venezuelana, organizada pela Agência Brasileira de Cooperação e que contou com representantes de mais de vinte órgãos governamentais brasileiros. Atenção especial será atribuída aos temas fronteiriços, com destaque para a proteção das populações que residem nessa faixa, entre elas os povos Yanomami”, informou a nota do Ministério das Relações Exteriores.

*Com informações do site Metropoles