As Romarias e os Gafanhotos

Nascido em Nova Prata, cidade de que gosto muito, mas morador de Farroupilha desde antes de nascer o meu primeiro dente de leite, tenho uma veia religiosa pulsante como a maioria dos imigrantes italianos, no meu caso também com um temperinho alemão. Ainda mais que eu fui criado, por conta dos compromissos profissionais dos meus pais, pela minha avó materna, a D. Jovita, que no mês de julho completa 91 anos de idade, de muita sabedoria e amor. Aliás, a vovó, na semana do seu aniversário, terá uma coluna só dela. Vovó essa responsável pelo temperinho alemão. 

Como morador de Farroupilha por muitos anos, até adotar Bento Gonçalves como cidade do coração, por óbvio que a Romaria de Nossa Senhora de Caravaggio sempre foi uma constante na minha vida. Inicialmente, por ser feriado escolar, e depois pela importância e influência que sabemos que Ela tem no contexto religioso católico, apostólico, romano. Neste ano, porém, a Romaria de Nossa Senhora de Caravaggio teve uma característica especial. Ao contrário do que ocorria nos anos anteriores, quando padres e bispos diocesanos conclamavam os fiéis a visitarem a igreja, neste ano, lotando estacionamentos e arredores da igreja, estes conclamaram seus fiéis a que, de casa, prestassem seu amor, temor e gratidão à Santinha de nossa devoção.

Isso era 26.05.2020. 

O mesmo ocorreu em 13.06.2020. Ainda que a Dra. Ana Júlia Predebon – a advogada que fez busca e apreensão do meu coração, ficando com ele só para ela, e eu não recorri – e eu não estivéssemos em Bento Gonçalves nessa data, soubemos que não houve qualquer festejo oficial. Soubemos, claro, de alguns teimosos que insistiram em sair às ruas, mesmo com as proibições e restrições, mas que oficialmente as orientações foram de permanecer em casa, prestando suas devoções e louvores, sem aglomerações. 

O mesmo aconteceu com São João. 

São João tem uma importância ímpar na minha vida, na minha história. Eu nasci no Hospital São João Batista, hospital de Nova Prata. Para mim, é uma honra saber que nasci no hospital que tem o nome do apóstolo responsável pelo anúncio da chegada do Messias, do Salvador, Jesus Cristo. 

São João Batista é tido como o precursor da vinda de Jesus, o filho de Deus, o Criador, à Terra. Todos nós, de qualquer idade, vivemos, convivemos e nos divertimos em festas de São João. Pipoca, quentão, pinhão, fogueira, farra, diversão, festa, pescaria, barraca do beijo, etc., etc., etc. 

Neste ano de 2020, porém, nada disso nos foi possível. Nada disso será possível. As festas de São João, pela impossibilidade de aglomeração, não ocorrerão. As belas fogueiras, danças, filas para diversão, também não acontecerão. Ficará 2020 na lembrança de todos nós, do ano em que não houve festas ou formação de quadrilhas para diversão. 2020 será o ano em que nenhuma escola ou instituição pôde, aos sábados, reunir seus alunos, professores e/ou apoiadores para um momento de diversão sadia e alegria. Que atire a primeira pedra quem não tem uma boa lembrança de quando esteve na cadeia de uma festa junina…

Hoje, a única aglomeração possível, pois impossível controlá-la, ao que parece, é a de gafanhotos. Esta nada tem de Romaria, mas talvez de sobrevivência da espécie. Aliás, a Bíblia sugere que São João Batista teria, em tempos remotos, se alimentado de mel e gafanhotos. Tomara que não seja essa a razão pela qual eles, os gafanhotos, estejam se dirigindo para cá… 

Fiquemos todos bem! Até a próxima!

 

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