Aumento no preço dos alimentos obriga mudança de hábitos

A diarista Jandira Rodrigues de Freitas, mãe de cinco filhos, depende das faxinas para pagar aluguel, luz, água, gás, transporte e a alimentação dela e de boa parte da família. As compras semanais no supermercado que antes somavam R$ 280 hoje ultrapassam R$ 500. A alta dos preços nas gôndolas tem chamado a atenção dos consumidores. O arroz e o óleo de soja já acumulam alta de 19,25% e 18,6% ao ano, respectivamente. O feijão tem inflação acima dos 30%. De acordo com o IBGE, outros produtos como manga, cebola, abobrinha e leite longa vida subiram até 62%.


Valorização do dólar, aumento das exportações e período de entressafra fazem o arroz ser um dos itens com maior aumento no preço neste último mês. Tendência é de elevação

E, para quem espera preços menores nos próximos meses, a expectativa dos especialistas não é otimista. Como é época de entressafra, é difícil que os valores caiam tanto até o início de 2021, pelo menos. De acordo com economistas, dois fatores explicam a alta dos alimentos: dólar alto, que incentiva os produtores a aumentarem as exportações, reduzindo, assim, a oferta de produtos no mercado interno, e o auxílio emergencial, benefício do governo federal que estimulou o aumento do consumo. Foi direcionado, em grande parte, para a população mais pobre do país, que tem uma cesta de compras formada, em sua maioria, por produtos básicos, como alimentos. “Com dólar muito valorizado em relação ao real, a venda ao exterior se torna uma forte concorrente da indústria brasileira pela compra de produtos do campo. Ao mesmo tempo, deixa o custo de produção da agropecuária mais alto, já que boa parte dos insumos é cotada na moeda americana”, explica o economista Felippe Serigati.

Supermercados negociam
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, aponta que as recentes altas de preços registradas em commodities como arroz, feijão e óleo de soja são resultantes de índices históricos de exportação destes produtos para outros países. “Com o real desvalorizado frente ao dólar, o alimento produzido no Brasil tornou-se ainda mais atrativo para diversos países do mundo. No caso do feijão, há uma tendência de preços estáveis e poucas ofertas, com previsão de baixa somente em dezembro, enquanto no arroz a tendência segue de alta nos preços”, afirma.


Presidente da Agas afirma que supermercados estão fazendo a sua parte

Nesta semana, o presidente da república Jair Bolsonaro pediu “patriotismo” dos donos dos supermercados para reduzir suas margens de lucro e os preços dos alimentos. Longo, no entanto, afirma que os empresários não estão medindo esforços para buscar a melhor negociação com os fornecedores e absorver, na medida do possível, parte desta alta de preços, em função de estoques reguladores. “A curva de preços não é ditada pela ausência ou presença de patriotismo, mas pela oscilação natural do mercado a partir de questões cambiais, de mudanças mercadológicas e da lei da oferta e da procura”, destaca.
 

Mudança de hábitos
Com os mesmos rendimentos, mas com os custos muito mais altos, a diarista Jandira tenta mudar os hábitos no dia a dia. “Já começamos a substituir o arroz pela massa nas refeições e também estamos fazendo mais lanche ao invés de um almoço farto. Embora para fazer um sanduíche também gastamos bastante: o quilo do queijo está R$ 38. Nada fácil”, desabafa, comentando que a carne praticamente virou artigo de luxo, tendo em vista o valor nos açougues. 


A diarista Jandira teve que mudar os hábitos da família por conta da alta nos preços

A empresária do ramo de gastronomia, Priscila Pena, que já acumulava prejuízos com a pandemia das vezes que teve que ficar com o restaurante fechado, agora lamenta a alta nos preços dos alimentos. “A carne que é um dos nossos carros chefes vêm aumentando desde o final do ano passado. O óleo de soja é o item base em quase todos os preparos. Geralmente aumentávamos o preço na metade do ano, por conta do aumento do fluxo de turistas e tudo mais, mas não fizemos. Agora a gente percebe o aumento do preço dos alimentos e a impossibilidade de aumentar o preço dos nossos pratos, porque o consumidor também está gastando mais na própria casa”, pontua ela, que salienta ainda os investimentos em embalagens, por conta da necessidade de delivery. “São todos custos que não conseguimos aplicar para o consumidor, porque simplesmente não vamos conseguir vender”, desabafa.
 

O que está ficando caro? 

Dos 60 itens que mais subiram no mês passado, 58 são alimentos. Veja os que tiveram maior alta, de acordo com o IPCA:

Cebola: +34,83%
Batata-inglesa: +22,81%
Mamão: +21,33
Cenoura: +19,91
Feijão-carioca: +17,29%
Morango: +15,61
Alho: +15,41%
Laranja-pêra: +10,93%
Feijão-preto: +10,41%
Leite longa vida: +9,59%
Alface: +6,58%
Ovo de galinha: +6,31%
Farinha de trigo: +4,76%
Arroz: +3,88%
Açúcar cristal: +3,36%
Café solúvel: +3,24%