Autoridades de segurança atribuem crimes de homicídio ao tráfico e consumo de drogas

Fevereiro começou violento em Bento Gonçalves. Depois de celebrar um intervalo de 45 dias sem assassinatos na cidade, uma série de crimes assustou a comunidade, especialmente pela crueldade com a qual foram cometidos: em um deles, ocorrido no bairro São Francisco, a vítima, de 17 anos, já baleada, ainda foi agredida com socos e pontapés. Foram quatro homicídios em um intervalo de oito dias: o primeiro foi registrado no dia 02/02 e o mais recente, no último domingo, dia 09/02.

As autoridades de segurança já trabalham nos casos e prometem medidas ainda mais eficientes no combate à criminalidade, embora o homicídio seja delito mais difícil de ser combatido, conforme explica o subcomandante do 3° Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (BPat) da Brigada Militar, Luis Fernando Becker. “O homicídio têm várias motivações: pode ser passional ou envolvimento com a criminalidade. Os fatos desta semana, por terem características de execução, podem estar ligados a brigas de facções. E esses são crimes que não conseguimos prever”, destaca.

Apoio do batalhão de choque
Para o subcomandante, existem, no entanto, outras medidas que podem ajudar a evitar esses crimes e que já estão sendo realizadas na cidade. “O combate ao tráfico de drogas, desarmamento de criminosos, abordagens, retirada de foragidos do meio da sociedade estão entre as ações do nosso planejamento e que estamos colocando em prática. Inclusive, nesta semana, entramos em contato com o comando regional solicitando um aporte do batalhão de choque e já foi dado o sinal positivo, a fim de coibir esse tipo de delito”, confirmou.
O secretário de Segurança de Bento Gonçalves, Diego Caetano de Souza, garantiu que o município vem procurando apoiar os órgãos de segurança pública no enfrentamento à criminalidade e que a busca pela diminuição de mortes é um dos principais objetivos. “Tivemos uma redução desse indicador nos últimos meses de 2019 e principalmente no primeiro mês do ano de 2020, mas nos últimos dias vimos essa sequência de mortes. Temos ciência de que a problemática da drogadição está presente na maioria dos casos e que o enfrentamento precisa ser feito de forma integrada, unindo os órgãos e contando com a ajuda da comunidade”, reiterou.


 

“Alto consumo de drogas atrai traficantes”
É o que pensa o delegado da 2ª Delegacia de Polícia de Bento, Álvaro Luiz Becker. Para a autoridade policial, enquanto houver um grande consumo de drogas em Bento Gonçalves, traficantes continuarão brigando e matando por espaço e venda na cidade. “O crime é sazonal. Ano passado estávamos em um período tranquilo, de repente deu uma chacina, uma grávida foi assassinada, enfim. A linha não é tênue. Essa trégua de 45 dias está associada especialmente ao novo presídio – porque agora quem vai para lá fica realmente preso – e à própria ação da Brigada de retirada de criminosos da rua. Esse pico de crimes me parece que estava para ser estourado a qualquer hora e agora vai dar uma acalmada novamente, mas precisamos que a comunidade nos ajude”, alerta. 

Para o delegado, é essencial que as informações cheguem até os investigadores, através de denúncias anônimas, para que se possa identificar os autores dos crimes e capturar os foragidos. “Sabemos que 99% das pessoas que vivem nos bairros onde mais ocorrem os homicídios são trabalhadores, mas eles estão amedrontados por esta violência que o tráfico impõe e para diminuir estes índices precisamos tirar os criminosos de circulação”, explica. 
Álvaro reitera que, enquanto houver um alto consumo de drogas no município, novos criminosos seguirão desembarcando em Bento Gonçalves. “Se não tiver o usuário, não temos o traficante. E essa cultura tem que vir de casa, da família. Bento está vivendo isso porque temos muito consumo de drogas e por ser uma cidade rica, eles vem para cá. Temos que ter uma preocupação com nossos filhos”, alerta. 

 

OS CRIMES

A morte mais recente foi a de Ezequiel Barreto Ribeiro, de 25 anos. Ele foi atingido com disparos de arma de fogo na noite de domingo, 09/02, por volta das 21h15, na rua João Domingos Polli, no bairro Zatt. A vítima chegou a ser encaminhada ao hospital, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos.

No sábado, 08/02, Mathias Cuenca, de 18 anos, foi morto, por volta das 4h50, em uma escadaria próximo à rua Balduíno Valduga, no bairro Zatt. O Serviço de Atendimento Móvel (Samu) esteve no local e atestou o óbito. A investigação dos dois crimes está a cargo da 1ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves (DP). Nenhum suspeito foi preso. 

Na madrugada de sexta-feira, 07/02, Luiz Henrique Covaleski, de 17 anos, foi morto a tiros por volta da 0h30, na rua Borges do Canto, no bairro São Francisco. De acordo com informações do delegado Álvaro Becker, titular da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP), que investiga o caso, as primeiras informações são de que o crime teria ocorrido depois de uma briga. Imagens de câmeras próximas ao local flagraram o momento em que Covaleski, depois de baleado, é agredido com socos e pontapés por um grupo de pessoas. Conforme o delegado, os suspeitos já foram identificados e, caso não se apresentem até a conclusão do inquérito, será pedida a prisão preventiva deles.
  
Com relação à natureza do crime, Becker destaca a violência do ato, que ele classifica como um crime grave. “Foi um crime hediondo, pela perversidade com que mataram o indivíduo. Ele foi massacrado com pontapés, mesmo baleado, e só não atiraram mais porque parece que a arma falhou no momento”, detalha. 

Já sobre a motivação e relação entre os homicídios ocorridos, o delegado ressalta que a morte de Covaleski não parece estar relacionada com a disputa por pontos do tráfico, embora não descarte o uso de drogas como motivo. Segundo ele, somente ao fim da investigação será possível afirmar qual foi a motivação do crime.