Banco do Brasil pede perdão ao povo negro por papel durante escravidão
O banco fundado em 1808, tem, pela primeira vez, uma mulher negra em sua presidência, a funcionária de carreira Tarciana Medeiros
O Banco do Brasil (BB) pediu, na manhã de sábado, 18/11, perdão ao povo negro pelas gestões anteriores da instituição por participação no processo de escravidão de pessoas negras, durante o século XIX, no país. O pedido de perdão da atual gestão foi divulgado no site da empresa.
O banco fundado em 1808, tem, pela primeira vez, uma mulher negra em sua presidência, a funcionária de carreira Tarciana Medeiros. Na nota, a presidente do Banco do Brasil diz que “direta ou indiretamente, toda a sociedade brasileira deveria pedir desculpas ao povo negro por algum tipo de participação naquele momento triste da história [escravidão].”
“Neste contexto, o Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país. O BB não se furta a aprofundar o conhecimento e encarar a real história das versões anteriores da empresa” afirmou a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros.
Em setembro, o Ministério Público Federal instaurou inquérito para investigar a relação entre a instituição e o tráfico de pessoas negras escravizadas no século XIX. O órgão pediu, na ocasião, um posicionamento do banco a respeito do assunto.
Dados apontados por historiadores indicam que a instituição se valeu de recursos como a arrecadação de impostos sobre embarcações dedicadas ao tráfico de pessoas escravizadas e destacam que o capital para a formação do banco provinha da economia da época, que tinha na escravidão e no comércio negreiro um papel central.
Já em novembro, o Banco do Brasil recebeu um estudo que indicou envolvimento da empresa no comércio de negros escravizados durante o século XIX. O documento elaborado por 14 pesquisadores de universidades brasileiras e americanas faz parte do inquérito do Ministério Público.
Os pesquisadores apontaram haver “vínculos diretos entre traficantes e o capital diretamente investido em ações do Banco do Brasil”. Além disso, acrescentaram que “a instituição também se favoreceu da dinâmica de circulação de crédito lastreada na propriedade escrava que imperou ao longo de toda a primeira metade do século XIX”.
O pedido de perdão do Banco do Banco ocorre junto com o anúncio da adoção de um conjunto de novas medidas, que, de acordo com a instituição, tem o objetivo de promover a igualdade e a inclusão étnico-racial e de combater o racismo estrutural no país. O BB que espera que as novas medidas impactem positivamente na relação com clientes, funcionários, fornecedores, demais parceiros estratégicos da empresa e toda a sociedade.
A empresa considera que a diversidade em sua base e que a mesma tem elevado potencial de inclusão financeira e geração de trabalho e renda, também para pretos e pardos. “O simples fato de sermos uma instituição da atualidade nos move a realizar atividades voluntárias com o compromisso público e com metas concretas para combater a desigualdade étnico-racial e buscar por justiça social no âmbito de uma sociedade que guarda sequelas da escravidão, independentemente de existir ou não qualquer conexão, ainda que indireta, entre atividades de suas outras versões e escravizadores do século XIX”, enfatizou Tarciana Medeiros.
Para a presidente do Banco do Brasil, boas práticas podem ser construídas de forma articulada com diálogo aberto com movimentos negros e outras instituições públicas e privadas. “As sequelas da escravatura convocam todos os atores sociais contemporâneos a agir para a promoção da igualdade étnico-racial, a contribuir por meio de ações concretas, como as que o BB já desenvolve de modo pioneiro, voluntário e destacado.
O Banco do Brasil fez, faz a fará muito pela diversidade e desenvolvimento social e econômico em nossa sociedade. Para nós, Raça é prioridade, sim!”, enfatiza Tarciana
O Banco do Brasil, constituído na forma de sociedade de economia mista, conta com a participação acionária do governo federal em 50% desta sociedade anônima. Por isso, o BB é considerado um dos cinco bancos públicos federais, ao lado da Caixa Econômica Federal, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Nordeste (BNB).
Ações
Entre as ações anunciadas pelo Banco do Brasil para a promoção de inclusão racial e do combate ao racismo estrutural no país, estão:
– Fomento ao mercado de trabalho para o povo negro, com a inclusão de uma cláusula nos contratos com fornecedores do Banco do Brasil, a partir de novas licitações, que promova a diversidade, equidade e inclusão nos quadros de pessoal dessas empresas;
– O Banco do Brasil também fará parceria para encaminhar jovens que participaram do programa Menor Aprendiz do BB para o mercado de trabalho;
– Lançamento neste mês do edital de Empoderamento Socioeconômico de Mulheres Negras, do entre o BB e o Ministério da Igualdade Racial, para apoiar o fortalecimento institucional de organizações sociais e empreendimentos econômicos solidários urbanos e rurais de mulheres negras;
– Realização em dezembro próximo do “MBM Inovahack”, do Movimento Black Money, com a participação do Banco do Brasil, com o objetivo de promover a inclusão financeira e econômica da população negra, por meio de soluções tecnológicas consideradas inovadoras;
– Internamente, o programa “Raça é Prioridade” da empresa vai selecionar e desenvolver a carreira de até 150 funcionários pretos e pardos do Banco do Brasil, com potencial para atuar como líderes na empresa, mas, que atualmente ocupam outras funções;
– Realização de um workshop sobre a promoção da diversidade, equidade e inclusão com estatais e fornecedores do banco.
Para acompanhar as novas medidas anunciadas, o Banco do Brasil criou um site que trata da construção de um futuro mais diverso, inclusivo, equitativo e justo, em todos os contextos e para todos. A página eletrônica trará atualizações de novas medidas que possam ser anunciadas pelo banco.
Fonte: Agência Brasil