Banheiros públicos: vandalismo permanece

Um ano e meio depois de avaliar as instalações de três banheiros em áreas de lazer da cidade, o SERRANOSSA voltou aos locais para verificar, novamente, as condições de funcionamento. Além dos espaços nas praças Vico Barbieri e Walter Galassi, no Centro, e Rui Lorenzi (Praça das Rosas), na Cidade Alta – que já haviam sido visitados em fevereiro de 2012 – a reportagem também conferiu o estado dos sanitários na Centenário, também no Centro, e no Progresso.

De forma geral, todos apresentam algum tipo de problema estrutural, desde falta de iluminação e ausência de tampas nas privadas até vazamentos de água e manutenção precária da limpeza, dependendo de cada lugar. À exceção da Vico, onde há sabonete líquido para lavar as mãos, nenhum dos demais oferece o produto, assim como também não são disponibilizados à comunidade papel higiênico ou papel-toalha. A medida é uma orientação da secretaria municipal do Meio Ambiente, para evitar atos de vandalismo ou roubo de produtos.


“Falta de interesse”

O pedido de melhorias nos banheiros públicos, especialmente no da Walter Galassi, foi uma das cobranças do Viva Bento, que integra entidades do município, em uma lista de reivindicações entregue à prefeitura ainda no mês de fevereiro. Um dos coordenadores do grupo, Jamirton Benazzi, ressalta que o debate sobre o assunto não é novidade, mas que as soluções permanecem apenas no campo das sugestões e promessas. “Nós entendemos as dificuldades, principalmente com o vandalismo. Mas já alertamos que o Centro precisa ter pelo menos mais um banheiro, e também sugerimos o local ideal, que seria ao lado da prefeitura. Só que não é o comércio, que já paga muito imposto, que vai ter que providenciar isso. É um dever da administração. E o que se nota é uma grande falta de interesse do Poder Público, essa é a verdade. Eles não aceitam a ideia e também não resolvem o problema”, desabafa.

Para Benazzi, além da cobrança de um valor aos usuários, todos os sanitários deveriam ter guarda. “É um bom começo, mas não vai adiantar cobrar se não tiver como proteger o patrimônio. A outra reforma, que só foi feita porque fizemos muita pressão, não durou um mês. Quebraram tudo, nunca vi coisa igual. Vamos continuar assim, à mercê do vandalismo? Isso não é bom para quem vive aqui e muito menos para o turista”, finaliza o comerciante.

Prefeitura descarta novas reformas

De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Luiz Augusto Signor, a prefeitura não deve promover, pelo menos neste ano, nenhuma reforma nos banheiros públicos. Mesmo assim, ele destaca que a possibilidade de cobrança pelo uso – ainda que simbólica – deve ser discutida, principalmente com entidades ligadas ao setor do comércio. “É algo bastante complexo, que vamos estudar daqui para frente. Sabemos que nos grandes centros a solução encontrada foi a cobrança. Eu, pessoalmente, sou favorável, mas ainda vamos avaliar. O que podemos fazer agora é vigiar ainda mais, para tentar coibir o vandalismo”, explica.

Signor afirma que tem visitado os sanitários instalados nas praças e que, na visão dele, o principal problema ainda é a depredação causada por alguns frequentadores. “No contexto geral, eles estão bem conservados. O que se verifica é que há muita gente mal intencionada. Problemas estruturais também temos, mas garanto que são bem menores”, completa. 

O secretário reconhece que o caso mais crítico é o da Walter Galassi, pelo modelo subterrâneo e pela movimentação intensa de usuários. “Ali, temos que tentar controlar ainda mais”, aponta Signor. Não há, contudo, previsão de aumentar o número de servidores para a tarefa de manutenção, que em quatro dos cinco lugares avaliados é feita por funcionários terceirizados.

Praça Rui Lorenzi (Praça das Rosas)

De todos os sanitários públicos visitados, é o que aparenta ter melhores condições de uso, tanto na estrutura quanto na conservação. Todas as privadas têm tampa e não há cheiro no local, além de a iluminação também ser boa e de haver espelho no espaço feminino.

Uma das poucas falhas: no lado masculino, um dos dois mictórios foi retirado. Há alguns meses, vândalos entupiram a tubulação com algum tipo de cola, que não pode ser removida. Não há previsão de reposição.

Com a presença de um guarda na praça, há menos de um mês o horário de funcionamento foi ampliado, e, de segunda a sexta, os sanitários são mantidos abertos até as 19h. Aos finais de semana, eles também podem ser utilizados por algumas horas durante a tarde. Segundo a responsável pela limpeza, um dos fatores que mais dificultava o trabalho era a grande movimentação de moradores de rua, que tem sido monitorada de forma mais intensa.

Praça Walter Galassi

Novamente, a exemplo da vistoria feita pelo SERRANOSSA no ano passado, a constatação é de que os sanitários, principalmente o masculino, têm a situação mais crítica de todos os que foram avaliados. O fluxo de usuários é constante no local, e o estado interno do banheiro dos homens é preocupante. Logo na entrada, há problemas de iluminação: o interruptor para as duas lâmpadas dos sanitários reservados aciona apenas uma delas. Uma das portas está amassada, provavelmente alvo de vandalismo.

Da porta, também se pode sentir um forte cheiro de urina e fezes – que beira o insuportável no interior, onde piso está praticamente todo molhado. Não há tampas nas privadas e a torneira do mictório de lata está danificada e permanece o tempo todo aberta. Na última reforma, e até na reportagem anterior do SERRANOSSA, ainda estavam instalados três mictórios individuais, agora substituídos por um maior, de metal.

No banheiro feminino, situação que se repete nos outros quatro casos, a organização e a limpeza eram um pouco mais visíveis. Há tampas nas privadas e a iluminação não tem falhas. O odor é menor e o piso estava levemente molhado em alguns pontos, aparentemente por água. Por quase uma hora, entre as 11h e meio-dia de segunda-feira, 19, a reportagem tentou localizar a pessoa responsável pela manutenção do local, sem sucesso.

Praça Vico Barbieri

É o único dos cinco banheiros que tem acesso para portadores de necessidades especiais e também oferece sabonete líquido para os usuários. Porém, o produto é disponibilizado pelo responsável pela limpeza do local, que abastece os pequenos reservatórios por conta própria. Há seis meses trabalhando no local, Carlos Antônio Frank Anacleto relata que, quando assumiu a tarefa de manter em ordem os sanitários – que também abrem aos sábados pela manhã –, o mictório masculino já havia sido retirado em função dos entupimentos constantes. 

Ele também diz ter providenciado tampas para as privadas, que haviam sido arrancadas. Quando a reportagem esteve no local, o banheiro dos homens não apresentava cheiro forte, mas estava bastante molhado, inclusive por urina. “A gente não dá conta de limpar, mesmo ficando o tempo todo aqui. O pessoal não respeita, muita gente não é nem capaz de puxar a descarga. Aqui, o problema é falta de educação mesmo”, lamenta o funcionário. Cantoneiras metálicas das paredes também foram descoladas por vândalos.

Na área feminina, o chão estava mais seco. As ferramentas para manutenção da praça, que na visita anterior do SERRANOSSA, em 2012, estavam encostadas em uma das paredes, agora ficam alojadas em uma pequena sala, trancada. O que chamava a atenção no banheiro das mulheres era a estranha presença de um carrinho de supermercado abandonado. 

Praça do Progresso

Externamente, os dois banheiros têm a estrutura bastante danificada, principalmente com pichações e todos os pequenos vidros laterais quebrados. Mas na parte interna não há problemas que prejudiquem o uso durante o dia. Conforme a servidora que trabalha no local, os sanitários são bastante frequentados por crianças de uma escola infantil próxima, que participam de atividades de recreação na praça.

Apesar de ter apenas uma pequena lâmpada em funcionamento no masculino e nenhuma no feminino, a iluminação natural garante que os banheiros não fiquem completamente às escuras. No momento em que a reportagem esteve lá, não havia odor e o piso também não apresentava nenhum ponto molhado. Apenas uma torneira no sanitário dos homens estava estragada, mais uma vez pela ação de baderneiros.

Praça Centenário

Situados ao lado da escadaria que dá acesso à rua Dr. Casagrande, os banheiros da Centenário ficam bastante deslocados dos espaços mais utilizados da praça. Na tarde do dia 19, por volta das 15h, os dois responsáveis pela manutenção da área de lazer – que nas férias de uma colega também assumiram a limpeza dos sanitários – se preparavam para a faxina. A situação, principalmente no masculino, era caótica: jornais velhos utilizados como papel higiênico estavam espalhados ao lado dos vasos, e o chão acumulava água, urina e até um pouco de barro. 

Muitos dos canos estão aparentes, através de buracos nas paredes, possivelmente de reparos hidráulicos. O espaço das mulheres tem um dos sanitários reservados fechado, por problemas na descarga. No lado masculino, também há um interditado, por estar sem privada. O mictório metálico da ala masculina está bastante amassado e parece apresentar vazamento, pela quantidade de líquido no piso. Depois da limpeza, o local foi frequentado por alguns alunos de um Centro de Atendimento à Criança e ao Adolescente que brincavam no parquinho da praça.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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