Bento completa um ano de pandemia lidando com cenário mais temido por autoridades

O primeiro caso de Coronavírus foi confirmado em Bento Gonçalves no dia 18 de março do ano passado. O paciente de 63 anos era natural de Serafina Corrêa e acabou vindo a óbito no dia 15 de abril, em decorrência da COVID-19. Por não ser morador do município, ele foi removido das estatísticas locais dias depois. Mesmo assim, o caso marcou o início da pandemia em Bento Gonçalves. Desde então, uma série de medidas foram adotadas na cidade, buscando, principalmente, reestruturar o sistema de saúde local. 

Conforme o prefeito Diogo Siqueira, na época secretário municipal de Saúde, Bento teria sido pioneira no combate à pandemia com a criação do Comitê de Atenção ao Coronavírus ainda no início do ano. “Nossas estratégias seguiram eixos de planejamento, que envolveram a comunicação da população, evitando fake news, e tratando com transparência todos os fatos, e prevenção com as orientações para população com distribuição de material, inclusive com tradução para o crioulo para os imigrantes”, cita. Conforme Siqueira, o município ainda adotou uma política de “macrotestagem”, permitindo isolamento e monitoramento dos casos. 

Mas a medida considerada essencial para combater o novo vírus foi a ampliação da capacidade de atendimento. O Hospital Tacchini passou de 20 leitos de UTI para 50, baixando para 45 após falta de pessoal. Já o Complexo Hospitalar, localizado junto à UPA 24h, passou a contar com 40 leitos de isolamento, construídos com auxílio da comunidade empresarial e voluntários.

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Foto: SERRANOSSA
 

Mesmo assim, um ano após toda movimentação para garantir atendimento de todos, Bento Gonçalves se encontra hoje, assim como o restante do Estado e, principalmente, da região Sudeste do país, diante de um colapso inesperado do sistema de saúde. Até a quinta-feira, 18/03, eram 67 pacientes internados no Tacchini com necessidade de UTI, uma ocupação de mais de 145%. Já em relação aos respiradores, 50 estavam sendo utilizados de 56 disponíveis – sendo que o restante precisa estar disponível diante dos casos críticos que, possivelmente, evoluirão para a entubação. 

Nos últimos dias, a UPA 24h chegou a registrar mais de 40 pacientes internados, sendo 34 confirmados com a COVID-19. 

E as internações graves têm resultado em um alto número de óbitos. Desde a última quinta-feira, 11/03, 11 novas mortes foram registradas em Bento, chegando ao total de 203 vítimas desde o início da pandemia. “Acredito que tudo foi feito para que nossa população não ficasse sem atendimento. Todos os esforços foram realizados com a informação do vírus que tínhamos no momento. Sentimos muito a cada vida perdida nessa batalha contra a doença”, reforça o prefeito Diogo Siqueira.  


Foto: Reprodução/Facebook
 

Momento atual em Bento bate recorde de internações, mortes e novos casos 


Esperança agora é pela vacinação, que segue em ritmo lento e cria expectativas em moradores como o motorista aposentado Almiro Manuel de Souza, de 73 anos. Foto: Eduarda Bucco/SERRANOSSA

No início da pandemia, o Rio Grande do Sul preocupava autoridades como o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pelo grande número de idosos, pelas rodas de chimarrão e, principalmente, pelo frio típico da região Sul. O receio era que, com as baixas temperaturas, o número de casos de influenza aumentaria, assim como os casos de COVID-19. As previsões realmente se concretizaram e o primeiro pico da pandemia foi observado entre os meses de junho e julho, quando foram registrados 1.609 novos casos da COVID-19. Também naquele mês foram registrados 45 óbitos de moradores de Bento com a doença. 


Gráfico desenvolvido pelo SERRANOSSA no dia 18/03.
Fonte: Comitê de Atenção ao Coronavírus de Bento Gonçalves

 

Mas foi no verão que os números tiveram um salto inesperado.  Apenas em dezembro, Bento Gonçalves teve 2.043 novos casos de Coronavírus confirmados – um aumento de 98% em relação ao primeiro pico de julho. Estávamos vivendo a segunda onda da pandemia. 

Em janeiro e fevereiro deste ano os números de novos casos tiveram uma baixa significativa, mas ainda acima do registrado na metade de 2020. Entretanto, foi entre o fim de fevereiro e o início deste mês de março que a situação fugiu completamente das previsões. Na semana que o município completa exatamente um ano desde o primeiro caso confirmado – no dia 18/03/21 – a falta de leitos e respiradores viraram realidade. 

Bento Gonçalves chegou a registrar 71 pacientes com necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na quinta-feira passada, 11/03, ou seja, 26 pessoas aguardavam uma vaga.  Em apenas três semanas, a média de internações em UTI ultrapassou em mais de 100% a média registrada na primeira onda em julho, quando houve cerca de 22 pacientes internados em terapia intensiva.


Gráfico desenvolvido pelo SERRANOSSA no dia 18/03.
Fonte: Comitê de Atenção ao Coronavírus de Bento Gonçalves

Os novos casos e os óbitos também dispararam. Até a quinta-feira, 18/03, 34 pessoas já haviam perdido a vida em março em decorrência da COVID-19 – mais de 75% do total de mortes registrado em todo o mês de julho do ano passado. Até o dia 18 daquele mês, o município somava 19 óbitos. Já os novos casos somavam 1089, chegando à marca de 10.854 pessoas já contaminadas. Dessas, 1.258 estavam com o vírus ativo durante a semana –  o maior número de casos ativos desde o início da pandemia. Os curados somam 9.393. 


Gráficos desenvolvidos pelo SERRANOSSA no dia 18/03.
Fonte: Comitê de Atenção ao Coronavírus de Bento Gonçalves

 

 

 

 

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