Bento-gonçalvense é a primeira brasileira a conquistar dupla diplomação em Direito no Brasil e na Itália
Neste ano, a bento-gonçalvense Gabriela Bertol, de 27 anos, entrou para a história na área de Direito por meio do Programa de Dupla Titulação da PUCRS, lançado em 2015 em parceria com a Universitá degli Studi di Parma (UNIPR). Ela foi a primeira brasileira diplomada em Direito nas duas universidades, após ter estudado por um ano na universidade italiana. E o percurso para obtenção do “double degree” foi marcado por uma série de desafios, dúvidas e superações.
Apesar das incertezas sobre a profissão que deveria escolher para a sua vida, Gabriela conta que sempre teve muito interesse no Direito, tendo em vista o gosto pelo “viés social e de mundo que ele pode nos proporcionar”. Dessa forma, ela decidiu se mudar de Bento para Porto Alegre, para entrar no curso da PUCRS. “Eu nunca fui uma daquelas pessoas que tem um sonho de profissão desde criança, mas fiquei bastante empolgada com essa nova fase da vida”, recorda a advogada.
Mesmo com o seu futuro profissional já engatilhado, as dúvidas e a vontade de fazer um intercâmbio ainda instigavam a então estudante. “O meu namorado na época (hoje meu marido), Felipe Durli, morava na Itália. No final de janeiro de 2016 fui visitar ele e fiquei por 40 dias”, conta. “Com essa dúvida de como estava sendo o curso e a paixão pelo que eu tinha conhecido, comecei a me questionar se deveria terminar o curso aqui ou me mudar e iniciar alguma faculdade lá. A parte difícil da decisão é que eu sempre fui muito apegada a minha família, e eu não sabia se conseguiria deixar eles aqui e me mudar para longe, embora meus pais sempre tenham me apoiado e me incentivado a ir e agarrar todas as oportunidades”, continua Gabriela.
De volta ao Brasil, a então estudante começou a fazer aulas particulares de italiano, enquanto amadurecia a ideia de mudar de país. Para sua surpresa, a PUCRS implementou o programa de Duplo Diploma, em parceria com a universidade italiana. “Enviamos currículo, foram analisadas as notas, teve entrevista e prova oral (de língua italiana). Confesso que fiquei com bastante medo, primeiro porque sou muito ansiosa, e segundo, porque muitas pessoas se inscreveram para a seleção e apenas dois seriam escolhidos. No final, me saí bem e fiquei entre os selecionados”, recorda.
Foto: Felipe Durli
As aulas na Universitá degli Studi di Parma teriam início em agosto de 2017, mas em dezembro de 2016 Gabriela já se mudou para se adaptar à rotina europeia e ao idioma italiano. “É importante dizer que, quando eu cheguei lá, meu italiano ainda era “básico”, e por isso eu ia me esforçando e testando falar a língua aos poucos: tentava pedir coisas no mercado aos atendentes, nas lojas, padarias e etc, apenas para praticar a fala e o ouvido”, conta.
Didática diferente
Segundo Gabriela, o sistema de ensino italiano se difere em diversos aspectos ao do brasileiro. Enquanto no Brasil há provas escritas e a preparação para elas se baseia nas aulas dos professores, na faculdade italiana as avaliações são orais, a partir de livros indicados pelos professores. “Aprender a estudar para esse novo modelo e realizar as provas orais foi um dos maiores desafios que já enfrentei até hoje. Não foi nada fácil no início, mas depois eu acabei unindo o modo de estudo do Brasil com o que desenvolvi na Itália, e tudo começou a funcionar perfeitamente bem”, relata.
Além das aulas, Gabriela fez um estágio em um “Studio Notarile”, com um tabelião. “Pude acompanhar diversos atos realizados por esse profissional, como contrato de doação, compra e venda, testamento, inventário, dentre outros”, comenta.
Foi a partir dessa experiência italiana que a então estudante despertou verdadeiramente para o Direito. “De repente virou a chave e eu sabia que era aquilo que eu realmente queria e que eu estava no caminho certo”, conta.
Foto: Emerson Ribeiro
Nasce uma nova Gabriela
Mas o aprendizado e a descoberta profissional foi apenas um dos bônus conquistados por Gabriela durante seu período na Europa. Com novos amigos, experiências marcantes e muitos obstáculos, a agora advogada afirma que “nasceu uma nova Gabriela”. “Hoje sou muito mais independente, dedicada, esforçada e determinada do que sempre fui. A ansiedade muitas vezes tenta nos bloquear e pode nos fazer achar que não somos capazes de algo, mas hoje sei que, mesmo com o medo que as situações novas possam nos impor, eu sou capaz de qualquer coisa”, declara.
Gabriela ainda leva da experiência a felicidade em ter conhecido mais sobre a cultura que sempre fez parte de sua história, a italiana. “Eu sou a continuidade daqueles que também toparam um desafio, há muitos anos atrás, e vieram pra cá para tentar uma nova vida. Eu, dessa vez, fiz o caminho inverso. Conhecer a história, a gastronomia, a cultura e viajar pelas mais diversas cidades, são momentos que eu guardo e sempre vou guardar no meu coração, e hoje fazem parte de quem me tornei (e venho me tornando)”, comenta a advogada.
Atualmente, Gabriela atua em um escritório de advocacia de Porto Alegre, onde tem se realizado profissionalmente. Além disso, ela afirma estar ansiosa para as surpresas do destino. “Uma coisa é certa: o mundo está cheio de oportunidades, e eu estou pronta para encarar qualquer desafio!”, conclui.
Fotos: arquivo pessoal