Bento-gonçalvenses relatam dificuldades

O risco da maior cidade do Brasil, com mais de 11 milhões de habitantes, ficar sem água nas torneiras já no próximo mês despertou preocupação não só para quem vive em São Paulo, mas na maioria dos brasileiros. Especulações de que outras regiões do país também pudessem ser atingidas provocaram discussões sobre o tema em diversos segmentos. Mas, se depender do volume de água represado em Bento Gonçalves, a cidade não passará pelo mesmo problema.

Pelo menos é isso que garante o superintendente da região nordeste da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Lutero Fracasso. “As barragens em que a Corsan efetua a captação de água para o abastecimento de Bento Gonçalves estão na capacidade máxima, com os seus vertedouros transbordando, de maneira que a situação em relação ao volume de água represado, no momento, é tranquila”, garante. Questionado sobre a possibilidade de ocorrerem apagões, Fracasso também tem um prognóstico positivo. “Entendemos que o fornecedor de energia em nossa região esteja seguro em relação a esta situação, tendo em vista que nosso Estado, de modo geral, encontra-se com as barragens cheias”, completa.

Investimentos

De acordo com o superintendente, para que desperdícios sejam evitados e a água seja cada vez melhor aproveitada, a Corsan adquiriu oito novos grupos de motores-bomba. “Cinco são para a substituição dos atuais e três para uma nova estação de bombeamento que, inclusive, estão sendo instalados. Essa estação também já recebeu novos e modernos quadros de comando elétricos. Somente na Estação de Bombeamento de Água Bruta, o investimento gira próximo aos R$ 5 milhões”, revela.

Outros projetos da estatal dizem respeito à renovação de redes de água. “Desde 2012, a Corsan já substituiu em torno de 13 mil metros de redes em mais de 50 ruas da cidade. O investimento é de aproximadamente R$ 2 milhões”, afirma. Também está em andamento a instalação de novas válvulas redutoras de pressão, com controle eletrônico através do sistema instalado na Estação de Tratamento de Água, do bairro Planalto. “Esse projeto permite um melhor controle das pressões das redes de abastecimento e consequente redução dos vazamentos e inconvenientes relacionados, como aberturas de vias públicas para o conserto, desperdício de água tratada, entre outros”, explica Fracasso.

Barragem de São Miguel

Questionado sobre a situação da barragem de São Miguel, que há anos vem sofrendo com a poluição, o superintendente da Corsan afirma que a implantação do sistema de tratamento de esgoto no município trará benefícios neste sentido. “Lembramos que a questão da poluição também é dever individual do cidadão. Somente estas ações individuais e a conscientização da sociedade trarão benefícios. Nós também mantemos um monitoramento constante da captação da água bruta, com o controle e tratamento conforme prevê a portaria 2914/11 do Ministério da Saúde”, destaca.Para a Corsan, o desenvolvimento de uma cultura de uso racional e sem desperdício é fundamental para Bento Gonçalves e região nunca sofrerem com a falta de água. “Criar uma disciplina de consumo em todas as nossas necessidades diárias é a melhor forma de ajudar”, orienta Fracasso. Além disso, possíveis vazamentos e casos de desperdícios de água devem ser comunicados e denunciados à empresa. 

Bons exemplos

É sabido que evitar o desperdício de água é uma missão de cada cidadão. Adotar novos hábitos, sem perder a qualidade de vida, é possível nas pequenas tarefas do dia a dia, como diminuir o tempo de banho, não lavar a louça peça por peça, usar a capacidade máxima da máquina de lavar, reutilizar água para a lavagem de calçadas e veículos, entre outras atitudes. Mas há também formas ainda mais sustentáveis para economizar água, especialmente em empresas, indústrias e na agricultura. Em Bento Gonçalves, são diversos os exemplos. Marcos Giordani, gerente da Giordani Gastronomia Cultural, localizada no Vale dos Vinhedos, afirma que economizar e reutilizar água são premissas passadas de geração a geração.

Na propriedade da família, dez açudes foram instalados para a irrigação da produção de hortaliças. Além disso, existe há muitas décadas uma cisterna que é utilizada para a lavagem externa do local. Como se não bastasse tudo isso, uma caixa de 20 mil litros recebe a água da chuva. Para um futuro breve, a ideia é utilizar essa água também para as descargas do banheiro. Na propriedade da família Tasca, em Monte Belo do Sul, uma caixa antiga também recebe a água da chuva e é utilizada para as necessidades gerais. 

Bento-gonçalvenses que vivem em São Paulo falam sobre a crise da água

“Talvez eu vá passar um tempo em Bento”. A frase da modelo Jéssica Pauletto, de 24 anos, que vive em São Paulo há mais de 11 anos, é um prenúncio do que fará caso a previsão de que em março a cidade fique sem água se confirme. No bairro onde vive, ainda não houve corte no abastecimento, registrado em muitos outros pontos da cidade, embora a qualidade não seja a ideal. “Ultimamente a água está com um cheiro horrível de enxofre”, conta, via Facebook, ao SERRANOSSA. “Tenho economizado muito para não ter que passar por isso. Tivemos algumas quedas de luz, o que tem acontecido em muitos bairros. Não vejo mais pessoas lavando calçadas e carros. Todos estão conscientes. Muitos amigos meus reclamam da falta de água e familiares do meu marido já vieram aqui na minha casa para poder tomar um banho”, revela. 

A quiropraxista bento-gonçalvense Ketlin Mattiello, de 26 anos, que mora em São Paulo desde agosto de 2012, também afirma que a economia da água tornou-se prioridade de todos. “A situação está realmente muito séria, estamos poupando bastante e todos os prédios, condomínios e casas recebem informativos de como economizar e reutilizar a água”, descreve.Ketlin mora e trabalha na zona sul, região que ainda não foi afetada com a falta de água, mas mesmo assim ela tem se prevenido. “Eu e meu marido já estamos fazendo estoque de água, compramos em grande quantidade para uso pessoal e logo mais vamos estocar bombonas de 20 litros”, revela a moradora, que também tem sentido cheiro e gosto estranho na água que sai da torneira. Embora a preocupação seja grande, ela não tem planos de voltar a Bento. “Pretendo continuar aqui por muito tempo ainda, vamos aprendendo a lidar com a situação. Temos que nos preocupar e nos preparar, pois o custo de vida aqui pode subir mais ainda”, avalia.

 

Reportagem: Raquel Konrad

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