Bento pode ter banco público de células-tronco

As constantes evoluções da medicina vêm possibilitando que doenças e traumas, até então incuráveis, passem a ter tratamento e, em alguns casos, até mesmo cura. Nesse contexto, uma das alternativas que têm se mostrado mais positiva é a utilização de células-tronco para regeneração de tecidos, eficaz no tratamento de doenças do sangue, como anemia e leucemia. Apesar da funcionalidade, o armazenamento de células-tronco ainda é privilégio de poucos. Pensando em beneficiar um número maior de pessoas, há dez anos o músico Juarez Silva fez da criação do banco público de coleta em Bento Gonçalves um de seus objetivos de vida. O projeto já foi elaborado e está agora em fase de implantação, aguardando liberação de verbas do Poder Público. 

A luta iniciou em 2002, alguns anos depois de Silva ter ficado paraplégico após ser baleado durante um assalto. “No primeiro ano após o incidente, fiquei em desespero. Candidatei-me como voluntário em pesquisas realizadas em diversos países e em São Paulo, onde, por dois anos me submeti a um procedimento para receber as células-tronco. Foi nesse momento que percebi a importância desse tratamento e me engajei com um banco de criogenia particular de São Paulo”, relembra. Silva conta que uma das principais vantagens é que as células-tronco, quando multiplicadas, podem se transformar em qualquer tipo de célula. “No Brasil o avanço da medicina, nessa área, encontra-se em uma fase espetacular, apresentando resultados magníficos. A luta é para que as pessoas tenham conhecimento e abracem a causa”, convoca.

Diferente da coleta de células embrionárias, a retirada de sangue do cordão umbilical e da placenta é feita logo após o parto, sem haver nenhum contato e risco nem para o recém-nascido ou para a mãe. “Sem a coleta e preservação, esse material é descartado, literalmente jogado no lixo, sendo uma riqueza que pode salvar vidas”, lamenta.
 

Banco público

No Brasil ainda são poucos os centros que armazenam células-tronco, a maioria deles particulares. Nesses locais, o material pertence a quem paga pela coleta e pela manutenção. O grande diferencial do projeto idealizado por Silva é que, em Bento Gonçalves, seria instalado um banco público. “Queremos evitar que haja custo para coleta e preservação do material. Por ser público, quando houver necessidade e compatibilidade, as células poderão ser usadas por qualquer pessoa, ou seja, não terão donos, serão de quem necessitar. Por isso a importância de a classe médica, trabalhadores da área de saúde, futuros pais e mães e da sociedade em geral terem conhecimento e acreditarem no projeto, para que possamos ter mais material e ajudar o maior número de pessoas”, relata.

As células são utilizadas, atualmente, para tratamento de diversas doenças do sangue como leucemia e anemia, mas pesquisas recentes têm demonstrado resultados satisfatórios também em insuficiência cardíaca, infarto, esclerose múltipla, entre outras. “A expectativa de vida antigamente era de 48 anos, devido aos avanços da medicina, passou para 84. As células-tronco geram uma expectativa maior e o mais importante, com saúde. Com isso, as pessoas poderão sair das filas de doação de órgãos, da máquina de hemodiálise”, enfatiza.

O que falta

O projeto já está elaborado e em fase de implantação. “Trata-se de um projeto público que beneficiará toda a população, mas ainda necessita de apoio financeiro do Poder Público para ser implementado”, finaliza. Com a construção do Banco, Bento Gonçalves seria o primeiro município do interior do país a ter um projeto dessa magnitude.

Dúvidas sobre o tema 

*O que são células-tronco?

Também conhecidas como células-mãe, ao se multiplicarem têm a capacidade de dar origem a todos os tipos de células que formam os diferentes tecidos do corpo humano, podendo regenerar órgãos e tecidos, promovendo a recuperação dos mesmos, em um processo chamado de terapia celular.


*Como é feita a coleta?

É feita ainda no momento do parto, logo após o nascimento do bebê. Cerca de 100ml de sangue são retirados do cordão umbilical e placentário, sem ter contato com a criança ou com a mãe. O processo dura menos de cinco minutos. Após, é realizada uma avaliação do material e separação celular. Com as células-tronco selecionadas, inicia o processo de criopreservação.


*Qual o tempo de armazenamento das células-tronco?

Através do processo de criogenia (estudo da produção de temperatura muito baixa e de seus fenômenos) é possível que a armazenagem seja realizada por anos.


*Tratamentos bem sucedidos através de células-tronco:

Leucemias, anemias e mais de 70 doenças do sangue. Outras doenças estão em fase de pesquisa, algumas em humanos (Fase III) e apresentando resultados surpreendentes, como: Diabetes tipo I, Cirrose, Insuficiência Cardíaca, Infarto, Chagas, Esclerose Múltipla, Traumatismo de Medula, Alzheimer e Parkinson, entre outras.


*Fontes de coleta de células-tronco:

Medula óssea: traz risco ao paciente e nem sempre é possível realizar a coleta;

Embrião: poucas células e não permite o transplante;

Cordão umbilical: não oferece riscos, não interfere no parto, a coleta é realizada de forma rápida, possui menor índice de rejeição e existe a possibilidade de disponibilidade imediata.

 

Renasce a esperança

As pesquisas com células-tronco no Brasil vêm sendo realizadas há vários anos, mas uma das notícias que trouxe uma nova esperança para o tratamento de lesões na medula veio em outubro de 2011. Após nove anos em uma cadeira de rodas, um policial militar da Bahia voltou a caminhar. O tratamento consistiu na aplicação de células-tronco retiradas da medula óssea da bacia do próprio paciente diretamente onde aconteceu o trauma.

 
Reportagem: Katiane Cardoso

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

Enviar pelo WhatsApp:
Você pode gostar também