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Bento Pride: 2ª edição da Caminhada da Diversidade vai acontecer em maio

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A primeira edição ocorreu em julho de 2021; o movimento busca dar visibilidade à comunidade LGBTQIA+ do município

Foto: Agência Brasil

A segunda edição da Bento Pride, caminhada que tem o objetivo dar visibilidade à comunidade LGBTQIA+ de Bento Gonçalves, já tem data para acontecer. Após o primeiro movimento, realizado em julho de 2021 – em meio a pandemia da COVID-19 – o projeto volta a ser realizado no município no dia 07 de maio, a partir das 16h, com saída em frente à Prefeitura de Bento, no Centro, e seguindo até a Rua Coberta, ao lado da Casa das Artes, no bairro Planalto.

Em 2023, a iniciativa tem como lema “O importante é ser livre, com respeito”. Segundo Daniela Oliveira, coordenadora e madrinha da Bento Pride, assim como na primeira edição, a Caminhada quer dar visibilidade para a comunidade e seus anseios, além de mostrar para a população que ela existe. “O intuito da Caminhada é de extrema importância, para que Bento Gonçalves e região saibam que a diversidade está aí, no nosso dia a dia, e que como sociedade devemos aprender a respeitar e compreender”, afirma.

Para Daniela, Bento Gonçalves ainda precisa evoluir na forma que percebe e age em relação a comunidade LGBTQIA+. “Bento [Gonçalves] precisa e necessita avançar e evoluir muito na questão das diversidades. O mundo evoluiu, não podemos ficar parados no tempo com pensamentos arcaicos e preconceituosos, a comunidade LGBTQIA+ de Bento Gonçalves está aí e não pede muito, apenas respeito”, destaca.

Uma jovem transexual, que prefere não se identificar, afirmou à reportagem que diariamente sofre preconceito por ser quem é. Ao caminhar na rua, percebe os olhares atentos e até amedrontadores, além do preconceito descarado.

“Quando eu vou sair de casa, eu tenho certeza que vou ouvir alguma coisa. Já falaram que sou do demônio, que Deus não gosta de mim, que vou para o inferno. No começo da minha transição, doía muito. Porque você começa a questionar se aquela realmente é você, se as pessoas não têm razão. Eu fui criada em uma família católica, então a presença da religião foi sempre muito forte. Eu acredito em Deus e não acredito que ele me odeie, ou algo do tipo, apenas por eu ser quem eu sou”, diz.

Para João Menin, homem gay, fotógrafo, estudante de Marketing e atuante na causa, a comunidade LGBTQIA+ de Bento segue na busca por visibilidade, mesmo que com passos pequenos. “No meu ponto de vista, nossa comunidade tem muito mais potencial para melhorar e para incluir a comunidade LGBTQIAP+ na comunidade geral e, principalmente, no mercado de trabalho. No momento estamos ‘engatinhando’ para uma comunidade melhor, mesmo vendo muitas melhorias. Porém, ainda assim, vejo muitas pessoas com receio de serem elas mesmas por medo do preconceito”, afirma.

Na primeira edição, em 2021, Daniela relembra que houve certo receio da comunidade, visto que atos de preconceito poderiam acontecer e acabar com a festa. Contudo, um grito de liberdade foi dado naquele 25 de julho. “A princípio, a comunidade estava um pouco apreensiva, pois tinha receio do grupo ter medo de comparecer na Caminhada, pois muitos, na época, estavam passando por preconceitos na sociedade. Mas depois da caminhada parece que o ‘grito’ saiu e tudo ficou mais leve. Significou um grande passo, tanto para a comunidade LGBTQIA+, quanto para a sociedade bento-gonçalvense.”

Sobre a 1ª edição, Menin relembra os comentários negativos de algumas pessoas, coisa que não diminuiu o ânimo dos participantes. “Foi super importante termos esse movimento e também ter a mídia ao nosso lado acompanhando tudo e vendo que estávamos ali somente buscando respeito, e que foi totalmente pacífica, sem envolvimento político. Teve uma onda de comentários negativos, o qual nos entristece como seres humanos. Não somos muitas coisas que falaram, então é super importante falarmos disso todos os dias. Estamos aqui pra mostrar que somos pessoas como qualquer outra. E é super importante lembrar que não queremos impor nada a ninguém, só queremos ser respeitados como qualquer outra pessoa.”

Poder Público

A coordenadora da Bento Pride reforça que a comunidade e a organização do evento estão recebendo todo apoio do Poder Público para a realização do evento. “Graças a Deus temos todo apoio do Poder Público. Estão nos dando todo respaldo necessário e estão a nossa disposição, e também nos dando abertura para juntos criarmos mais políticas públicas para a comunidade”, afirma. 

De acordo com o secretário de Cultura de Bento Gonçalves, Evandro Soares, a cidade, pelo seu pluralismo, deve apoiar essas manifestações. “Bento Gonçalves é uma cidade plural, por isso apoiamos e acreditamos que a promoção destes eventos asseguram o fortalecimento das livres expressões e diversidade do nosso Município”, disse.

Para Daniela, mesmo com evoluções, como a criação de vagas específicas para pessoas trans, ou grupos de ajuda psicológica para a comunidade, muito ainda precisa ser debatido, promovido e, de fato, efetivado na vida dessas pessoas, independente da identidade de gênero ou orientação sexual e que tenham uma vida de qualidade. “Hoje, a principal dificuldade é fazer parte da sociedade como um todo. A ideia não é se excluir, e sim incluir. Eventos, mutirões, palestras, entre outros, e também uma política pública de respeito. ‘Aceitar é uma escolha, respeitar é um dever de todos’”.

Segundo a jovem entrevistada, hoje, a partir da iniciativa de uma empresa de abrir vagas exclusivas para pessoas trans, tem uma renda fixa e a oportunidade de se desenvolver profissionalmente. “Eu quase abandonei a escola, não deixei por causa de professores que me apoiaram a continuar. Eu não poderia desistir, ou pensar em desistir, da minha vida profissional também. Não é surpresa quando se conversa com uma pessoa trans e ela diz que, por um tempo, precisou seguir na prostituição. Nossa comunidade é tão marginalizada, tão excluída, que esse é o caminho ‘mais fácil’. Eu tive a sorte de me deparar com uma empresa que tem essa política [de contratar pessoas trans], mas e quem não tem?”, explica.

“A Caminhada da Diversidade promete agitar a cidade de Bento Gonçalves e promover o combate à homofobia, e a busca por direitos e cidadania à população LGBTQIA+, com o foco na inserção no mercado de trabalho, garantindo que as pessoas possam ter o livre arbítrio e não se sintam discriminadas e nem sofram algum tipo de violência pela sua identidade de gênero ou orientação sexual”, reforça a coordenadora da Bento Pride.

Para a jovem, eventos como a Caminhada da Diversidade são importantes para abrir os olhos da população em geral. “Esperamos que dê certo, que seja sucesso, que sejamos respeitadas e respeitados, porque existimos. Não é o preconceito que vai fazer com que a gente suma da face da Terra”, finaliza.

Bento Pride

Além de promover a Caminhada, a Bento Pride também atua como uma organização não governamental (ONG), sem fins lucrativos. Fundada em maio de 2021, ela tem o intuito de promover a inclusão de pessoas LGBTQIA+ na sociedade bento-gonçalvense. 

A ONG atua com missão de oferecer orientação psicológica e jurídica para as pessoas da comunidade, com o foco na inserção no mercado de trabalho, além de ações gerais para a cidadania, saúde e os direitos humanos, garantindo que tenham o livre arbítrio e não se sintam discriminadas ou sofrendo algum tipo de violência por ser quem são.

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