Bento tem taxa de suicídios maior que RS e Brasil

A taxa de suicídios em Bento Gonçalves tem permanecido acima da média do Rio Grande do Sul e muito acima da média nacional nos últimos anos. Dados do Serviço de Vigilância Epidemiológica da secretaria municipal da Saúde atestam que, desde 2004, a taxa de suicídios para cada 100 mil habitantes na cidade tem sido maior que as do Estado e do país. E nos 21 anos entre 1990 e 2010, essa taxa foi superior à de ambos em 13 ocasiões. 

Em 2010, último ano com coeficientes registrados em relatório da Vigilância Epidemiológica, a taxa chegou a 14 para cada 100 mil habitantes, enquanto o Rio Grande do Sul registrou 10 e o Brasil, cerca de quatro. Em 2012, segundo a secretaria municipal da Saúde, já ocorreram três suicídios entre janeiro e o final de maio.

A incidência média de suicídios na cidade tem crescido nas últimas duas décadas. Nos anos 90 a taxa foi de 10,24 para cada 100 mil habitantes. Nos anos 2000, passou para 11,21 a cada 100 mil habitantes, um aumento de 9,5%. Em números absolutos, o crescimento das mortes autoprovocadas foi da ordem de 33,7% nesse mesmo período. Os dados de 2011 para a cidade, porém, apresentam leve queda em relação ao ano anterior. Segundo a Vigilância Epidemiológica, em 2010 ocorreram 15 suicídios na cidade. Em 2011 foram 12 e 2012 pode apresentar uma queda ainda maior.

Em Bento Gonçalves, 18,9% das mortes por causas externas são casos de suicídio. O número é muito maior que a média nacional, de 6,4%, e um pouco maior que a estatística oficial gaúcha, de 15,4%. Entre todas as causas de morte no município, segundo a secretaria da Saúde, os suicídios figuraram entre a 5ª e a 15ª posição entre 1990 e 2010.

Segundo o coordenador da Vigilância Epidemiológica, José Antônio da Rosa, é possível prevenir o suicídio na cidade e a secretaria da Saúde tem trabalhado nisso. “A prevenção vai no sentido de encontrar a pessoa no momento pré-tentativa e buscar dissuadi-la do contrário”, afirma o coordenador.
 

Baixa reincidência

Os dois principais fatores de risco para o suicídio, segundo o Ministério da Saúde, são o histórico de tentativas anteriores e a existência de transtorno mental. Há ainda outras características comuns às pessoas que tentam matar-se (veja quadro). Em Bento Gonçalves, no entanto, é pouco frequente uma pessoa tentar o suicídio mais de uma vez. “A taxa de reincidência costuma ser bem baixa. Isso é pouco comum em Bento Gonçalves”, afirma o coordenador da Vigilância Epidemiológica. Segundo a secretaria municipal da Saúde, de 1998 a 2010, 12 suicidas, de 145 que tiraram a própria vida no período, já haviam feito uma tentativa anterior – e apenas um deles havia tentado mais de uma vez antes de consumar o suicídio. “Os casos de suicídio aqui são normalmente situações de depressão, doença terminal, problemas familiares ou no trabalho”, conta.


Tentativa e morte consumada têm dinâmicas diferentes

Casos de tentativas de suicídio e de mortes consumadas apresentam características bem diferentes, segundo o coordenador. Entre os que tentam o suicídio, mas não o consumam, as mulheres são maioria em Bento Gonçalves: representam 76% dos casos. Na maioria das tentativas, o método empregado é a intoxicação por medicamentos. “Quem tenta, quer chamar a atenção para algo que não está funcionando bem”, explica o coordenador. Conforme a Vigilância Epidemiológica, há cerca de 12 tentativas para cada suicídio.

Nos casos dos consumados, o enforcamento e o uso de arma de fogo são os principais métodos e as vítimas, em 82% dos casos, são homens. Dos três casos registrados em 2012, dois ocorreram por meio de enforcamento e um em decorrência de overdose de cocaína, segundo a Vigilância Epidemiológica. “É provável que as pessoas cometam mais enforcamentos por não ser tão comum ter armas de fogo em casa”, avalia.

 
Bairros

Os bairros residenciais com o maior número de casos de suicídio em Bento Gonçalves são o São Roque, Conceição e Borgo, além do distrito Vale dos Vinhedos. A faixa etária de 20 a 49 anos concentra 65,6% dos casos locais

CVV trabalha na preservação da vida

Às vezes uma boa conversa pode ser determinante para reverter uma situação que, de outra forma, poderia resultar em uma tentativa de suicídio. E quem está à procura de diálogo e precisando desabafar pode procurar o Centro de Valorização da Vida (CVV). A ONG trabalha no combate ao suicídio ouvindo o que têm a dizer as pessoas que estão pensando em tirar a própria vida.

No dia 21 de maio foi inaugurado o escritório do CVV em Caxias do Sul. Através do telefone (54) 3019 1141, os voluntários do CVV atendem a ligações de pessoas que precisam falar sobre problemas pessoais, conversam sem fazer julgamentos e instigam as pessoas a pensar melhor sobre o assunto. Todo o atendimento é feito de forma sigilosa. O serviço funciona diariamente das 7h30 às 18h. Quem quiser conhecer melhor o trabalho da ONG pode acessar o blog do CVV de Caxias do Sul na internet, no endereço http://cvvcaxias.blogspot.com.br.

 
Fatores de risco

Segundo a secretaria municipal da Saúde, pessoas com uma probabilidade maior de cometer suicídio apresentam diversas das características abaixo:

*Tentaram o suicídio no passado;

*Têm histórico de suicídio na família;

*Têm uma arma de fogo em casa;

*Consomem álcool e/ou abusam de outras substâncias;

*São deprimidas;

*Sofreram violência sexual;

*Estão sofrendo de estresse incomum;

*Passaram algum tempo na prisão;

*Têm algum problema de saúde;

*São idosas que estiveram hospitalizadas nos dois últimos anos;

*Mudam de endereço com frequência e, por isso, não criam vínculos sociais;

*Não têm bom nível de comunicação entre pais e filhos;

*Têm a sensação de isolamento social.

Fonte: Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde

 
Dados do Ministério da Saúde

Segundo o Ministério da Saúde, o número de suicídios é “frequentemente subestimado”. Isso porque fatores sociais, políticos, estigmas e regulações de agências seguradoras interferem têm influência no momento do registro dos casos. Cerca de 20% a 25% dos casos entre idosos e de 6% a 12% das mortes autoprovocadas em outras faixas etárias não são informados como suicídios. Somente 25% das tentativas de suicídios resultam em procura de atenção médica, tornando as estatísticas ainda mais nebulosas. No Brasil, segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), 10% das mortes são registradas como “óbitos por causas externas de tipo ignorado”.

 
Reportagem: Eduardo Kopp

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