Besta!

A besta, inicialmente, era uma arma antiga, que misturava um arco e flecha às armas com empunhadura e gatilho. Era uma arma que tinha um arco com cordas presas às duas pontas, que arremessava a flecha não quando se tracionava ela, mas por meio de um gatilho que acionava o arremesso. Não me parece ter sido algo muito conhecido ou utilizado. Afinal, era uma besta…

Por outro lado, a besta, no pejorativo, sempre foi aquela pessoa desprovida de inteligência, ou que dela se utilizava pouco ou, ainda, que a usava para fazer pouco dos demais. Originária da cruza entre animais de diferentes espécies, a besta (ou mula, que também são o feminino do burro) nasce estéril, já que híbrida e, como não serve para procriação, é normalmente utilizada para cargas.  

Engraçado ou não, a verdade é que para que haja uma besta, é sempre necessário que haja um animal “puro”, que faz parte da verdadeira espécie. Dele surgiria um animal inferior, incapaz de reproduzir, hábil somente a realizar serviços pesados. 

Será? Será que é esse mesmo o ser inferior? Será que esse é mesmo a besta? Será que esse ser “inferior” seria o “burro”? E agora, sim, falo naquele ser desprovido de inteligência… Ou será que, por não poder reproduzir, ele seria o final da cadeia, o animal mais evoluído da espécie? Afinal, não precisaria ele prosseguir com seu legado?! A raça pura dirá: mas ele é a besta! Ele é inferior! Ele não precisa reproduzir, já que sua espécie é inferior. E não precisamos que as raças inferiores se perpetuem. 

Quem garante que não é a besta que está dizendo: vamos deixar que os outros seres sintam-se superiores, já que são eles que nos dão a vida, e acreditam que nós só servimos para fazer o trabalho pesado. Afinal, nós estamos aqui para mostrar a eles que precisam se comparar com algum ser que consideram inferior para se sentirem melhores quando, em verdade, nós somos o final da cadeia evolutiva. Nós, que entendemos o propósito de servir, não precisamos mais prosseguir na cadeia evolutiva através da perpetuação da espécie. Nós, os burros, as mulas, as bestas, somos, sim, melhores, quase perfeitos. 
Analisando assim, penso que, quando me fazem de burro, o burro, na verdade, não sou eu. Cada dia mais eu entendo o propósito do ser humano, que é servir. Ou acho que entendo…

Renato Russo, em uma letra chamada “Quando eu estiver cantando/Endless Love”, que atribui à última música do último lado do último disco do Cazuza, diz que canta para se mostrar de besta. Pois bem, eu escrevo para me mostrar de besta!

Até a próxima!
 

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