Biólogo de Bento faz registro histórico de desova de tartaruga-gigante no Litoral Norte 

É costume para o professor de biologia do Colégio Mutirão e presidente da AAECO de Bento Gonçalves, Willian Lando Czeikoski, passar as férias em Arroio do Sal, no Litoral Norte do Estado. Mas neste ano, a temporada foi marcada por uma atração especial. Na noite de segunda-feira, 11/01, enquanto caminhava pela beira-mar, Czeikoski se deparou com uma tartaruga-de-couro, mais conhecida como tartaruga-gigante, espécie ameaçada de extinção. A presença de um dos maiores répteis do mundo nas praias do RS já é algo inédito, ainda mais quando a espécie escolhe o território para fazer o processo de desova.  “Na hora entendemos que não era algo comum. É difícil ter processo de desova no estado, porque as águas são mais frias e as areias são mais frias e compactas, isso influencia na formação e na eclosão dos ovos. Pode ser que a tartaruguinha não consiga sair dos ovos porque ela fica muito compacta na areia”, explica. 

De imediato, o biólogo entrou em contato com grupos de biólogo do país e professores da Universidade de Caxias do Sul (UCS), para obter mais detalhes sobre a espécie. Além disso, Czeikoski ficou por cerca de duas horas acompanhando a tartaruga, para saber exatamente onde ela colocaria os ovos. “Ela fez de dois a três buracos, segundo especialistas para despistar predadores. O terceiro buraco ela fez em uma duna mais alta, foi ali que ela colocou os ovos”, relata. 


 

Na terça-feira, 12/01, o biólogo acionou os órgãos competentes. À tarde, uma equipe do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) foi até o local. O espaço foi demarcado para garantir a segurança dos ovos e três deles foram coletados para acompanhamento em laboratório. “Esses ovos serão mantidos nas mesmas condições daqueles deixados na areia. A partir do momento que eles começam a romper a casca, aí os profissionais levam para a praia e analisam no local, acompanhando o momento da eclosão. Ali se consegue limitar a passagem de pessoas e garantir a segurança das tartarugas”, explica o biólogo. 


 

Após contato com especialistas, o biólogo foi informado que esse foi o segundo registro de desova de uma tartaruga-gigante na história do Rio Grande do Sul. O primeiro teria sido em 1995, na praia de Paraíso, em Torres. 

Instruções aos banhistas

O local exato onde a tartaruga fez a desova já está demarcado e a principal orientação é que as pessoas não passem daquela barreira. Ao longo dos próximos meses – o rompimento dos ovos começa em cerca de 60 dias, mas pode chegar a 90 –  Czeikoski e demais biólogos estarão acompanhando de perto, para garantir a segurança dos ovos. Mas o professor alerta que a tartaruga pode retornar ao local para fazer mais uma desova. “A pessoa não precisa entrar em pânico. Também é recomendado que não se coloque tanta luminosidade e que não se faça muito barulho, além de não tocar no animal. Pode acompanhar, mas de longe”, ressalta. Outra orientação é sempre chamar os órgãos competentes, para que seja feito o registro e o acompanhamento. 


 

Agora, Czeikoski revela que pedirá para participar do trabalho científico, que terá o objetivo de entender o porquê das tartarugas dessa espécie estarem depositando seus ovos nas praias do RS. 
“Para mim, como professor de biologia e presidente da AAECO, é sensacional, porque tu está vendo uma coisa inusitada. E é algo que a gente ama, que a gente luta para preservar. Não tive como conter as lágrimas”, revela o biólogo. “E para a ciência é muito importante… entender por que esses bichos talvez estejam procurando nossas praias para desova. As tartarugas são extremamente importantes para a cadeia alimentar. Infelizmente está tendo muitas mortes por conta do lixo, porque elas acabam comendo sacolas plásticas achando ser águas-vivas. Então a importância de preservar essas espécies é ainda maior”, finaliza.  

Fotos: Divulgação/Willian Lando Czeikoski