Bombeiros do RS atenderam pelo menos 50 engasgamentos de crianças neste ano
O engasgamento de crianças, principalmente de recém-nascidos, é uma ocorrência frequente entre equipes de salvamento, como Bombeiros e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). De acordo com dados do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, cerca de 50 ocorrências do tipo foram atendidas no Estado desde o começo do ano. Em Bento Gonçalves, 6 crianças precisaram ser socorridas no ano passado. Neste ano, dois bebês também entraram para a estatística, além de 1 crianças atendida pelo SAMU. Em Veranópolis, uma criança foi atendida em 2020. Já em Garibaldi, de acordo com dados dos Bombeiros Voluntários, 8 crianças sofreram engasgamento neste ano e precisaram de ajuda da corporação. Dessas, 3 foram auxiliadas por telefone e, depois, receberam o auxílio presencial e 5 já haviam sido socorridas pelos pais e foram levadas pelos bombeiros ao hospital.
Entretanto, o sargento Guerra, da corporação de Bento Gonçalves, alerta que o número pode ser bem maior. “Muitas ocorrências acabam não chegando até nós, porque alguns pais não têm o impulso de ligar para pedir uma orientação. Também há o fato de que, na hora de inserir no sistema, às vezes o pessoal acaba enquadrando como outro tipo de ocorrência, que não engasgo”, explica.
O engasgamento é frequente em bebês recém-nascidos e em crianças de até 2 anos, que ainda estão passando pela fase de amamentação. De acordo com o sargento, nesses casos é essencial que os pais monitorem frequentemente a criança, seguindo dicas de médicos pediatras, como incentivar o arroto após a alimentação. “Na hora de deitar a criança, os pais têm que pensar que pode acontecer o refluxo, a criança vir a vomitar e, ao mesmo tempo, fazer o engasgo. Por isso é importante deixar a cabeça um pouco elevada. Durante a amamentação, a narina não pode ficar obstruída e a mãe deve sempre ficar olhando para a criança, a fim de identificar sinais do engasgo”, alerta.
Entretanto, mesmo com alguns cuidados, os engasgamentos acabam sendo frequentes. Dessa forma, é importante que os pais e/ou responsáveis saibam como agir diante dessa situação. De acordo com o sargento, a primeira e mais importante recomendação é ligar imediatamente para os Bombeiros (telefone 193) ou para o SAMU (192) e, em seguida, iniciar os procedimentos de primeiros socorros. “Temos o engasgo parcial, quando a criança ainda está respirando, e o engasgo total, quando ela para de respirar, mas ainda está consciente. No primeiro caso, o indicado é fazer com que a criança tussa cada vez mais”, explica.
Escolas precisam estar preparadas
Desde 2018, o Brasil conta com a Lei Lucas, que tem o objetivo de proteger crianças do ensino infantil de acidentes como o engasgamento. A legislação torna obrigatória a aplicação de cursos que preparem os professores e funcionários de escolas públicas e privadas para prestarem primeiros socorros aos estudantes.
Como agir em caso de engasgamento?
Engasgo total, quando a criança ainda está consciente:
“Os pais devem sentar e colocar a criança no antebraço, em uma inclinação de 45 graus. Aí a criança deve ser colocada de cabeça para baixo no joelho, como apoio, e os pais devem dar 5 tapas com o calço da mão, entre as escápulas, perto do pescoço, deixando a boca da criança aberta. Depois, ela deve ser virada para o outro lado e os pais devem fazer 5 compressões, a chamada massagem cardíaca, só que com apenas dois dedos, não a mão inteira. A massagem deve ser feita entre os mamilos da criança”, explica o sargento.
Engasgo total, quando a criança está inconsciente:
Se a criança não voltar a respirar depois desses procedimentos, é necessário adotar novas medidas de socorros. “Se ela começar a ficar mais mole e com a boca roxa, aí significa que ela está entrando na fase da inconsciência. Antes ela estava em uma parada respiratória, agora está entrando em uma cardiorrespiratória”, complementa.
Nesse caso, a criança deve ser colocada em uma superfície rígida. “Os pais devem fazer 30 compressões no mesmo lugar, entre os mamilos, e 2 ventilações, o famoso boca a boca. Deve ser enchida somente um pouco da bochecha, porque os bebês têm um pulmão bem menor. Aí faz as 2 respirações, pegando a boca e o nariz da criança”, explica.
Em todos os procedimentos, a principal recomendação é ter calma. “Às vezes a pessoa fica muito ansiosa e não consegue fazer. Em uma ocorrência que eu atendi eram o pai e a mãe, mas a mãe não conseguiu fazer, de tão nervosa. Aí ela passou as orientações para o pai fazer. Foi então que a criança começou a voltar. São procedimentos que realmente salvam vidas”, afirma.
Ainda segundo o sargento, em nenhum momento é recomendado que a criança seja sacudida, apesar de ser um impulso dos pais. Devido à sua estrutura ainda frágil, isso pode ocasionar lesões no bebê.
Na fanpage do SERRANOSSA você encontra as orientações em vídeo.
Situações recorrentes
Vários casos recentes ocorreram em cidades do Estado e foram noticiados pelo SERRANOSSA. Um deles foi o de Valenthina Ferrarez, de 6 anos. A menina, que tem necessidades especiais, engasgou após uma crise convulsiva no dia 13/05. Os pais realizaram os primeiros socorros em casa e pediram ajuda aos policiais do Pelotão Rodoviário da Brigada Militar de Encantado, que faziam uma fiscalização na ERS-431, para que Valenthina pudesse chegar mais rápido ao hospital. Na manhã de domingo (31/5), os policiais foram surpreendidos com uma visita de agradecimento da família. A história de superação da menina foi contada pelo SERRANOSSA em 2014, quando a família morava em Bento Gonçalves.
Portão
Na noite de terça-feira (26/05), o soldado Eldson, do Grupo Rodoviário de Portão, foi surpreendido por uma mãe que estava desesperada e pediu ajuda ao policial, às margens da ERS-240, pois seu bebê encontrava-se em casa engasgando e com dificuldades para respirar. O policial militar informou a sala de operações e solicitou que fosse efetuado contato com os bombeiros para que procedessem o resgate da criança. Ao chegar à residência, ele encontrou o recém-nascido, de 12 dias, com a face roxa e as vias aéreas obstruídas. O policial efetuou as manobras para desobstrução e o pequeno Gabriel retomou a respiração normal. O bebê foi encaminhado ao hospital de Portão pelos bombeiros. A mãe, Mariana, e o pai, Fabrício, compareceram na sexta-feira (29/05) no Grupo Rodoviário de Portão para que a família pudesse conhecer o policial que salvou a vida de Gabriel.
Canela
Por volta do meio-dia do dia 12/04, policiais realizavam patrulha nas ruas centrais de Canela quando foram surpreendidos por pessoas que pediam socorro de dentro de um carro. Assim que o veículo parou, um recém-nascido, com três semanas de vida, foi entregue aos policiais, que iniciaram, imediatamente, a massagem que fez com que o bebê voltasse a respirar. A criança foi encaminhada para o hospital, onde recebeu atendimento médico. Mais tarde, os PMs retornaram ao hospital para reencontrar o recém-nascido salvo de um engasgamento e registraram o momento. Este foi o quinto caso em Canela, somente neste ano.
Santo Antônio da Patrulha
A Brigada Militar de Santo Antônio da Patrulha recebeu um chamado pelo 190 na noite da segunda-feira (18/5) para atendimento a um bebê de apenas três dias de vida que estava engasgado com o leite materno, na cidade de Rolante. Após despachar uma guarnição para a residência da família, o soldado Rodrigo Slobodniuk, que estava na sala de operações, permaneceu no atendimento pelo 190, passando orientações para o procedimento da manobra de Heimlich, utilizada para a desobstrução das vias aéreas em casos de asfixia por objetos ou alimentos. Quando a viatura chegou ao endereço, o bebê já havia voltado a respirar normalmente, graças à manobra ensinada por telefone pelo policial militar. Ainda assim, os pais e a criança foram levados em ambulância dos Bombeiros até o hospital para avaliação médica no recém-nascido.
Fotos: Eduarda Bucco e Divulgação