Bombeiros treinam cães para salvamento

Uma turma de quatro patas – e muita fofura – promete ser o mais novo reforço dos Bombeiros de Bento Gonçalves. Os labradores Jade, de 10 meses (cor caramelo), Billy e Xena, de 6 (cor chocolate), e Wolf, um pastor belga groenendael preto, de 7, estão em treinamento para atuarem como cães operativos. O processo deve levar de seis a sete meses para ser concluído. Se considerados aptos  e passarem no teste de certificação ao final do adestramento, eles auxiliarão em ocorrências de busca e salvamento de pessoas em toda a área de abrangência do 5º Batalhão de Bombeiros Militar (5º BBM).

  

“Eles estão sendo preparados através de atividades práticas tanto no canil, integrado ao Centro de Treinamento dos Bombeiros, quanto em terrenos nas imediações. O objetivo é que eles estejam capacitados para fazerem buscas em matas, áreas rurais ou em ocorrências na zona urbana, como desabamentos”, explica o soldado Thiago Hiuri Jardim Brasil, que trocou o trabalho no policiamento ostensivo da Brigada Militar para atuar como adestrador. 

Os cachorros recebem trato diário e os treinos específicos acontecem individualmente duas vezes por semana, em média. Uma das atividades tem como objetivo principal fazer com que eles se socializem com o ambiente, seja um terreno baldio ou um espaço com várias pessoas. “Eles são craques no faro, mas, se não estiverem familiarizados, a chance de perderem o foco e se desconcentrarem é grande. Em uma situação que envolve uma vítima em risco de vida, isso pode ser crucial. Por isso, é importante que nessa fase eles sejam socializados em diferentes cenários”, explica.

Estrutura

O canil está em fase final de construção e foi montado no terreno onde funciona o Centro de Treinamento dos Bombeiros da Serra Gaúcha, no bairro Cohab. O espaço tem capacidade para abrigar até seis cães e conta com pista de obstáculos (salto, subida em rampa, gangorra e túnel), e sala para armazenamento de ração e insumos, almoxarifado e para atendimento veterinário. O projeto seguiu um modelo de canil básico, mas poderá ser adaptado com base nos novos conhecimentos obtidos pelos bombeiros que participaram do curso em Xanxerê (veja quadro). “Temos uma normativa interna utilizada pelo grupamento de Porto Alegre – o único que já utiliza cães em resgate no Estado –, mas percebemos que algumas características do modelo adotado em Santa Catarina podem ser aplicadas também no Rio Grande do Sul”, comenta o major Sandro Carlos Gonçalves da Silva, comandante dos Bombeiros de Bento Gonçalves.

De acordo com o major, a ideia é expandir a iniciativa e investir na qualificação e na formação de novos cinófilos para que, a exemplo do Centro de Treinamento, o canil se torne referência no Estado. “Estamos nos estruturando e tentando adaptar a realidade local com o que aprendemos no curso. Há muito que ser feito, mas também muita vontade de fazer. Inclusive contamos com o apoio da comunidade. Quem de alguma forma puder colaborar, será muito bem-vindo”, convoca o major.

O curso

    Nas últimas semanas, os “irmãos” Xena e Billy, dois labradores cor chocolate e os mais novos da turma, acompanharam o 3º sargento Alberton e o soldado Derli no disputado curso de cinotécnico realizado pelo Corpo de Bombeiros de Xanxerê (SC). A cidade é considerada referência nacional na utilização de cães para salvamento.

    Mais de cem candidatos se inscreveram para participar do projeto, dos quais apenas 40 conseguiram vaga, vindos dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Paraná, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Amapá. O curso certifica binômios (cão e homem) e simula ocorrências reais em casos de pessoas desaparecidas ou até mesmo em resgates em áreas urbanas e rurais. Os conhecimentos obtidos a partir da participação no curso serão adaptados para a realidade local. “Os cães são muito mais rápidos que o homem e são uma ferramenta imprescindível quando o assunto é resgate. Durante as simulações, chegamos a presenciar cães fazendo salvamento de cinco vítimas em sequência”, diz o 3º sargento Alberton. Com 28 anos de corporação, ele foi homenageado como o bombeiro mais experiente a participar do treinamento. Foram 150 horas/aula, com duas saídas a campo, uma de 6km e outra de 10km. Tudo com a companhia dos cães que, inclusive, dormiram na mesma barraca.

    “Nos chamou a atenção a forma como eles trabalham. Por lá as buscas começam imediatamente, mesmo se for à noite, e seguem até a pessoa desaparecida ser encontrada, enquanto por aqui a prioridade é para operações à luz do dia”, cita Alberton como exemplo.